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Cultura

Constantino Cardoso, um compositor que reúne vivências, criatividade e originalidade para compor músicas do Carnaval

É o compositor mais premiado do Carnaval de São Vicente, mas também das outras ilhas. Constantino Cardoso, que já acumula duas dezenas de troféus de melhor música, transfere vivência da festa do Rei Momo, capitalizando a sua criatividade, originalidade e capacidade de retratar e brincar com a sociedade cabo-verdiana. Para o Carnaval de 2023, o artista versátil volta a assinar o hino do grupo Monte Sossego, e também trabalhou, junto com Vlú e Anisio Rodrigues na música que o Samba Tropical vai levar para as ruas do Mindelo, no desfile de segunda-feira do Carnaval. 

Em jeito de justificação para este amor pelo Carnaval, Constantino Cardoso diz que nasceu e cresceu na zona do Lombo, onde o conhecido Ti Goi morava e tinha o grupo Lombianos. “Com 11 anos desfilei no grupo, naquela que foi a sua última aparição. Mas frequentava os ensaios e, naquela altura, os grupos faziam “tralhas de Carnaval”, que no fundo era um baile. Pagávamos para entrar e dançar durante uma hora, depois saíamos para voltar a entrar. Era uma forma de angariar fundos. Cresci com esta vivência e sempre gostei do Carnaval”, conta, realçando que também apreciava o Carnaval espontâneo.

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Gostava de preparar os meus trajes e sair pelas ruas de morada. Uma vez fui ao Madeiral buscar um burro para desfilar. Fiz um traje de saco similar aos dos índios e desci arrastando o burro. Foi muito cansativo e, para piorar, este recusou andar no alcatrão. Tentei de tudo, mas o animal empacou. Fiquei com o meu carnaval meio perdido naquele ano por causa da teimosia do burro”, reforça.

Constantino Cardoso lembra ainda que, enquanto integrante do conjunto Wings, tocavam nos bailes de Carnaval do Castilho, Nhe Miguilim e outros. As vezes o próprio conjunto Wings organizava os seus bailes nos recintos em São Vicente. “Foi nesta altura que comecei a compor músicas do Carnaval porque constatei que havia alguma insuficiência. Era sobretudo o Vlu que compunha as músicas de todos os grupos, que muitas vezes eram obrigados a ficar a aguardar, o que muitas vezes atrasava os preparativos. Fiz a minha primeira composição em 2003, naquela de dar o meu contributo”.  

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De acordo com este compositor, Mindelo foi eleito Capital Lusófona da Cultural neste ano e resolveu escrever uma música alusiva, para o grupo Monte Sossego. “Gravei a música e levei para o então presidente Zeca, que estava ainda à espera de uma resposta do Vlu. Ouviram e gostaram da minha composição, que foi eleita a melhor música do Carnaval. Foi a minha primeira música e meu primeiro prémio. Foi um incentivo para continuar. Desde então, tenho feito música todos os anos.”

Rainha e bateria de Monte Sossego

Já no ano seguinte, prossegue, foi contactado pelo grupo Brincalhões do Mindelo” para fazer a sua música, que foi depois gravado por Cesária Évora. “Depois todos os grupos passaram a pedir-me para fazer as suas composições. Houve anos que fiz músicas para todos os grupos de São Vicente: Samba Tropical e os quatro oficiais. Compus ainda um tema para o Hospital da Ribeira Grande em Santo Antão e para os grupos da Praia. Falam comigo sobre os temas e tenho liberdade de criação. Faço as minhas pesquisas para poder trabalhar com segurança”, enfatiza.

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Fo com esta segurança que, em 2020, último ano do Carnaval antes da pandemia, da Covid-19. Na altura, ganhou melhor musica do Carnaval de São Vicente, Boa Vista, Praia e Sal. “Gosto de fazer músicas de Carnaval. No fundo, a minha motivação é dar o meu contributo e ajudar naquilo que posso. As vezes os grupos dizem que faço as melhores músicas para o Monte Sossego. Nada disso, sempre me entrego de igual para qualquer grupo. Tento sempre dar o meu máximo para fazer o melhor possível. As vezes consigo fechar uma composição rápido, outros vezes demora semanas.”

E o resultado está a vista: 12 prémios de melhor música do Carnaval em São Vicente, quatro na cidade da Praia, um no Sal e um na ilha da Boa Vista.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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