Por: Nelson Faria
A palavra política tem sua origem da palavra grega “polis” que significa “cidade”. Neste sentido, determinava a ação empreendida pelas cidades-estados gregas para normalizar a convivência entre seus habitantes e com as cidades-estados vizinhas.
A política busca um consenso para a convivência pacífica em comunidade. Por isso ela é necessária porque vivemos em sociedade e porque nem todos os seus membros pensam igual. De entre as várias definições de política, convergentes, penso que das mais simples e consensuais é a de ser uma atividade desempenhada pelo cidadão quando exerce seus direitos e deveres em assuntos públicos através da sua opinião, da sua ação, ou falta dela, e do seu voto. Tudo o que o cidadão faz e interfere, ativa ou passivamente, no e em prol do colectivo. Não se resume apenas ao voto, aos agentes políticos ativos, a ação política orientada para o poder, mas também aos que direta e indiretamente recebem os impactos e são resultado das ações dos agentes ativos.
Como tal, é evidente a importância da política, dos políticos, dos partidos, sim partidos, porque os movimentos independentes também são partidos, das associações, dos movimentos sociais, do cidadão porque da política advém e retorna tudo o que diz respeito a nossa vida social: saúde, educação, segurança, ambiente social, desporto, alimentação, economia, cultura, enfim, tudo o que for atividade humana em sociedade. E também da juventude, mormente num país como o nosso onde a população jovem é a maioria.
É evidente a importância da política, dos políticos, dos partidos, sim partidos, porque os movimentos independentes também são partidos, das associações, dos movimentos sociais, do cidadão porque da política advém e retorna tudo o que diz respeito a nossa vida social
Apesar do constatado desinteresse da juventude sobre a política, já lá vamos às eventuais causas, é preciso uma análise profunda, dos especialistas, o que não sou, do que move os jovens antes de se pensar a transformação verdadeira da sua atitude relativamente à política. Creio que possíveis causas desse distanciamento da política e juventude advém de vários factores, entre as quais:
– Interesses pessoais e corporativos – partidos demasiado fechados em si mesmos, em interesses pessoais e corporativos dos seus constituintes. Os ideários da constituição das forças políticas tendem a parecer coisa do passado e os partidos serem um clube, ou um mecanismo, para outros interesses;
– Corrupção – indícios de corrupção em várias situações, por decisões irracionais e sem lógica dos políticos ativos, sinais exteriores de riqueza de alguns após entrada na vida política que não coadunam com a rendimentos daí advenientes e um despotismo relativamente a juventude, valores sociais e morais que deferiam ser referências. Em vez disso a própria juventude inverte a sua cadeia de valores colocando como principais os imediatos patrimoniais;
– Egocentrismo / Arrogância / Prepotência – em muitos casos os egos dos políticos tem sobreposto as causas, as missões e o foco principal da sua ação. Falta de foco nas causas maiores assim como, em situação de poder. Causas vazias e superficiais de protagonistas cheios de nada.
– Falta de verdade e transparência – Acreditar em promessas de campanha, tout court, é utopia. Bastava que fossem cumpridas, efetivamente, a maior parte ou as mais relevantes e determinantes na vida colectiva. Mas, nem isso. Em compensação são criadas narrativas e argumentos que apenas servem para se desculpar e desviar do que foi prometido além de acicatar a crispaçãoentre as claques e o fanatismo partidário.
– Situação social e económica de dependência – a eterna exploração conveniente das fragilidades e necessidades da juventude que se deixa levar, consciente ou inconscientemente, pelo poder dos agentes políticos ativos;
– Ausência de políticas e envolvimento efetivo dos jovens na política – ausência de programas e ações a tempo inteiro de formação política, nas escolas, na comunidade, nas famílias e nas governações. Os programas políticos ditos para a juventude tem um objectivo eleitoral acima de qualquer envolvimento e proveito efetivo para essa faixa etária. Servem de instrumento de caça ao voto ou de falácias, cujos instrumentos, leis inclusive, servem a conveniência.
Além das razões que podem não ser imputáveis a juventude, há também uma atitude inadequada por responsabilidade própria de uma parte da população laissez fair / laissaez passer preocupada mais com o mediatismo ou com o imediatismo, vazio de conteúdos. Se calhar, aí voltamos as questões anteriores: falta de formação e conhecimentos? Formação inadequada? Acomodação e ajustamento ao status quo sem sinais de rotura? Porquê desta atitude, ou falta de uma atitude de rotura e assunção de responsabilidades?
