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Economista Gunter Pauli, autor do conceito da Economia Azul, revela que C. Verde tem potencial para produzir 100 mil toneladas anuais de hidrogénio

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Além do hidrogénio, o arquipélago pode gerar biogás, ganhar total autosuficiência energética e até exportar energia, segundo o economista belga.

Gunter Pauli, autor do conceito da Economia Azul, afirmou hoje na cidade do Mindelo que Cabo Verde tem condições para produzir 100 mil toneladas de hidrogénio anuais a partir da energia do vento e da ondulação do mar. Segundo o economista, que realizou esta manhã um encontro com a administração da Enapor, este é um enorme potencial que ninguém antes tinha percebido e que foi detectado após realizar uma primeira visita às ilhas há cerca de um mês. “Isto quer dizer que Cabo Verde pode ser uma central no Atlântico para subministrar e vender hidrogénio aos barcos provenientes da Europa e dos Estados Unidos”, salienta o especialista, que está no arquipélago com base num acordo entre a Enapor e a sua empresa Blue Innovation.

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Gunter Pauli salienta igualmente o extraordinário potencial em energia eólica e solar presente neste arquipélago atlântico, mais precisamente em S. Vicente, Santo Antão e Sal. A ilha de Santo Antão, diz, posiciona-se como um dos melhores sítios para a prática do desporto náutico Kitesurf, enquanto S. Vicente tem capacidade para produzir 17 megawatts de energia por ano através do vento a alturas que vão dos 200 aos 400 metros. “Este potencial de energia pode indicar que Cabo Verde, só com as três ilhas estudadas até agora, pode ter autossuficiência de energia. Não é 50% de autossuficiência, mas sim 100%”, afirma, acrescentando que o país, além de poder garantir o abastecimento interno, pode ainda exportar energia.

Numa segunda ronda de visita, prossegue o economista, foi analisado o potencial energético do lixo e das águas negras, por estas possuírem muitos nutrientes, para produção de biogás. E quem tem biogás, reforça, dispõe também de fertilizantes importantes para a agricultura. No tocante a este ramo, Gunter Pauli adianta que Cabo Verde poderia reforçar a sua matéria-prima com o lixo orgânico dos navios cruzeiros no processo de produção desse tipo de energia.

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O economista adianta que ontem efectuou uma visita à ilha do Sal e identificou 65 hectares para a produção de peixe e camarão. A seu ver, trata-se de uma área ideal que poderia acolher o maior centro de produção desses produtos em toda a sub-região africana.

Ainda no Sal, prossegue, foi identificado na zona norte um terreno de 100 hectares propício para a produção de alimentos e com potencial para gerar 1.200 empregos. “Este empreendimento pode substituir a importação de frutas e de legumes”, prognostica essa fonte, para quem os hotéis precisam passar a gerir o lixo visando criar biogás.

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Questionado sobre o nivel de investimento que essas “propostas” podem acarretar, o economia responde que todo o empreendimento exige um fluxo de caixa. Havendo dinheiro, acontece a obra. Frisa, no entanto, que o importante é haver um modelo de negócio bem identificado. No caso do biogás, explica que os navios cruzeiros podem pagar para depositar o seu lixo e com isso gerar capital de investimento.

Os maiores clientes do biogás, na visão desta fonte, serão a própria população das ilhas. Já o hidrogénio pode ser destinado às transportadoras e embarcações que procuram os portos de C. Verde. Segundo Pauli, toda a gente fala em hidrogénio azul e verde, mas não há disponibilidade. Logo há um mercado, há demanda, que precisa de ser satisfeita.

Hoje, Gunter Pauli vai visitar Fogo e depois Boa Vista, num périplo que abarca outras ilhas com o objectivo de identificar oportunidades ligadas à economia azul. A sua vinda enquadra-se no projeto intitulado “Carteira de Oportunidades para as Ilhas de Cabo Verde”, desenvolvido no âmbito do acordo celebrado com a Enapor a 4 de novembro do corrente ano. O objetivo estratégico da iniciativa passa pelo envolvimento de todas as ilhas na criação de uma estrutura de cooperação que permita identificar e desenvolver um portfólio de oportunidades sustentáveis, promovendo a inovação, o crescimento económico e o equilíbrio ambiental, em alinhamento com os princípios da Economia Azul.

A agenda em São Vicente inclui, para além da visita ao Porto de Cruzeiros do Mindelo, encontros institucionais, nomeadamente com o Ministro do Mar, bem como encontros técnicos a projetos de inovação ambiental como a ETAR/Lixeira do Mindelo e a Fazenda do Camarão, no Calhau.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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