Artigo escrito pelo Director Geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Qu Dongyu por ocasião da VII edição da Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento da África, (TICAD), a realizar-se em Yokohama, de 28 a 30 de agosto.
Por Qu Dongyu
No mundo atual, caracterizado por fronteiras relativamente desfocadas, o desenvolvimento não conhece fronteiras. De acordo com algumas estimativas, haverá 10 bilhões de pessoas na Terra até 2050. O planeta terá que lidar com um aumento na urbanização, sistemas alimentares cada vez mais fracos e o esgotamento dos recursos naturais, nomeadamente devido às alterações climáticas. Esses desafios são um alerta para a comunidade internacional que deve intensificar os seus esforços de forma urgente, coordenada e colaborativa para mitigar e reverter a tendência.
O mundo está progredindo a uma velocidade alucinante, mas o progresso alcançado não garante o futuro alimentar do planeta. Os impactos das alterações climáticas, sendo as secas e as inundações as principais causas do recente aumento do sofrimento relacionado com a fome, reduzindo muitos dos ganhos obtidos nos últimos anos. Em África, onde desde os inícios da década de 90, o número de catástrofes relacionadas com condições climatéricas extremas duplicou, 257 milhões de pessoas dormem com fome, ou seja, 20% da população. No continente, os casos de desnutrição crónica coexistem com os de excesso de peso, obesidade e outras formas de má nutrição.
Os pequenos agricultores africanos, os criadores de gado, os pescadores e as comunidades florestais são essenciais para combater a fome e garantir o acesso de todos à boa nutrição. A sua capacidade de produzir alimentos e obter rendimentos com essa atividade é, no entanto, ameaçada pelos efeitos das alterações climáticas, conflitos e crises económicas.
Em África, um trabalho considerável precisa ser feito para se alcançar o objetivo da Fome Zero e erradicar a pobreza. Como nos lembram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ninguém deve ser deixado para trás. O desafio agora é construir parcerias que envolvam governos e setor privado, bem como pequenos agricultores e sociedade civil.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) está na vanguarda desses esforços globais. A FAO reconhece o papel essencial da agricultura na luta contra a fome e a pobreza de uma forma inclusiva. Segundo a Organização, 140 bilhões de dólares americanos em investimentos adicionais serão necessários a cada ano para erradicar a fome e a pobreza em todo o mundo até 2030 e a maioria desses investimentos deverá ser direcionada para a África subsaariana.
Além disso, a FAO destaca o papel crucial da mecanização sustentável. Aliviar os agricultores do trabalho manual particularmente difícil, especialmente as mulheres, pode permitir passar-se de uma agricultura de pequena escala para empresas mais voltadas para a lógica do mercado, melhorar os rendimentos e ajudar os agricultores a sair da pobreza.
Enquanto a FAO acredita que os conflitos precisam ser resolvidos a nível político, ela encoraja os seus diferentes parceiros a intensificar as suas ações para promover a segurança alimentar e combater a pobreza. Isso pode ajudar a prevenir uma crise ou mitigar os seus efeitos e mostrar o caminho para mais paz e estabilidade.
A juventude africana também é portadora de inúmeras oportunidades. Na África Subsaariana, 60% da população tem menos de 25 anos de idade. Uma população particularmente jovem que, nos próximos anos, deverá colocar todo o seu peso no mercado de trabalho, representando uma fonte de oportunidades no setor agroalimentar.
Por exemplo, no setor privado, as pequenas e médias empresas desempenham um papel fundamental na alimentação e na agricultura e podem proporcionar oportunidades para jovens empreendedores africanos. Os jovens também podem tirar proveito das tecnologias. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) permitem que os pequenos agricultores se conectem aos mercados, reduzam os custos de transação e os riscos ligados a catástrofes naturais, enquanto o comércio eletrónico ajudará a fortalecer o ambiente económico. Os atores do setor deverão desenvolver um ambiente propício ao investimento privado e criar oportunidades para os jovens e as mulheres empreendedoras.
Durante várias décadas, o governo japonês tem sido um dos principais parceiros da FAO, trabalhando para fortalecer a segurança alimentar e promover o uso sustentável dos recursos naturais. O Japão, um país regularmente afetado por desastres naturais com consequências, e os seus parceiros internacionais de desenvolvimento, tem sido uma das pontas de lança da assistência ao desenvolvimento no continente africano.
Esta semana, parceiros de desenvolvimento e os países estão no Japão para discutir os sucessos e os desafios específicos para o desenvolvimento do continente africano. Lançada em 1993 pelo governo japonês, a Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África (TICAD) promove o desenvolvimento de África, mas também a paz e a segurança através do reforço da cooperação e das parcerias multilaterais.
Ao examinarem, juntos, as diferentes formas de intensificar os esforços conjuntos com os países africanos, a FAO e o Japão acreditam que a assistência atempada e direcionada é essencial para proteger e restaurar os meios de existência agrícolas das populações afetadas pelas crises em África.