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Autárquicas 2020: Rosário Luz planeia integrar lista para conquistar a Câmara de S. Vicente

Desde que regressou a S. Vicente, depois de anos a viver na cidade da Praia, que deixou no ar a inquietante curiosidade sobre o seu verdadeiro propósito. Agora, Rosário Luz, reconhecida analista política, admite nesta entrevista a possibilidade de integrar uma equipa para conquistar a Câmara de S. Vicente nas eleições autárquicas. Por enquanto, Luz prefere manter por detrás do pano o rosto dos outros parceiros, mas nega estar na forja qualquer aliança com o Sokols-2017. Para ela, o movimento cívico deve manter-se como um barómetro social e não se envolver nas campanhas eleitorais.

Por Kim-Zé Brito

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Mindel Insite – Regressou no ano passado para S. Vicente e ficou no ar a ideia que teria um projecto político na carteira, como uma candidatura à Câmara Municipal. Pode confirmar agora se esta era ou é sua intenção?

Rosário Luz – Digamos que não era propriamente um projecto, mas sim o projecto de um projecto político. A minha candidatura, tal como vinha sendo falada em S. Vicente, é na verdade uma hipótese de uma corrida numa lista, uma possibilidade que está em cima da mesa. Iria até mais longe, diria que é algo que está a ser trabalhado porque há um grupo que acredita que há espaço para isso acontecer.

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MI – Um grupo independente ou associado a algum partido ou movimento?

RL – Sim, um grupo independente. Isto significa muita coisa, mas fundamentalmente gente que tem vários parceiros políticos, empresariais, técnicos, diversos tipos de competências, mas que têm algo em comum: a crença de que a solução para a CMSV de S. Vicente não virá do MpD nem do PAICV.

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MI – Neste caso seria a cabeça-de-lista ou iria integrar uma equipa liderada por outra pessoa?

RL – O que está na forja é a reunião de uma equipa. Em Cabo Verde, a postura dos políticos tem sido nociva porque temos partidos que são na verdade organizações de campanha. Servem para conquistar o poder, dominar os recursos do Estado para depois serem distribuídos entre militantes e amigos. Para mim isso não é o objectivo. O propósito de uma victória eleitoral é a gestão do município. Para atingirmos isso é preciso uma equipa com capacidade técnica.

MI – Enaltece a força de uma equipa técnica, mas sabe qual a importância da figura de proa numa candidatura.

RL – É possível ganhar uma batalha eleitoral com base na popularidade de um candidato, mas não é de todo aconselhável. Parte do problema em Cabo Verde é que há candidaturas que se organizam em torno de pessoas populares no partido, na comunidade ou numa região e depois arranjam uma equipa decorativa. Ora, uma candidatura independente séria vai focar-se na composição de um grupo capaz antes de dar qualquer passo. Isto porque, quem ganhar, vai herdar uma Câmara cheia de problemas, falida financeiramente e prenhe de vícios administrativos. Uma Câmara incapaz de prestar os serviços administrativos sob sua tutela, que tem tido uma gestão danosa e irresponsável dos terrenos municipais, que não tem políticas sociais e de habitação. O resultado disto tudo tem sido uma explosão de casas precárias e indignas. A reversão deste quadro exige competência técnica ao mais alto nível. É o que nós propomos.

MI – Nós quem? Quem mais está consigo nesta batalha?

RL – Neste caso estou a falar de mim própria. Acho que esta entrevista é com a Rosário Luz e só vou mencionar de momento o meu nome, sendo certo que serei parte de uma equipa. Aquilo que possivelmente acontecerá no futuro, quando as coisas estiveram prontas, é o anúncio de uma candidatura à Câmara de S. Vicente.

Aliança com Sokols fora de questão

MI – Sendo assim, há alguma possibilidade de estar a ser ou vir a ser apoiada por elementos afectos ao Movimento Sokols, já que a organização em si não pode apresentar uma candidatura própria?

RL – Esse apoio não me foi oferecido e não o procurarei. A minha colaboração na manifestação do dia 5 de Julho foi meramente pessoal, de uma cidadã. Acho que o Sokols deve manter a postura assumida até agora, de ser um barómetro e elemento motivador da sociedade. Se decidirem apoiar uma candidatura duvido que seja algo do género partidário, ou se quisermos de envolvimento na campanha. Imagino mais um apelo à população para seguir a sua consciência, de acordo com a melhor proposta.

MI – Está a dizer que não há possibilidade de uma aliança com o Sokols?

