O Cruzeiros do Norte levou o colorido e a vibe do Carnaval pela terceira vez à praia da Lajinha, mas, segundo o presidente Jailson Juff, o grupo vai repensar a continuidade desse evento pelos custos cada vez mais avultados que acarreta e que se esbarram nos escassos apoios para a sua realização. Mesmo agradado com a qualidade do evento, Juff, como é conhecido, diz que o grupo enfrentou sérias dificuldades para colocar os 300 foliões, as alegorias e o trio eléctrico no areal da famosa praia da cidade do Mindelo ontem à tarde.
“O desfile foi um sucesso em si, mas não foi fácil a sua organização. Acho que temos de repensar a organização deste evento, se propomos que seja assumida pela Ligoc-SV ou pela Camara Municipal de S. Vicente e que consigam fazer um show ainda mais forte, com o envolvimento de todos os grupos oficiais”, comentou o dirigente do Cruzeiros do Norte após o encerramento do desfile, que arrancou às cinco e meia e terminou uma hora mais tarde. Na sua perspectiva, o Cruzeiros já demonstrou que é possível realizar esse carnaval de verão e que esse evento pode ser um cartaz turístico e ambiental.
Jailson Juff confirma que o grupo fez um orçamento de dois mil contos para o chamado Desfile Reciclado, por usar trajes confecionados apenas com lixo. Afirma, entretanto, que não atingiram nem metade desse montante. “Mesmo assim viu-se o resultado do empenho dos nossos trabalhadores e foliões”, salienta o presidente do grupo da zona de Cruz João Évora, que agradeceu, entretanto, as empresas e instituições que têm estado com o projecto.
A iniciativa, que vai na terceira edição, tem contado, entretanto, com o apoio do Ministério do Mar, que, segundo o ministro Abraão Vicente, tornou-se num parceiro firme pelo teor cultural e ambiental associado ao projecto. “temos sido um parceiro do Cruzeiros do Norte, um grupo que, à parte do desfile oficial, tem demonstrado uma preocupação ambiental fortíssima. No ano passado participamos nas campanhas de limpeza e mais uma vez estamos com esta iniciativa, que queremos ver institucionalizada como um carnaval de verão, que pode servir como cartaz cultural e repassar mensagens de preservação ambiental para toda a gente”, comenta o governante, que fez questão de ir ver o desfile.
Para A. Vicente, o facto de o desfile usar apenas trajes e alegorias com material reciclado aumenta a importância do projecto. Aliás, diz que o envolvimento de mais foliões no desfile deste ano demonstra a seriedade e importância do evento.
Cerca de trezentos foliões foram distribuídos por quinze alas estruturadas como se fosse um desfile normal, com comissão de frente, porta-bandeira e mestre sala, batucada com a respectiva rainha da bateria, ala de passistas, alegorias e trio eléctrico. Rui do Rosário, director de Harmonia do CN, explica que a comissão de frente representa a economia marítima, associada ao envio dos tambores d´encomenda do estrangeiro para as famílias em Cabo Verde. Logo a seguir, a porta-bandeira e mestre-sala a liderar uma ala denominada “boia d´salvação”, que tanto representa o salvamento de pessoas no mar como o resgate do próprio planeta Terra.
O enredo contou ainda com a representação da pirataria marítima, uma actividade que vem de tempos idos e que continua na era actual, os poderosos navios de guerra, passistas inspiradas nas havaianas do Havai, a mitologia, a dessalinização da água do mar, a transformação do pescado, a biotecnologia azul e uma homenagem à regata Ocean Race. Enfim, como enfatiza Rui do Rosário, o desfile reciclado foi todo inspirado na economia azul. E, para ele, o evento demonstrou que é possível transformar o lixo em luxo.
Bastante animados durante todo o desfile, os foliões Daniel Vitória e Ivone Mendes confessaram ao Mindelinsite que toda essa sensação de alegria tem a ver com a paixão pelo carnaval, a característica do desfile e o facto de acontecer em pleno verão na praia da Lajinha. “Estamos aqui nesta linda praia com a cara voltada para o Monte-Cara, o que mais podemos pedir?!”, exprimiu Ivone Mendes, que enaltece ainda o facto de toda a indumentária resultar do lixo. Interpretação muito parecida tem Dany, para quem o desfile é educativo e demonstra a preocupação com o mar numa das praias mais emblemáticas de Cabo Verde. O resultado de tudo isso, diz, é uma boa energia.
