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CVI decide devolver navio Interilhas por estar “demasiado velho”, à revelia da companhia Polaris

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A Cabo Verde Interilhas, empresa que assegura o transporte marítimo de carga e passageiros entre os portos de Cabo Verde, vai devolver no dia 23 deste mês o navio “Interilhas” à companhia marítima de navegação Polaris por estar “demasiado velho”. Esta informação foi confirmada ao Mindelinsite por Luís Viúla, accionista da Polaris, que garante que não interessava à sua empresa reaver a embarcação nesta altura. Este armador assegura, no entanto, que a recepção vai depender do estado em que se encontra o barco, porquanto, diz o empresario, o mesmo está há dois anos e meio a operar em uma “linha perigosa”, entre as ilhas de Santiago e Maio. 

De acordo com Luís Viúla, a Polaris recebeu um pré-aviso da CVI há seis meses informando a empresa que o navio Interilhas seria devolvido, por estar com “demasiado idade”. Viúla assegura, no entanto, que a sua companhia só vai aceitar a embarcação de volta após realizar uma inspecção denominada “Off Hire Survey”, que tem por objectivo verificar o estado geral da embarcação antes da sua devolução e em que é emitido um certificado de entrega. “Foi uma decisão da CVI. Nós gostaríamos de continuar com a parceria, inclusive porque cedemos toda a nossa tripulação e agora são também obrigados a regressar à ‘casa’. Por conta disso, tentamos manter uma parceria ou mesmo renegociar o contrato, mas não houve interesse da parte da CVI em continuar com o aluguer”, afirma. 

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Lembra este responsável que o “Interilhas” está a trabalhar para a CVI há dois anos e meio pelo que, antes de receber a embarcação de volta, terão de avaliar o estado e as condições de navegabilidade do navio. “Por isso é que digo que podemos ou não receber o navio. Cada empresa tem a sua forma de gestão técnica e, no nosso caso, o Interilhas está há algum tempo fora do nosso campo de acção. Aparentemente, o navio não se encontra nas mesmas condições de quando operava na linha São Vicente-Porto Novo, sobretudo porque está em uma linha que é muito prejudicial para as embarcações. Está a operar na linha Praia-Maio e, como se sabe, a ilha do Maio tem um porto extremamente perigoso e mal protegido. Portanto, tudo é possível.” 

Navio Interilhas atracado no Porto Grande

Sair do capital da CVI

Instado se o navio poderá voltar a navegar na linha São Vicente-Santo Antão, Luís Viúla mostra-se reticente porquanto, diz, ter três navios quase com as mesmas capacidades em termos de carga e passageiro e dimensões nesta rota seria demasiado. Mas, antes de resolver a questão da linha, o empresário enfatiza que precisa resolver um problema  interno mais candente, que tem a ver com a sua saída da sociedade. “A Polaris é accionista da CVI, inclusive chegou a ser nomeada administradora da empresa, cargo que deixou faz algum tempo. Assinamos um acordo para-social que limita a nossa actividade por causa da lei da não concorrência. Ou seja, não podemos disputar o mercado com a CVI. Para continuarmos nos transportes marítimos de cabotagem de forma independente temos de sair do capital da Cabo Verde Interilhas.”

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Este entrevistado do Mindelinsite garante que um dos motivos que o levou a entrar nesta sociedade foi o surgimento de uma oportunidade de negócio com o afretamento do Interilhas e também a possibilidade de usufruir dos direitos que esta companhia possui em relação ao acordo com o Governo. Com a denúncia do contrato de aluguer desta embarcação pela empresa, iniciou um processo de venda das suas acções aos armadores nacionais. E já tem interessados na compra. “Temos 9,68% das acções da companhia, que custaram à Polaris 4.860 contos. Infelizmente, estas não valorizaram nestes dois anos e meio porque a empresa tem prejuízos avultados, pelo menos esse era o cenário até o ano passado em que ainda estava na sociedade. Porém, há uma compensação que o Estado atribui anualmente à CVI para cobrir todos os prejuízos e ainda 10% das receitas”, detalha, lembrando que a concessionária nacional dos transportes marítimos tem um capital social de 50 mil contos.  

O capital social da CVI, refira-se, é detido pela Transinsular (51%) e por nove armadores nacionais (49%). Destes, 9,68% pertencem à Polaris. Verdemar, Zé Spencer, José Augusto Lima & David, UTM, Jo Santo, Adriano Lima, BiniLine e Oceanomade respondem por 4,84% e Djalô & Macedo e Luzimar por 2,72%, que entraram nesta sociedade no lugar da Cabo Verde Fast Ferry e da Sociedade Armadora Aliseu. 

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Operacionalizar o “Interilhas”

Instado a se pronunciar sobre o destino do navio Interilhas, Luís Viúla alega que a Polaris ainda está a analisar algumas opções. Afirma que, neste momento, operam com o navio 13 de Janeiro em uma forte parceria com a Moave, em regime de exclusividade, e uma das alternativas seria colocar um navio na região de Barlavento e um outro na de Sotavento. “Podemos tentar negociar uma parceria similar para o Interilhas, que é uma embarcação mista, ou seja, de carga e passageiros. O 13 de Janeiro ficaria na linha Santiago-Fogo e Brava e o Interilhas na zona norte. Mas ainda não temos nada definido. São apenas ideias que estamos a amadurecer.”

De recordar que, para cumprir o requisitos legais da concessão, a CVI deveria, no prazo de dois anos, proceder à substituição dos navios que não cumprem os requisitos, nomeadamente em termos de idade máxima, que é de 15 anos. Se num primeiro momento decidiu iniciar operações com uma frota mais velha, no caso recorrendo aos navios que já existiam no mercado nacional através do afretamento, agora terá de recorrer ao aluguer ou compra de navio cuja tipologia definida estabelece que devem ser roll on-rol off, ainda que alguns portos não possuam rampa. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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