Começam a chegar no Mindelo os artistas que vão se apresentar no Festival Internacional de Teatro – Mindelact 2021, num ano em que a esperança é a palavra de ordem e em que o evento tem a particularidade de ter um recorde de seis estreias mundiais de grupos nacionais e estrangeiros e perspectiva de lotação esgotada. Para João Branco, este é também dos anos mais difíceis da história deste festival em termos de logística porquanto o Centro de Estágio, que alojava cerca de 45 artistas, não está em condições de receber pessoas, depois de quase dois anos a funcionar como Centro de Covid não só para testagem, mas também para colocação de pessoas em quarentena.
A estreia mundial de seis espectáculos no Mindelact é, para João Branco, revelador do prestígio do festival. Este destaca, a título de exemplo, a peça “Amílcar Geração”, protagonizado pelo actor Ângelo Torres, cuja estreia mundial vai acontecer no dia 8 na Praia, com reposição no dia 20 em São Vicente. “A estreia da peça na extensão do Mindelact na Praia é sobretudo uma questão de logística de passagem. Foi mais barato fazê-lo vir para a capital. Também temos uma parceria com a Fundação Amílcar Cabral. Esta peça é importante para nós, não só por ser uma estreia, mas também pela temática e pelo simbolismo de apresentar este espectáculo em Cabo Verde, na Praia e no Mindelact”, refere.
Em estreia no país vai estar também uma peça protagonizada por um artista Sulafricano chamado Frank Malaba. É primeira vez que o festival internacional de teatro do Mindelo recebe um espectáculo da África do Sul. “Temos uma artista portuguesa que vem com uma peça intitulada Una, que é pioneiro porque ela faz todo um trabalho performático que mistura de dança, teatro e movimento, reflectindo sobre a sua condição de seropositiva. A artista é uma doente com Sida que resolveu exprimir as alterações que foi sentindo no seu corpo não só pela doença, mas também pelo tratamento, do ponto de vista artístico. É algo interessando e estamos com boas perspectivas”, pontua o director do Mindelact.
Outra novidade é um espectáculo de Flávia Gusmão. Trata-se de uma audioperformance em homenagem a Samira Pereira, recentemente falecida. Para esta peça, público vai ser convidado a colocar um MP3 no ouvido e seguir uma voz, em todo um percurso pela cidade do Mindelo e locais que foram importantes para a malograda. Inédito e diferente é também uma peça de um grupo sueco que mistura teatro e realidade virtual e que vai ser apresentado no Mansa Floating. “É uma peça que vai ser exibida para seis espectadores de cada vez. É muito limitado porque o grupo só conseguiu trazer seis óculos de realidade virtual. É algo absolutamente inovador e revolucionário.”
Já o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português vai estrear “Morte e vida Severina”, poema de João Cabral Melo Neto, mas com uma abordagem diferente. Será uma tradução em crioulo de Santo Antão, mais precisamente uma apropriação deste texto do nordeste brasileiro para a realidade da ilha das montanhas no tempo das secas. A peça mistura música ao vivo, com formas animadas, ao estilo do grupo de teatro do CCP. A este junta-se o projecto teatral que nasceu com o Castro Crioulo, numa parceria entre o Ministério da Cultura e o Teatro Nacional S. João e que resultou em uma peça encenada e escrita por Caplan Neves, “Linguagem das Pedras”. E ainda “Je suis Dzenraskod”, do conhecido actor belga de origem cabo-verdiana Cláudio dos Santos, que mistura a francofonia e o crioulo.
Lotação esgotada
Com uma programação rica e diversificada, Branco espera lotação esgotada na maioria dos espectáculos. “Depois de no ano passado termos tido uma lotação de 50%, este ano teremos 100% e o público está ansioso. As pessoas querem estar juntas, lembrar como era há dois anos. Abrimos a bilheteria cerca de 15 dias antes do início do festival e a saída tem sido muito boa, principalmente a procura por cadernetas. As pessoas estão a comprar um pacote com um desconto de 37% em relação aos preços individuais. Ao tod, são17 espectáculos e esta promoção vai até o dia 31.”
Sobre este particular, João Branco congratula-se com a evolução da pandemia em Cabo Verde e a consequente passagem da situação de contingência para a de alerta e garante que a organização do Mindelact também vai colaborar. Inclusive, afirma, sabe de pessoas que estavam reticentes em vacinar e que foram agora fazer a sua vacinação para poderem presenciar os espectaculos. “Isto nos dá um grande prazer. São pessoas que não querem perder o festival e que decidiram regularizar a sua situação porque vamos exigir Certificado Covid de vacinação e fazer o respectivo controlo”, acrescenta.
Logística difícil
Mas é a nível da logística que a organização enfrenta maiores desafios. É que o Centro de Estágio, que antes alojava boa parte dos artistas, não está em condições de receber ninguém. Lembra que o Centro esteve cerca de ano e meio a funcionar como centro de covid, não só para testagem mas também para colocação de pessoas em quarentena e, neste momento, precisa de obras e mobiliário. “Estamos aflitos a contactar as unidades hoteleiras, mas estas também estiveram fechadas e dar borla na reabertura entendemos que seja difícil. Mas temos de alojar estas pessoas”.
Outra preocupação é com as passagens que, de acordo com o presidente da direcção do Mindelact, estão caras e difíceis de achar. Branco atribui as dificuldades na compra das passagens internacionais ao monopólio de uma única empresa. Quanto aos voos domésticos, diz, a marcação só pode ser feita via agência. “Mas estamos esperançosos de que a situação vai evoluir favoravelmente, até porque este ano o festival é sob o signo da esperança”, conclui.