RL – Não, não há uma aliança a ser forjada. Em primeiro lugar porque não é missão da organização, em segundo eu não procuraria esse acordo porque não foi essa a base da minha relação com o grupo.

MI – A sua meta será ser presidente da CMSV ou só ser eleita deputada municipal já seria uma conquista?

RL – Ser eleita deputada não seria uma conquista. Acho que, para as coisas mudarem, a equipa da administração municipal tem de mudar. Há que resgatar a CMSV do vácuo de gestão. Estamos num momento delicado da vida desta ilha. Ha anúncios de grandes empreendimentos turísticos nos próximos tempos. O Governo, por um lado, está a tratar esse dado como se fosse conquista sua, mas o facto é que, se o governo trabalhasse para S. Vicente, iria fazer esse processo de forma integrada. Não construiria hotéis e, ao mesmo tempo, sufocaria a economia da lha com o problema dos transportes desde 2017.

MI – Como vê esses investimentos?

RL – Esses investimentos, se forem feitos, vão ser o reflexo de dinâmicas de investimentos internacionais, tais como os que aconteceram no Sal e na Boa Vista e que, aliás, foram mal geridos, como demonstra a situação precária da habitação e do emprego nessas ilhas. Se os investimentos forem concluídos no quadro da actual gestão camarária não serão o salvamento de S. Vicente, mas sim o aprofundamento dos problemas. Um dos problemas que está na agenda desde finais do ano passado é a habitação social, por causa da tragédia que aconteceu na madrugada do 1 de janeiro em que morreram 3 crianças de uma família por más condições de habitabilidade. O que acontece é que esta gente não está cá porque gosta de viver mal e na periferia. Esta cá para fugir da pobreza das ilhas de Santo Antão e S. Nicolau, que sempre alimentaram a população de S. Vicente. Quando chegam sem qualquer suporte à procura de empregos precários não têm condições para viverem adequadamente. Só que esse problema não é só dessa gente, é de toda a cidade. Portanto, vai continuar a vir gente à procura de emprego, mas, a continuar o cenário, ninguém vai poder travar os cinturões de pobreza.

Câmara de S. Vicente

MI – Corrija-me se estou errado, mas esta é a primeira vez que pretende integrar uma lista eleitoral.

RL – Exacto, é a primeira vez, mas já trabalhei em muitas campanhas, nomeadamente no início da década de 2000. O meu conhecimento da campanha política é profundo, mas pretendo agora ser votada pela primeira vez, o que vai depender da lista que estamos a preparar e da resposta do eleitorado.

MI – Já encomendou alguma sondagem?

RL – Ainda não porque há um trabalho a ser feito antes. O que importa é ganhar para gerir bem. Se não houver uma equipa técnica capaz e idónea que queira mudar as coisas – e não querer mudar a sua situação financeira em primeiro lugar – não poderemos ter sucesso. Há um dado positivo: o povo de S. Vicente já deu mais victórias a forças independentes do que qualquer outro município. Posso citar os casos do PTS (Onésimo Silveira), Movimento Arco-Iris (Isaura Gomes) – que só depois veio a ser apoiado pelo MpD – deu também uma expressão política interessante à UCID, que conseguiu bater o PAICV, apesar de toda a suamáquina partidária. Portanto, o povo de S. Vicente anda à procura de uma alternativa.

MI – Há uma questão que certamente as pessoas vão querer saber a resposta. É se a Rosário, que viveu largos anos na cidade da Praia e regressou recentemente a S. Vicente, vai continuar por cá se ir às eleições e perder?

RL – Sei lá, eu já vivi em Portugal, Cabo Verde e Estados Unidos, ciclicamente. Nasci em Portugal, vim para Cabo Verde criança, estudei na Escola Camões, fui fazer o liceu nos Estados Unidos, voltei para Cabo Verde, trabalhei, voltei a estudar em Portugal e Estados Unidos… Sendo assim, acho que não vou entrar em determinados debates. A democracia.cv tem sido dominada pelo populismo e parte desse populismo chega ao ponto de dizermos que “se não é daqui não tem nada que vir aqui fazer”.

MI – Já houve uma candidata que foi criticada pelos opositores por não residir em S. Vicente.

RL – Em primeiro lugar “mim ê dali”; em segundo lugar, o facto de ter vivido fora é uma vantagem. Estive la fora a estudar e a aprender como as coisas acontecem por esses lados, o que me dá competências para assumir esta empreitada. Mas, não acredito que o  povo de S. Vicente seja preconceituoso a esse ponto porque é uma ilha que sempre aceitou estrangeiros de braços abertos. Por que razão não ira aceitar uma filha que passou muito tempo fora daqui? A minha família é toda desta ilha, o interior da minha casa foi sempre S. Vicente.

