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Cultura

Criadores de “beats” defendem profissionalização da actividade e reconhecimento da sua obra pelos artistas

As novas tecnologias fizeram despontar nos dias de hoje em Cabo Verde um boom de beatmakers, movimentado principalmente por jovens que abraçaram essa arte guiados pela curiosidade. Esta produção de instrumentais para o mundo do Hip Hop, no entanto, carece ainda de diversos cuidados, devido a problemas como o plágio, a falta de reconhecimento por parte dos artistas para os quais trabalham, a ausência de uma tabela de preços e de formações específicas, o que ajudaria na profissionalização do sector.

Rossini Andrade produz beats desde 2010, quando tinha apenas 16 anos anos de idade, numa aventura em busca de novas experiências. Enquanto autodidata, teve como principal plataforma de aprendizagem a internet. Encara o mercado em São Vicente como um espaço onde abundam colegas com muito talento, desde os old school, os semi-profissionais e os novatos, ou amadores. Ao longo destes anos, Rossini já fez um número expressivo de beats, trabalhou com alguns artistas, e, juntamente com mais quatro colegas, criaram o Master Beatz.

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Valdir Correia é outro jovem que se iniciou na mesma altura que Rossini na produção de beats. Começou a aprender em Santo Antão, aos 16 anos, incentivado por uma ex-namorada, mas teve o importante apoio da internet e de outros produtores. Hoje já vende o seu trabalho em Santiago, ilha onde reside.

Nana Almeida, 20 anos, arrancou a sua carreira também como autodidata, depois de lhe terem oferecido um teclado. “Passei uma semana inteira sem sair de casa, só a praticar. Porque acompanhava ensaios de músicos, essa experiência ajudou-me a conhecer todas as notas”, conta este jovem que nunca frequentou uma escola de música. No entanto, já produz os próprios trabalhos e, além de beats, cria batidas e ritmos para diferentes estilos musicais, o que permitiu que tenha trabalhado com diferentes artistas, como Elly Paris e Djarilene, Expavi, Batchart, Constantino Cardoso, entre outros. Mesmo assim não se sente uma referência.

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Como produtor desde 2000, DJ Letra faz parte dos produtores considerados “old school” em Cabo Verde. Na altura, diz, não era fácil aprender, por não haver uma tecnologia tão avançada como agora. Sem essas ferramentas à disposição, cabia-lhes aprender através de caixas rítmicas e frequenciadores e com instrumentos caros. E isso, acrescenta, dificultava a aprendizagem.

“Neste momento, graças às novas tecnologias, pode-se usar os computadores e outros aparelhos para a produção e o trabalho fica bem mais facilitado”, frisa Letra, que defende a profissionalização do sector da produção de beats. Para ele, essa actividade precisa de um maior reconhecimento em São Vicente, já que “os artistas não valorizam os produtores daqui”. Este salienta, entretanto, que os produtores estão sintonizados na necessidade de levarem os artistas a valorizar seus trabalhos. “Porque sem os produtores, não há artistas”.

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A estratégia tem sido passar a cobrar pelos trabalhos, em vez de ser troca de serviços, como era costume. “Antes, para promovermos os trabalhos e fazermos avançar o hip hop, oferecíamos beats aos artistas. Ajudávamos e, quando precisávamos, eles recuavam”, critica.

O sector, diz Letra, enfrenta alguns entraves, como a ausência dos direitos do autor e inexistência de uma liga que defenda a classe. No entanto, para esse produtor, a questão do preço cobrado não é um problema, já que cada um cobra o que acha justo pelo seu trabalho. “Depende de quem queira comprar e quem produziu o beat. Se for colega, ou um artista que costuma requisitar o trabalho do beatmaker, o preço fica mais barato”, elucida o DJ.

Professor Internet

Alem da questão do preço e do reconhecimento profissional, Rossini Andrade considera que os beatmakers enfrentam sérias dificuldades em arranjar equipamentos, por serem caros. “Aprendemos através da internet e há casos raros em que um ou outro produtor nos dão algumas dicas”, adianta.

Em São Vicente, segundo Rossini, os produtores de beats tendem a cobrar mais barato, já que levam em conta a falta oportunidade dos artistas em realizar shows. Cientes desse constrangimento, o grupo Master Beats decidiu usar a estratégia de lançar os próprios trabalhos online, convidando artistas a participar, como forma de divulgarem os seus trabalhos.

Nana Almeida percebe que há grande diferença entre beatmakers e produtores. “Beat Makers consiste numa cena moderna em que apenas se acrescenta algo simples, enquanto que produção é algo mais abrangente. Um produtor musical, além de produzir diferentes estilos, tem que dirigir o artista e ter noção do que se faz”, explica esse jovem, que discorda que haja falta de valorização do trabalho dos beatmakers, porque, na sua opinião, isso depende da forma como cada um contrói o seu nome.

“Quanto mais original se for, mais credibilidade se tem e mais valor as pessoas te dão. Por exemplo, no meu caso, o preço que peço pelo meu trabalho é o que me pagam porque sabem exatamente o que lhes vou dar”, sublinha Almeida, enfatizando que há quem almeje começar já com um estatuto, mas sem o conquistar. Uma das práticas que condena é o “copy/paste” do trabalho dos outros, muitos deles tirados da internet. Depois de algumas modificações, os produtores apropriam-se dos mesmos. “Isso é meio caminho andado para a perda da credibilidade. Se queres ser valorizado, tens que ser original”, alerta.

Emmanuel Francis, um técnico que tinha uma escola de música na Academia Jota Monte, em Monte Sossego, poderá ajudar quem gosta de se aventurar por essa vertente artística. É que ele pretende arrancar uma formação em educação musical.

Francis tem em pauta o ensino de masterização e sistema de som aos jovens, usando equipamentos próprios. Espera apenas um lugar para iniciar as aulas, pois alunos não lhe falta. O curso está concebido para diferentes formatos, para que os aprendizes saiam preparados para o mercado profissional. “Neste momento, graças a tecnologia, pode-se lançar um CD mesmo a partir do quarto de cama. Mas, a qualidade não é a mesma“, salienta Francis. Como diz, qualquer um pode aprender no Youtube, mas, se não encontrar um orientador capaz de lhe tirar as dúvidas, o resultado fica aquém do pretendido. Logo, o seu objetivo é ajudar os interessados em conhecer o mundo da masterização e seguirem uma carreira profissional.

Sidneia Newton (Estagiária)

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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