CV Interilhas antecipa viagem e “esquece” Juventude em Marcha e outros passageiros em SV: “Estamos a viver em plena anarquia”
A CV Interilhas, concessionária dos transportes marítimos em Cabo Verde, decidiu, sem avisar os passageiros, antecipar a viagem São Vicente – São Nicolau das 16h30 para as 2 horas de madrugada de ontem, segunda-feira. Com esta decisão, a empresa deixou em São Vicente alguns passageiros, incluindo o grupo teatral Juventude em Marcha, que tinha agendado dois espetáculos na ilha de Chiquinho para os dias 9 e 10 do corrente, obrigando este último a cancelar os shows. “Estamos a viver em plena anarquia”, desabafou o actor Jorge Martins, que promete accionar os mecanismos legais para fazer valer os direitos do grupo.
Num desabafo na sua página no Facebook, Jorge Martins informa que não foi uma negociação fácil para que as partes chegassem a um entendimento para que o grupo teatral Juventude em Marcha pudesse se deslocar à ilha de São Nicolau, com viagem confirmada para as 16h30 de ontem, para realizar dois espectáculos nos dias 9 e 10, nas cidades do Tarrafal e da Ribeira Brava. Assinaram um contrato preterindo outros compromissos.
“A companhia teatral Juventude em Marcha viajou ontem no navio Mar d’Canal de Santo Antão para São Vicente e, de acordo com o itinerário e com os bilhetes na nossa posse, a saída para São Nicolau seria às 16h30, no navio Interilhas”, detalha.
Em São Vicente, prossegue Jorge Martins, foram informados por terceiros que o barco Interilhas havia partido às duas horas de madrugada para São Nicolau sem que tivessem comunicado ao grupo ou organização da antecipação da viagem. “Contactamos a agência em S. Vicente para inteirarmos da veracidade dos factos. Num primeiro momento, no atendimento, informaram-nos que a viagem tinha sido adiada para as 19 horas, altura em que, provavelmente, este serviço estaria fechado para não ser confrontado com a situação. Mais tarde, veio a supervisora comunicar-nos que a viagem, a final, tinha sido efectuada às duas horas da madrugada”, desabafa.
Um constrangimento que, segundo o líder do Juventude em Marcha, o leva a concluir que se está a viver numa anarquia jamais vista em Cabo Verde, em que ninguém é responsabilizado ou chamado a atenção por aquilo que, premeditadamente, de mal ou errado faz. “A única esperança que temos é que existem órgãos competentes com poderes especiais para dirimirem esses conflitos. E vamos acionar todos os mecanismos legais ao nosso dispor para fazer valer os nossos direitos, responsabilizando-se aos prevaricadores de todos os transtornos morais, psicológicos e financeiros que nos causaram. Deixar este caso passar despercebido ou impune é como se estivéssemos a apoiar a falta respeito e de profissionalismo que já tomou conta de certos servidores públicos”, assegura.
Este termina pedindo sinceras desculpas ao povo de São Nicolau que, afirma, sempre respeitou e acarinhou o grupo. Par ele, ocorrreu um acto gravíssimo, mesquinho e discriminatório, não só para com o público que já havia adquirido o seu ingresso dos espetáculos, como também para com o Juventude em Marcha, à organização dos espetáculos e demais passageiros que ficaram retidos no cais de cabotagem do Porto Grande, com sérias consequências para as suas vidas e suas actividades.
Da parte da CV Interilhas, o responsável das operações explica que a alteração das viagens para a ilha de S. Nicolau foi feita há cinco dias e a empresa tentou contactar todos os passageiros para informá-los do novo horário. “Mudamos a nossa programação e enviamos mensagens para todos os passageiros. Isto porque estivemos muito tempo com o navio Interilhas avariado e acumulou carga para São Nicolau. Com isso, ao invés do navio fazer a rota São Vicente-São Nicolau–Sal-Boa Vista, optamos por fazer SV-SN para levar carga, retornamos ao Porto Grande para receber mais carga e seguir para Sal, Boa Vista e Praia. Esta foi a razão da alteração do horário. E informamos os passageiros”, diz Carlos Dias.
Confrontado com o facto do grupo JM não ter sido informado, Dias alega que muitas vezes os passageiros não fornecem os contactos correctos e acabam por ocorrer situações destas. Instado se não seria mais viável fazer avisos na Rádio, Dias afirma que é costume contactar os passageiros, através de mensagens personalizadas, pelo que não há necessidade de maior publicitação. “Só fazemos publicitação nos casos de avisos públicos. Neste caso são informações aos passageiros. As pessoas são avisadas directamente. Agora, não sei porque razão a mensagem não chegou ao grupo”, acrescentou este responsável, que promete se inteirar dos factos e ver o que ainda é possível fazer.