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Banalização de rotundas em São Vicente “trava” empresas de transportes de carga pesada

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As empresas de transportes de contentores e outras cargas pesadas estão revoltadas com a quantidade de rotundas que a Câmara de São Vicente está a construir, sobretudo nos últimos tempos. Dizem que as rotundas foram feitas para regular e disciplinar o trânsito, mas em São Vicente estão a ser banalizadas. Dia sim, dia sim, “nasce” uma nova rotunda, em alguns casos bloqueando por completo a circulação de veículos articulados. A alternativa tem sido circular em contramão, com a conivência da Polícia Nacional.

O início da construção da rotunda na Av. Manuel de Matos fez transbordar a paciência das empresas de transporte de contentores e cargas pesadas que, inconformados, resolveram fazer um teste por sua conta e risco para avalizar a operacionalidade do projecto. E o resultado foi francamente negativo, segundo Adriano Lima, sócio-gerente de Bento Forrador. “Estiveram presentes as empresas Bento Forrador, Armindo Silva, Dénis, Edilter e Normando Pinto. Foram utilizados um camião da Poláris e um outro de Armando Cunha e não conseguiram fazer aquela rotunda. E olha que o teste foi com veículos convencionais de 12 e 14 metros. Mas temos atrelados de carga excepcional que chegam a 18 e 21 metros. Então, está tudo dito.”

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Para Adriano Lima, as rotundas existem para regular e disciplinar o trânsito, mas em São Vicente estão a ser banalizadas e, em muitos casos, sequer respeitam as normas, o que dificulta a circulação de veículos articulados. Exemplifica com a rotunda de Chã de Cemitério, que é inclinada e, apesar de recente, responde por um acidente mortal. “As viaturas pesadas só conseguem fazer esta rotunda na contramão, o que é punível por lei. Mas a Polícia Nacional tem estado a fechar os olhos porque viram que é impossível contornar a rotunda”, indica este empresário, que se mostra chateado com a construção de novas rotundas, próximo a Alucar e na rua dos Bombeiros. “Chegamos a transportar um gerador da Electra e, na altura, se estas duas rotundas já estivessem construídas seria impossível. E há boatos de que a CMSV pretende ainda construir mais rotundas. É um absurdo.”

Mas nem tudo é negativo. Adriano Lima aponta a rotunda da Ribeira Bote como uma obra bem pensada e executada, com reflexos positivos no trânsito. Já a de Fernando Pó, diz, destoa completamente. Segundo este entrevistado, quando os trabalhos iniciaram, a sua empresa deslocou ao local para falar com os trabalhadores e foi-lhe garantido que a rotunda seria sem relevo. Tal foi o seu espanto ao constatar que foi feito o contrário do prometido e, como previam, tira visibilidade aos condutores por causa da sua inclinação.  

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Cúmulo do cúmulo

Mais contundente, o sócio-gerente da empresa Armindo Silva, com estaleiros na zona de Monte Sossego, considera que a construção da rotunda na rua Manuel de Matos, na entrada do posto de combustível da Enacol, é o “cúmulo do cúmulo”. “Esta rotunda é tecnicamente inviável. É impossível para um camião carregado contornar a estrutura. Podem até alegar que vão alargar os passeios, mas, no fundo, o resultado vai ser o mesmo, ou seja, as viaturas pesadas não vão conseguir passar nesta rotunda”, diz Silva, que se mostra afrontado com “tantas rotundas”.

Também cita como exemplo de desperdício de tempo e dinheiro a rotunda em construção próximo da Praça José Lopes e dá o benefício de dúvida à situada nas imediações da Enacol, em Fonte d´Meio. “Eu, pessoalmente, penso que a regulação do transito é mais fiável com semáforos. Já passou o tempo de São Vicente investir em semáforos e não em rotunda. Daqui a pouco, a cada 100 metros vão deparar com uma rotunda e estão a dificultar-nos. Para se ter uma ideia, um camião carregado de combustível que precisa abastecer uma embarcação no Porto Grande é forçado a fazer muitas curvas perigosas, caso da rotunda na Praça Estrela. Esta é, aliás, uma aberração.”

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Perante esta situação, Silva informa que os empresários da área de transporte pesado tiveram um encontro e chegaram à conclusão de que têm de travar este processo, sob pena de acabar com o seu negócio. Em causa, sobretudo a rotunda da Av. Manuel de Matos que, afirma, terá de ser eliminada. “Estamos dispostos a dialogar com quem de direito e chegar a um consenso. Mas aquela rotunda é desnecessária. Não estamos a querer impor nada, mas entendo que a sociedade civil, as escolas, os condutores e as empresas de transporte de cargas pesadas deveriam ser ouvidas.”

Para Nuno Curado Ferreira, o espaço na Av. Manuel de Matos é pequeno para se construir qualquer tipo de rotunda. Se não bastasse, diz, situa-se em frente a uma bomba de combustível, que fica exposta em caso de alguma viatura não se aperceber da estrutura e passar por cima, o que não é de todo descabido por conta da imperícia dos automobilistas. “Este é um troço muito movimentado por atrelados, que não conseguem sequer passar em ´linha reta´, contornando parte da rotunda quanto mais mudar de direção. Sugiro que se faça uma rotunda de ligação na Avenida de Holanda e Rua 1. Aí sim, é necessária uma rotunda e tem espaço suficiente”, indica este perito de seguro, que diz estar disponível para apoiar a CMSV, sem qualquer custo.

Camionistas (também) insatisfeitos

Também os condutores de camiões de menor porte estão insatisfeitos e preocupados com estas construções. Em declarações ao Mindelinsite, Hernani Brito, 44 anos, conta que é camionista desde que prestou serviço militar em S. Vicente. Garante que algumas rotundas estão bem instaladas, outras são muito largas, o que as torna perigosas e dificulta as manobras. “Para nós que somos camionistas, estas rotundas também estão a criar-nos dificuldades na hora das manobras, sobretudo com viaturas longas. Com cargas pesadas então, temos de seguir directo, violando a lei.”

Este camionista mindelense aponta o dedo também as rotundas da Fábrica Favorita e da Praça Estrela, duas infraestruturas recentes, como as mais perigosas da ilha. “A CMSV tem de ter em consideração que não são apenas viaturas ligeiras que transitam nas estradas de São Vicente”, diz Brito, que adverte ainda as autoridades municipais a terem atenção aos separadores que, a seu ver, acabam por reduzir a largura das estradas.

Visão diferente tem o instrutor da Escola de Condução Vaz, Derik Silva, para quem as rotundas servem para ajudar a organizar o trânsito na via pública, numa altura em que, argumenta, há cada vez mais carros a circular na ilha. “Não vejo a construção das rotunda como algo tão mau, como as pessoas estão a reclamar. Sei que muitas pessoas as consideram desnecessárias. Mas a rotunda é utilizada na regulação e disciplina do trânsito.”

O Mindelinsite tentou durante vários dias ouvir a CMSV sobre a construção das rotundas na ilha, mas sem sucesso. Após a nossa insistência, o vereador que responde pelo Pelouro dos Transportes  prometeu retornar as nossas ligações, o que não aconteceu até a publicação desta reportagem.

Constança de Pina/Lidiane Sales (Estagiária)

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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