Uma jovem está à procura de um jardim infantil onde possa colocar com plena segurança uma sobrinha de dois anos, que, diz, foi vítima de abuso sexual pelo seu padrasto, um homem na casa dos 65 anos de idade. “F” (optamos por esta identificação para não expor a vítima), assumiu a responsabilidade da criança, com a permissão da mãe da menina, para a proteger do alegado predador, e agora precisa urgentemente de um lugar onde a possa entregar, mas ciente de que nada de mal possa acontecer. Já bateu em várias portas, sem sucesso. Como explica, neste momento prefere jogar pela prudência, até porque, afirma, ela própria já foi vítima de estupro pelo mesmo indivíduo durante 8 anos.
Esses incidentes afectaram a sua confiança nas pessoas, em especial nos homens, e não quer de jeito algum arriscar a segurança da sobrinha, colocando-a em qualquer lugar. “Quero ter a certeza de que a recebo como a levei”, sublinha.
Nos últimos tempos, “F” já procurou vários jardins infantis que lhe pareceram de confiança, mas todos estão com dificuldades em receber mais crianças devido a pandemia da Covid-19. Mas continua à procura, pois a criança vive com ela, quase que isolada da companhia de outros coleguinhas. Além disso sabe da importância que um jardim infantil competente pode ter no desenvolvimento da menor.
O caso foi denunciado à Polícia Judiciária faz uma semana e “F” espera que a justiça seja feita, pois tem a certeza de que a criança foi alvo de violação sexual. Para tanto apoia-se em exames clínicos feitos à menor, que, segundo ela, comprovam que ela contraiu uma doença sexualmente transmissível. Além disso, acrescenta, a sobrinha chegou a contar para ela, a mãe dela, a sua madrinha e a uma tia que foi molestada pelo “avô” e que ficou com dores no órgão genital.
Esta revelação foi feita pela criança em abril deste ano. Ela foi levada pelos pais para a pediatria e ficou confirmado que tinha uma infeção na sua genital. Porém, o pediatra partiu do princípio de que poderia ser algo “normal”. “Não sei se por vergonha ou outro motivo, os pais não disseram ao médico que a minha sobrinha tinha sido molestada”, diz a tia, que não ficou convencida do diagnóstico e voltaram a submeter a criança a novos exames no passado mês de setembro. Desta vez, conta, os resultados comprovaram as suas suspeitas de abuso sexual.
O caso foi comunicado à Polícia Judiciária e, segundo “F”, a criança voltou a apontar o dedo ao “avô” quando perguntada por uma inspectora. “Devido a minha história, desde que a minha sobrinha nasceu fiquei atenta porque sabia que ela estava a crescer na toca do lobo”, comenta.
Apesar da gravidade da suspeita, alguns elementos da família de “F” não ficaram satisfeitos com a sua atitude, entre os quais a sua mãe, um irmão e uma irmã. Sem contar, é claro, com o padrasto. Segundo essa fonte, a mãe resolveu defender o padrasto e passou a receber ameaças de morte dos dois irmãos. “Tenho medo de ser atacada pela minha família, mas meu maior medo é atacarem a minha sobrinha. Eu já suportei muita coisa e sei daquilo que a minha família é capaz pelo historial de violência dentro de casa”, relata “F”, que, diz, já entregou “prints” das alegadas mensagens de ameaça à PJ.
A jovem decidiu escolher o Mindelinsite para divulgar a situação com duas intenções: a primeira levar as pessoas a terem mais atenção aos sinais que possam levar à descoberta de casos de violação de menores; a segunda, esperar que alguém consiga ajuda-la a encontrar um jardim para colocar a sobrinha. “F” mostra-se decidida a lutar pela segurança da criança, nem que isso venha a custar-lhe a vida.