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Esquemas piramidais em Cabo Verde: Quando a ganância fala mais alto que o bom senso

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Rony Wahnon

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Nos últimos anos em Cabo Verde, especialmente a juventude, tem sido alvo de um fenómeno preocupante: a proliferação de esquemas piramidais financeiros, muitas vezes mascarados de “investimentos milagrosos”, “trading revolucionário” ou “oportunidades de independência financeira”. O problema não é novo, mas cresce num ritmo que merece reflexão profunda e ação urgente.

Em tempos de crise económica, desemprego jovem, e sonhos cada vez mais caros, é fácil perceber por que tantos jovens são atraídos por promessas de lucro rápido e fácil. Quem nunca ouviu alguém dizer: “entra agora, investe pouco e em poucos dias tens retorno garantido”? Para muitos, esse discurso soa como a única saída possível. Mas é precisamente essa vulnerabilidade que os golpistas exploram.

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A verdade é simples, não existe lucro garantido sem risco. E quando alguém promete “dinheiro rápido” e sem esforço, a probabilidade de ser fraude é praticamente total. Os esquemas piramidais funcionam como uma bomba-relógio: no início, pagam alguns participantes para parecerem legítimos, mas vivem apenas do dinheiro dos novos aderentes. Quando a base deixa de crescer – e ela SEMPRE deixa, o esquema colapsa, e os últimos a entrar são os que mais perdem. Infelizmente, na maioria dos casos, esses “últimos” são jovens em busca de esperança.

Mais grave ainda é o impacto social. Numa sociedade pequena como a Nossa, em que todos se conhecem, a quebra de confiança deixa marcas profundas. Amizades deterioram-se, famílias entram em conflito e reputações são manchadas. Muitos caem não apenas por ignorância, mas por influência de pessoas próximas, que também foram enganadas e acreditam estar a ajudar. O problema é que o ciclo da mentira passa facilmente da ingenuidade para a ganância: “se eu já perdi, agora quero recuperar, então vou trazer mais pessoas”. Assim, a fraude multiplica-se.

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O que mais impressiona é como esses esquemas se adaptam: hoje dizem chamar-se “trading”, amanhã “marketing digital”, depois “comunidade de Criptomoedas”. Mudam o nome, mas nunca o mecanismo. O brilho das palavras modernas apenas esconde a velha armadilha de sempre.

Cabo Verde merece uma juventude que investe, sim – mas com conhecimento, transparência e responsabilidade. Não podemos continuar a permitir que as vulnerabilidades económicas sejam terrenos férteis para quem vive de manipular sonhos.

A prosperidade verdadeira nunca vem de atalhos. E num país onde cada jovem conta para o futuro é fundamental separar esperança de ilusão, oportunidade de armadilha.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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