Concurso de Recrutamento do BCV exclui concorrentes que não possam deslocar-se à Praia para teste de conhecimento: “Indignada”
Os candidatos das ilhas, com excepção de Santiago, que participaram de dois concursos de recrutamentos do Banco de Cabo Verde lançados recentemente correm o risco de serem desclassificados se não conseguirem arcar com as despesas de deslocação e alojamento na cidade da Praia para fazer o teste presencial. A denúncia partiu de uma concorrente classificada para a segunda fase do concurso, que afirma não ter condições para assumir estas despesas. Esta garante que ainda esta norma não consta do regulamento. “Estou indignada!”, desabafa.
De acordo com a nossa fonte, que prefere não ser identificada porque ainda há uma réstia de esperança, o concurso decorre desde finais de Julho passado. No final da tarde de segunda-feira foi contactada pelo BCV para um primeiro feedback, tendo sido informada que passou para a fase de triagem curricular e que teria agora de se deslocar à cidade da Praia para fazer uma prova de conhecimento presencial. “A informação que me deram é que terei de estar na Praia no dia 01 de outubro, às 9 horas, para fazer o teste. Logo que recebi o email, telefonei para o BCV para lhes informar que, neste momento, não tenho condições para custear a minha viagem e alojamento na Praia e para perguntar se não haveria uma outra forma ou então se o banco poderia me ajudar”, relata esta nossa fonte.
A ligação foi retornada mais tarde e limitaram-se a informar a jovem que o Banco de Cabo Verde não tem condições de fazer o teste de conhecimento presencial nas outras ilhas. “Indignada, perguntei-lhes se o banco não tem condições que dizer dos candidatos, na sua maioria desempregados. No meu caso, por exemplo, não estou empregada. Estou em um estágio remunerado do Instituto de Emprego e Formação Profissional”, desabafa esta fonte, que ainda disse ter confrontado o BCV com o facto de o Edital do concurso nunca referir a determinação de se fazer um teste presencial na Praia. “Também alertei para o facto de que deveriam ter avisado os candidatos com a devida antecedência, e não às vésperas de se fazer o teste, com todos os inconvenientes que isto acarreta a nível financeiro e outros.”
Para esta concorrente, o mais frustrante é que a única resposta que recebeu às suas indagações é que o BCV lamenta, mas nada pode fazer. “O concurso de recrutamento era para duas vagas. É frustrante porque fiz investimentos na formação, participo e sou classificada em um concurso na minha área e vou ser descartada porque não tenho condições para custear a minha deslocação para Praia para fazer um teste presencial”, acrescenta, realçando que esta não é a primeira vez que candidatos das outras ilhas são penalizados, ou melhor discriminados, por residirem fora de Santiago.
Confrontado pelo Mindelinsite, o BCV comprometeu-se a prestar todos os esclarecimentos, o que não aconteceu até a publicação desta notícia, depois de um dia a aguardar uma resposta, pelo que prometemos informar dos novos desenvolvimentos assim que tivermos qualquer reação do banco. Entretanto, uma consulta ao Edital do recrutamento confirma que o concurso era para recrutamento de dois quadros, um Técnico Superior para o Departamento de Estudos Económicos e Estatísticos – Área de Estatísticas Monetárias, Financeiras e Cambiais, Serviço da Central de Registo de Crédito. Para realizar a prova, o concorrente deverá apresentar um documento de identificação, cartão de vacinação ou certificado de Covid-19, ou ainda um teste negativo. É ainda obrigatório uso de máscara.
De recordar que, em março deste ano, o BCV inaugurou a sua nova sede em Achada Santo António na Praia, um edifício que custou perto de dois milhões e meio de contos, financiado com recursos provenientes do Fundo de Pensões dos Colaboradores beneficiários do regime privativo de previdência social do banco em regime de “leasing”. É considerada uma obra de referência e o edifício é um dos mais inteligentes de Cabo Verde. O projecto de arquitectura da nova sede do BCV foi elaborado por uma equipa liderada pelo renomado arquitecto português Álvaro Siza Vieira.