Quatro espaços comerciais – três situados em Monte Sossego e um na vila Kolá San Jôn, na Ribeira d’Julião – foram alvo de assalto anteontem à noite na ilha de S. Vicente. Em dois dos casos, os gatunos foram filmados pelas câmaras de segurança e fica claro que trajavam roupas escuras, usavam capacete/chapéu para cobrir o rosto e luvas.
Em três situações, os meliantes usaram a violência contra os espaços – um minimercado, um talho e uma boutique – tendo partido vidros e forçado a entrada com recurso a uma barra de ferro. Porém, o episódio mais grave ocorreu num minimercado situado no condomínio Vila Kolá San Jôn, na Ribeira d´Julião, onde os assaltantes invadiram o estabelecimento, ameaçaram de morte dois funcionários e agrediram um deles a pontapés, a ponto de ter sido levado para o hospital pelos bombeiros municipais com dores pelo corpo.
Neste caso, os meliantes usaram uma pistola e uma catana para renderem a funcionária da caixa e um colega, quando não estava nenhum cliente no minimercado. Após invadirem o estabelecimento, um deles colocou a arma de fogo na cabeça da caixa, enquanto o outro obrigou o segundo funcionário a deitar-se no chão com a cara para baixo, sob ameaça da catana.
“Fiquei assustada quando vi as imagens das câmaras de videovigilância. Parecia cena de filme”, comenta a empresária Nádia Cândido, proprietária da loja de conveniência N&N, que estava em casa de baixa médica quando foi informada do sucedido. Para ela, o mais importante é que os funcionários escaparam com vida porque o caso poderia ter um desfecho dramático se os meliantes resolvessem usar a pistola e a catana.
Lamenta, mesmo assim, a atitude que tiveram de agredir a pontapés o funcionário que estava deitado passivamente no chão, antes de fugirem. “Ele não reagiu em nenhum momento. Aliás, os dois funcionários seguiram o meu conselho para não reagirem em caso de assalto. Posso recuperar o dinheiro perdido, mas não posso restituir-lhes a vida”, frisa a comerciante, que enaltece, entretanto, a coragem da funcionária da caixa, que manteve o sangue-frio apesar de ter uma pistola apontada à cabeça.
“Acho que eu iria sofrer um desmaio porque é uma situação que ninguém gostaria de enfrentar”, comenta Nádia Cândido. Adianta esta comerciante que a jovem aproveitou o momento em que os dois criminosos foram ter com o colega estendido no chão para fugir. E ela saiu no instante em que um amigo chegava no local de carro. Entrou na viatura, zarparam logo e acionaram a Polícia Nacional.
As imagens gravadas pelos vídeos mostram a chegada dos meliantes numa moto, depois a entrarem armados e a fugir de seguida. Os dois estavam trajados com roupas escuras, luvas e capacete. Enfim, disfarces para dificultar ao máximo a identificação. Levaram cerca de 60 contos em dinheiro, além de garrafas de bebidas alcoólicas. Quanto aos outros danos, hoje os funcionários serão avaliados por uma psicóloga para saber como ficaram afectados por esse episódio. Além do mais, a gestão do minimercado decidiu passar a fechar a loja mais cedo, o que vai afectar a vida dos clientes dessa área que costumavam fazer as compras a partir das 19 horas.
Quase 30 minutos a “pescar” pacotes de fralda e pensos higiénicos
Nessa mesma noite, cerca de nove horas depois, três homens também trajados com roupas escuras, chapéu e luvas decidiram quebrar o vidro de uma janela do minimercado Nôs Cistim e “pescar” a partir da rua vários pacotes de fraldas descartáveis, toalhitas e pensos higiénicos, avaliados em mais de 40 contos. Para o efeito, usaram um pau com prego na ponta.
O mais curioso neste caso, segundo a proprietária Mónica Graça, é que demoraram quase 30 minutos e a Polícia Nacional não apareceu, apesar de uma vizinha ter feito três chamadas para a esquadra, que fica a três ruas de distância do local.
“Para mim isto é incompreensível. E, quando estive na Esquadra de Monte Sossego, o policial que me atendeu disse que competia à brigada de Piquete agir. Fiquei pasma”, conta a empresária, que ficou ainda mais indignada porque, diz, enquanto estava a conversar com o agente conseguia ouvir as várias comunicações via rádio entre os policiais. Logo, para ela, alguém certamente ouviu essa informação, mas ninguém apareceu para capturar os gatunos em flagrante. Além do mais, acrescenta, há uma câmara de videovigilância perto da rua onde fica o seu estabelecimento.
Para Mónica Graça, os assaltantes tinham uma viatura de suporte. Uma conclusão que para ela é lógica tendo em conta a quantidade de pacotes que apanharam. Este é o segundo assalto ocorrido nessa loja. O primeiro aconteceu em 2021, quando um indivíduo resolveu esconder algumas latas de atum na calça. Mónica Graça apresentou queixa, mas até hoje não obteve nenhuma informação sobre o caso.
Tanto Mónica Graça como Nádia Cândido tiveram conhecimento de outras duas ocorrências parecidas de madrugada em Monte Sossego. Como relatam, uma boutique e um talho foram alvos de tentativa de assalto. Nestes casos, os meliantes quebraram vidros, mas não conseguiram entrar nos estabelecimentos. Levaram, no entanto, a câmara de videovigilância da boutique como “recordação”.