Da mesma forma que será impossível mudar as sociedades sem política e sem partidos, a política e os partidos serão sempre deficientes sem a participação/ envolvimento / comprometimento da juventude.
O aparente distanciamento da juventude com / e política não se resolverá sozinho, pelo contrário, tende a agudizar-se, e o problema da apatia que nadamos, interrompida apenas para objectivos eleitoralistas, também não. Qual o caminho a seguir? Consequentemente, deve ser também matéria para especialistas, porém, acho eu, que podem ser consideradas como pistas naturais, entre outras, as seguintes:
Ø Educação – Escolas, Partidos, Governos, e porque não a família, terem ações que criem a consciência do coletivo da importância da política e da necessidade de intervenção da juventude em que papel for, nem que seja cumprindo os seus direitos e deveres enquanto cidadão. Achou eu que devem existir programas ou conteúdos de formação política constante e permanente nas escola, nos partidos políticos e de governação, com efetividade.
Ø Movimentos cívicos espontâneos – A importância de movimentos cívicos espontâneos para causas pontuais, perenes ou mesmo especiais é cada vez mais evidente. Nem todos podem governar e nem todos tem a ambição do poder. Todavia, todos queremos que o que é feito pela política ativa, em medidas políticas concretas, satisfaçam o bem comum e não apenas partes interesseiras e interessadas. É possível intervir e agir politicamente sem necessariamente ser-se ou estar-se nos partidos políticos. Esses movimentos servem de alerta, de barómetro, de intervenção que apoia os agentes ativos a tomarem medidas na resolução de problemas vários que afligem o colectivo.
Ø Movimentos de juventude partidária – as juventudes partidárias devem ser mais do que grupo de amigos na defesa do seu líder ou objectivos corporativos. Devem ser mais que trampolim de ascensão dos seus figurantes. Devem valorizar a sua faixa etária, o seu potencial, a sua força e ter ações que ultrapassam os torneios, convívios e comes e bebes pontuais, particularmente em períodos eleitorais. Devem ser mais que meios de manipulação da consciência dos jovens. Devem ter ideias e partilha-los. Devem ser a via de desenvolvimento e elevação de consciência critica sobre temas de interesse da juventude. Agregando mais e cartelizando menos.
Ø Plataformas informáticas – As redes sociais, as aplicações informáticas tem um potencial enorme para agregar e orientar a juventude na política. Porque não, a semelhança de outras latitudes, essas plataformas serem também utilizadas para intervenção sobre a comunidade, a cidade, o município e o país sobre assuntos do interesse da juventude?
Ø Programas de governos orientados para real envolvimento e capacitação para intervenção política – Já acontece noutras paragens. Governos conscientes do afastamento dos jovens da política tem intervindo no sentido de impulsionar o interesse real dos jovens nos programas políticos. São desenvolvidos programas de consciencialização política, que ultrapassam a esfera educativa, e permitem o comprometimento da juventude com o seu país intervindo diretamente na sua política.
Ø Associações diversas – Quer sejam estudantis, comunitárias, temáticas, são, naturalmente formas de intervenção política. Devem, igualmente, abarcar a juventude e apoiar no desenvolvimento destes como cidadãos porque basta ser-se um cidadão minimamente consciente para ser-se um político, mesmo que passivo.
Da mesma forma que será impossível mudar as sociedades sem política e sem partidos, a política e os partidos serão sempre deficientes sem a participação/ envolvimento / comprometimento da juventude. Quer na intervenção em ações progressistas, de rotura ou de correção orientados para o bem comum, quer no exercício do direito / dever de voto de forma livre e consciente. Sendo a juventude a maior parte da nossa população, ela deve assumir a plenitude da sua cidadania e ser, de forma afirmativa, o factor determinante da governação. Não de manipulação conveniente que se vê também pelas razões antes expostas, e nem Interesseira orientada para o status quo ou benesse de migalhas. Os princípios, as causas e os valores da juventude na política devem ser tão somente servir as causas que lhe servem no presente e no futuro. Que servem a juventude, a comunidade, o país e a humanidade.