Os Tubarões-Azúis encalharam-se a caminho do Egipto para o CAN-2019, ao consentirem um empate a zero com a selecção do Lesoto, quando a meta era “apenas” conseguir a vitória. Com esse resultado, a formação nacional fica no último lugar do grupo L com apenas 5 pontos, quando era vista como uma das favoritas ao apuramento para a copa africana. A verdade, no entanto, foi adversa: em seis partidas, a equipa liderada tanto por Lúcio Antunes como por Rui Águas marcou apenas 4 golos, sofreu 3 derrotas, venceu um confronto e empatou hoje no último jogo, apesar do apoio do público.
“Lamento esse desfecho. Pelo menos poderíamos ter ganho o jogo e dar esse prémio às tantas gentes que vieram ao estádio”, comentou o técnico dos “tubarões”, para quem Cabo Verde tinha a obrigação de vencer na cidade da Praia, já que, diz, nas competições africanas, as qualificações são feitas fundamentalmente nos jogos em casa. Esta mensagem, conforme esse treinador de nacionalidade portuguesa, foi passada e até que entrou na mente dos jogadores, mas, por outro lado, jogaram com o agoiro da eliminação sobre a cabeça, o que, na sua perspectiva, era algo difícil de ser eliminado.
Segundo Águas, a equipa arriscou, perdeu umas cinco ou seis oportunidades e ficou longe do seu objectivo. Até ao intervalo, o técnico sentiu que havia ainda esperanças, quando alguém lhe informou, erradamente, que o Uganda vencia. Como contou aos jornalistas, pensou em repassar esse dado aos seus pupilos, mas não o fez. “E felizmente que não disse isso aos jogadores.”
Este resultado desagrada claramente os adeptos dos Tubarões-Azúis e pode mesmo colocar em causa a continuidade de Rui Águas na equipa técnica. Para o treinador, ainda há condições para continuar o projecto traçado com a Federação Cabo-verdiana de Futebol, mas, como ele mesmo realça, os acordos podem também ser desfeitos. Além do mais, frisa, o plano da FCF pode ser levado a cabo por outros técnicos, se o presidente Mário Semedo entender dar oportunidade a outro timoneiro. No entanto, Águas deixa claro que a selecção de Cabo Verde tem enfrentado sérias dificuldades para se renovar e participar em competições amigáveis, jogos que poderiam manter os jogadores e os técnicos mais próximos e activos.
Cabo Verde e Lesoto ficaram arredados da copa africana, que acontece no Egipto de 5 de Junho a 13 de Julho, pois o empate acabou por ser penalizador para ambas as equipas. Aliás, a formação adversária foi acusada de tentar “perder” tempo ao longo da partida, mas o treinador assegurou que veio com o único objectivo de jogar para ganhar. Do outro lado, a Tanzânia e o Uganda alcançaram o apuramento no grupo L, apesar da vitória dos tanzanianos por 3 a zero.
Cabo Verde agora terá de pensar na qualificação para o Mundial. Mas, com essa performance, pouca gente já acredita nessa façanha.
Eu gosto do analista desportivo Benvindo Neves mas, às vezes ele mais parece um jornalista que “só por um acaso” está a trabalhar no desporto, que procura ser sério, e que por isso, vai aprendendo a compreender o mundo do desporto, particularmente do futebol, do que alguém que conhece os meandros (os feelings) do desporto e que por isso (por amor e feeling) tenha enveredado e se especializado no jornalismo desportivo. Parece-me que o que lhe falta para ficar completo, é precisamente essa especialização. Talvez ele tenha a necessidade de fazer um estágio em Portugal, com os comentadores da SIC ou da Sport TV. Refiro-me de entre outros comentários de outros momentos, a dois comentários que ele fez após o empate com o Lesoto e consequente eliminação do CAN 2019. Ele pôs a tónica em dois aspectos: 1º) A grande perda de golo por parte do Ryan Mendes. 2º) E a propósito da permanencia ou não do Rui Águas, ele só fez referência ao grande objectivo não atingido pelo treinador. QUANTO AO PRIMEIRO: na sua análise, esqueceu-se de observar que tratou-se de uma excelente jogada do Ryan Mendes mas, que acabou por ficar com um ângulo muito reduzido para o remate e ainda por cima, com o guarda redes muito bem colocado a fechar por completo e mais ainda esse pequeno ângulo, pelo que o Ryan foi muito inteligente ao tentar colocar a bola no buraco da agulha que ficou entre o guarda redes e o poste mais distante. Assim sendo, o Ryan não falhou mas sim, procurou fazer o quase impossível. NAQUELA SITUAÇÃO, ERA QUASE IMPOSSÍVEL MARCAR-SE AQUELE GOLO. Por isso penso que o comentário foi feito com alguma ligeireza, não transmitindo a verdade do que aconteceu. QUANTO AO SEGUNDO: Ele, para além de sublinhar que Rui Águas não atingiu o pricipal objetivo, também afirmou que “há muito, muito tempo que Cabo-verde não tinha tido uma performance tão negativa como desta vez” porque Cabo-verde ficou no último lugar. Ora! É também uma ligeireza tentar insinuar a culpa só em cima do treiador. Em matéria de jogadores, Cabo-verde tem o que tem e é com isso que um treinador pode contar. O treinador não pode fazer milagres. Já quanto a haver muito muito tempo que Cabo-verde não tinha tido uma performance tão negativa, eu diria que antes de afirmar é preciso primeiro ter em conta a verdadeira história do futebol cabo-verdeano. E quem a conhece, sabe que é precisamente o contrário. Depois de há muitos anos atrás termos vencido uma Taça Amilcar Cabral disputada em casa, e num torneio quase em familia, foi só nestes últimos tempos é que o nosso país começou a fazer alguma coisa no futebol internacional, particularmente no Africano, com duas recentes participações no CAN mas, com os resultados que todos conhecemos (eliminados na 1ª eliminatória após a fase de grupos e eliminados ainda na fase de grupos). E isso já foi muito bom para nós, só que por isso, já achamos que temos de passar a ganhar TUDO e SEMPRE. É coisa de “PITO QUE NUNCA VIU O CANHATO”! Ainda vamos levar muito tempo para chegarmos nesse patamar de grandes clubes Africanos (Gana, Costa do Marfim, Camarões, Marrocos, Argélia, Tunísia, Egipto, Nigéria, África do Sul, Senegal, entre outos) que precipitadamente e até, irresponsavelmente, já nos querem colocar. Precisamos cuidar dessa nossa vontade de apontar o dedo, dessa nossa tendencia para nos afogarmos em ilusões com qualquer coisinha ou qualquer vitória, ser um pouco mais humildes, realistas e mais honestos com nós mesmos para não virmos a criar frustrações por causa da falta de cuidado nas análises que fazemos e nas falsas expectativas que criamos.