Sniper, o soldado da arte da grafite
O seu “código de guerra” inspira respeito no mundo da arte urbana mindelense. Sniper, batpismo adoptado ainda adolescente por conta das “insurras” que costumava fazer nas “street”, é hoje um soldado da grafite, um criativo que cedo traçou a sua trajectória artística e espalhou pelas paredes da cidade do Mindelo uma série de obras. Por conta da “ilegalidade” associada inicialmente a essa forma de expressão, mesmo em S. Vicente, deixou algumas por assinar.
“Tenho trabalhos feitos mas que ficaram na clandestinidade. As pessoas podem ver e gostar, usar como fundo para fotografias, mas não sabem quem é o autor. Fiz isso para o meu nome não ser associado à delinquência, uma forma de evitar problemas”,
Hoje, as coisas mudaram de figura. Sniper e outros colegas formaram um “exército artístico” que tem estado a colorir Mindelo no âmbito do projecto “Um parede de cada vez”. Esta iniciativa do ex-emigrante Baltasar Andrade já permitiu até o momento dar cor e vida a um conjunto de garagens em Monte Sossego, às fachadas do Clube do Mindelo e do Jardim Amílcar Cabral e ao Skate Park construído recentemente pela Câmara de S. Vicente. Por coincidência ou não, o desenho central deste parque é da autoria dele, Sniper.
Outro facto curioso é que há muito tempo que os seus pincéis estavam de “olho” nessa área. Como conta, sempre que ele e o amigo Kelvin passavam pela praça José Lopes, onde agora fica o espaço desportivo, imaginavam as pinturas que podiam fazer nessa grande tela. Por sorte foi convidado para integrar a equipa que “espalhou” pelo parque uma série de desenhos que coloriram e valorizaram o investimento. E tudo isso, para ele, é extraordinário porque acabou por trabalhar sem o receio de estar a cometer um “crime”. Concebeu e deu corpo à sua criação, juntamente com outros 14 colegas, cada um com a sua marca própria.
Esta união de criativos é algo que Sniper vê como uma oportunidade para a arte urbana ganhar o seu espaço e consideração pública. Aliás, pode até ser que já tenha alcançado esse objectivo, pelo menos em S. Vicente. Hoje são muitas as pessoas que aplaudem a iniciativa “Um parede de cada vez” pela beleza das obras. Mas não só por isso, a verdade é que essas pinturas deram nova vida e valor a locais que estava degradados. Estes foram transformados em atracção turística e são agora muitas as pessoas que sacam das câmaras fotográficas para registarem essas obras ou usa-las como pano de fundo para as suas sessões.
Desde os 14-15 anos que Sniper gostava de estar na rua com os colegas. Livre, fazia aquilo que lhe apetecesse. Na escola, conta, tinha o hábito de “reppar” com os amigos dentro da sala de aula. Em paralelo desenvolvia dentro de si a paixão pela pintura, em específico a grafite. “Já no sétimo ano já tinha uma boa noção da grafite. Via as pinturas nos videoclipes e nos filmes, colocava o DVD na pause e apreciava cada detalhe, como por exemplo o movimento das letras”, conta o jovem.
Nessa altura, Sniper era fã do “Lode Scure”, cujo logo era uma grafite inspirada no fio de um microfone, que escrevia o nome do grupo de Rap. O seu primeiro desenho, lembra, foi a palavra Walter – seu nome – escrita um fio de micro. “Mostrei o desenho ao meu amigo Sné, um grafiteiro e rapper que acabou por ser meu mentor, e ele disse-me na cara que o desenho estava muito fácil de ser entendido. Que isso não era grafite”, conta.
Nesse dia aprendeu que a grafite afinal era uma arte que desafiava tanto a imaginação do autor como a interpretação do destinatário. Hoje, Sniper desafia os grafiteiros a serem criativos, a fazerem o seu trabalho de campo antes de “plantarem” as suas obras num determinado espaço.
Licenciado em Desing, Sniper, 30 anos, não vive exclusivamente da sua arte. Isso seria ouro sobre azul, mas ele está ciente que os artistas tendem a viver no mundo do desenrasca. Por isso teve de se adaptar. Além dos desenhos, está a desenvolver os seus conhecimentos na fotografia, assim como no mundo do Rap.