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Rui Novais apresenta em Mindelo estudo sobre presidenciais de 2016: Foco nos “tempos de antena” enquanto instrumentos de propaganda política

Um estudo científico desenvolvido pelo professor-doutor Rui Novais sobre as eleições presidenciais de 2016, que colocou em confronto Jorge Carlos Fonseca e Albertino Graça, será apresentado esta tarde na faculdade de educação e desporto da UniCV, na cidade do Mindelo. O trabalho, segundo o autor, consiste numa análise exaustiva desse embate eleitoral feita a partir dos tempos de antena dos dois candidatos. Além de tentar perceber as diferenças e semelhanças dos conteúdos emitidos por Fonseca e Graça, procurou determinar os fenómenos típicos das campanhas em Cabo Verde, em comparação com as de outras paragens.

“A análise centrou-se naquilo que é para mim uma das principais formas de propaganda política, e que costuma ser subaproveitado, que são os tempos de antena. Observa-se que nas campanhas costuma haver a cobertura diária jornalística da actividade política do candidato, que no final faz uma declaração, que é tratada sem grande escrutínio e contestação. Acontece que os tempos de antena, que são da exclusiva competência dos candidatos, contêm um manancial de factos e de materiais substancialmente interessantes”, considera Rui Novais, que não costuma ver os jornalistas a fazer uso das informações contidas nesses programas dos candidatos, que são normalmente passados na rádio e na televisão. Daí, enfatiza, a originalidade do seu estudo, que acaba por recolher dados sobre a prática política em Cabo Verde revelada através dessas narrativas.

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Segundo Novais, constata-se um contraste absoluto nos conteúdos apresentados por Albertino Graça e Jorge Carlos Fonseca nos seus tempos de antena. Reconhece, aliás, que esse embate foi marcadamente pouco competitivo, por envolver um político recandidato (Jorge C. Fonseca) e um estreante (Albertino Graça), este que acabou por decidir disputar as eleições muito tarde. Isto porque, lembra, Graça ficou à espera da decisão de José Maria Neves se seria ou não candidato. Neves resolveu desistir depois de algum tempo de suspense e atrasou, em certa medida, o anúncio de Graça como adversário político de Fonseca.

Este trabalho teve também por propósito ver como as campanhas eleitorais em Cabo Verde se enquadram no panoramas internacionais. Segundo Novais, constata-se que há algumas semelhanças e aspectos muito peculiares de Cabo Verde. “Já tinha feito uma análise comparativa das autárquicas e que mostrava que as campanhas em Cabo Verde, à semelhança de outros países, estão a perder substância. Não há uma preocupação de se focar nos debates em questões essenciais, de interesse sociopolítico”, salienta Rui Novais.

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Questionado se esse facto pode justificar a taxa de abstenção registada em Cabo Verde em subsequentes eleições, em particular nas presidenciais, Novais adverte que esse desinteresse nunca tem por trás um único factor. Apesar desse aspecto não fazer parte do seu estudo, adianta que há algumas características próprias das campanhas políticas em Cabo Verde. Dentre elas, diz, ocorre uma falha no contrato social, ou seja, os poderes político e económico não têm sido capazes de contribuir para diminuir as desigualdades sociais.

“Na classe política e económica tem havido tiques de elites que se acham ocidentais e que estão desfasadas da realidade social do país. Acham que a generalidade da população está muito abaixo das capacidades de compreensão que eles têm e acabam por infantilizar a própria população”, enfatiza Novais. Segundo este estudioso, é depois nessa franja da população que essas elites vão depois buscar os votos que os mantém no poder.  

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Por esta razão, Novais afirma que tem havido falhas de ambas as partes. Do lado dos cidadãos comuns, diz, a falha consiste no facto de não serem exigentes e conscientes com o que se passa. Não percebem, diz, que é um erro venderem os seus votos e a sua consciência porque acabam por alinhar-se numa estratégia que perpectua modelos prejudiciais para eles próprios. “Pensam apenas no benefício imediato”, salienta.

Perguntado sobre os impacto das manifestações no voto popular, Novais salienta que não abordou esse aspecto, até porque exige um estudo muito mais exigente. Para ele, no entanto, os protestos podem ou não ser um dos factores que revelam o descontentamento ou desinteresse popular em relação à política. Resta saber, diz, a percentagem da população afectada por esse fenómeno. Porém, Novais é peremptório em dizer que ocorre uma desconexão muito acentuada entre a prática da política e o interesse das novas gerações.  

A meta-análise das campanhas presidenciais de 2016 foi publicada numa revista norte-americana e, segundo Novais, foi a partir dali que esse trabalho chegou ao conhecimento da UniCV, que mostrou interesse na sua apresentação em Cabo Verde. Para esse investigador-docente na Universidade Católica de Braga seria interessante que isso ocorresse durante as eleições deste ano, mas tal não foi possível. A conferencia será moderada por Olavo Bilac, professor-doutor na Universidade de Cabo Verde.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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