MI – Está ciente de que essa questão vai ser despoletada?

RL – Estou ciente. Se me perguntarem se vim só para concorrer, a resposta é não. Vim porque esta ilha demonstrou ao longo dos últimos três anos, desde as eleições de 2016, que talvez seja o foco da próxima revolução cabo-verdiana, de uma revolução de gestão. Talvez seja aqui que o eleitorado esteja preparado para eleger uma terceira força que não se vai ficar pelo município, que pode combater outras batalhas na região e na nação. Talvez seja aqui que as pessoas estejam mais bem preparadas porque sempre foram as mais cosmopolitas.

Disputa eleitoral a cinco

MI – Tudo leva a crer que vamos ter uma campanha com cinco candidaturas: UCID, MpD, PAICV e duas candidaturas independentes. Como vê essa luta, com tantas máquinas políticas a desbravar caminho para o mesmo objectivo?

RL – Para já encaro esse cenário como uma victória. Confirma a minha análise, segundo a qual as pessoas estáão à procura de uma alternativa para esta ilha. O normal seriam os três partidos com representação parlamentar irem disputar a Câmara entre si. O facto de já se falar em cinco candidaturas já é uma revolução por si só.

MI – Será quase impossível uma maioria absoluta com esse cenário.

RL – Para ser sincera, não acredito que todos os candidatos cheguem à corrida, mas, se isso acontecer, será muito positivo. Uma maioria absoluta nessa conjuntura será mesmo difícil. Cada candidatura vai certamente promover a sua mensagem e caberá ao povo saber se ela é populista ou séria.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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10 Comentários

  1. Venha! Estamos à espera! Queremos-te nesta luta.
    Qualquer luta em S.Vicente é difícil mas, vamos a isso para o bem desta ilha.
    Sabemos da tua qualidade e capacidade mas, também já sabes que se venceres, irás ser cobrada ao longo do mandato inteiro.

  2. Integrar ou liderar lista ???
    Boa sorte para esta jovem nesta ilha que só vê mancos e cabeça mariode na Câmara !
    São Vicente merece ter um autarca à medida e esta jovem pode ser a solução, se tiver uma boa equipa.

  3. … infelizmente nao estou la para dar o meu apoio directo. Tens o meu apoio e vou mubilizar os amigos que la vivem.

  4. Estamos satisfeitos, animados e tranquilos com esta nova.
    Entretanto, a seu tempo esperamos conhecer todos os elementos desta equipa pois, é na equipa sob uma competente liderança é que está a força.

  5. Somos humanos e neste momento quero antes de mais, desejar uma boa e rapida recuperacao ao Augusto Neves da sua saude.
    No entanto, ha duas coisas que nao posso deixar de te dizer porque uma Camara municipal tem de trabalhar bem mas tambem é importante que construa uma BOA IMAGEM para o orgulho dos seus municipes:
    1°) A CMSV nao paga o subsidio a uma assossiacao tao importante como a ADECO. Esta situacao, para alem de errada tambem deixa-nos mal na fotografia;
    2°) Ha 7 anos atras, o Mindelense foi campeao nacional de futebol.
    Frente às camaras da TCV, Augusto Neves entregou ao clube um daqueles cheques simbolicos com um metro de tamanho, simbolizando o premio oferecido pela edilidade no valor de 500 contos.
    Ate a data de hoje o presidente nao entregou o cheque verdadeiro ao clube. Este tipo de atitude tambem fica muito mal a uma autoridade municipal.
    Nao te estou a pedir para pagares o que o Augusto prometeu publicamente frente à TCV e nunca pagou mas, peco-te que nao faças a mesma coisa.
    Isto, é populismo sem a minima de seriedade.

  6. Ôi Rosário!
    Se bô crê precavê cóntra populisme, bô tem que cmêssá te bá vsitá quêj zóna móda Fonte Francês, Rbêra d’Craquinha, Cruz, Monte Sossegue, Bela Vista, Lomb d’Tanque, Rbêra Bôte, Pedra Rolada, Rbirinha, Vila Nova, Horta Séca, Fernand Pó, Salamansa, São Pedre, Calhau, Rbêra de Calhau, Campim, Dji d’Sal, Fonte Inês, Fonte Flipe, Ólte Solarine, Espia, etc, etc.
    PORQUÊ POPULISME TA P’RA LÁ LARGÓG!
    Ten que ser fête um trabói mute grande pa desmantelá populisme que já foi instalód pa tud banda de Sóncent.

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