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Parlamento: Deputada Mircéa Delgado afirma que C. Verde precisa ser libertado da “rigidez centralizadora”

A deputada Mircéa Delgado afirmou no Parlamento que Cabo Verde precisa ser libertado da “rigidez centralizadora”, prática que nestes 50 anos de independência tem negado a capacidade criadora das potenciais regiões do país e desconfiado da competência dos que vivem nas chamadas ilhas periféricas. A parlamentar eleita pelo MpD em S. Vicente, reforçou que o país precisa “retirar argumentos a um bairrismo silencioso” que, salientou, se vai instalando e enfraquecendo a unidade nacional. “Isto só será possível combatendo de frente a centralização que põe em causa a justiça territorial e o desenvolvimento harmonioso das nossas ilhas”, sustentou.

Mircéa Delgado, que interveio na sessão sobre o Estado da nação, perguntou por que razão S. Vicente continua a apelar, com tanta insistência, por uma regionalização, que continua a ser negada tanto à ilha quanto ao resto do país. A deputada lembrou que persiste um sentimento de abandono instalado em parte do território, o que muitas vezes acaba por colocar algumas ilhas de costas voltadas para outras. Esta realidade, diz, alimenta um “sentimento bairrista”, que aumenta na proporção direta da centralização do país.

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“Para ser justa, impõe dizer-se que nenhum dos partidos do arco do poder pode apontar o dedo ao seu adversário direto, porque a centralização que começou com a Independência, paradoxalmente, vem ganhando força e vigor com o Regime Democrático implementado no país”, constatou, dirigindo-se directamente para o Primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva.

Decorridos 50 anos sobre a Independência, e quase 35 depois da instauração do regime democrático, Cabo Verde precisa encontrar com urgência, segundo a citada fonte, o caminho para uma verdadeira unidade nacional. Uma unidade capaz de garantir as condições de igualdade a todos os cidadãos, vivam eles na Brava, em São Nicolau, no Maio, em Santo Antão, em São Vicente, Santiago ou noutra ilha qualquer do arquipélago.

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Sobre o Estado da Nação, continuou a parlamentar, as populações de Santo Antão à Brava, bem como as da emigração, estarão interessadas em saber, para além de muitos outros assuntos importantes, o que pensam os sujeitos parlamentares (o Governo e os deputados) sobre a “dramática” perda de população na Brava, o motivo de Fogo andar também a perder gente e qual a justificação para o abandono do interior de Santiago, da ilha do Maio, de S. Nicolau… Fenômeno que, sublinhou, acaba por obrigar as pessoas a emigrar ou a viver na cidade da Praia e a aumentar os conhecidos problemas vivenciados nos bairros da Capital.

A jovem parlamentar reconheceu as melhorias trazidas com a implementação do poder local em C. Verde. Enfatizou, no entanto, que não se pode pedir às Câmaras Municipais aquilo que não podem dar. Na sua perspectiva, o reforço do poder local, “embora necessário”, não substitui a Regionalização, processo que considera ser urgente. Segundo Delgado, insistir na ideia de descentralizar para o poder local competências e atribuições que, pela sua natureza, deveriam ser transferidas para as Regiões, constitui um erro cujos custos Cabo Verde já começou a pagar. Contas que, antevê, vão-se agravar com o passar dos anos.

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A intervenção de Mircéa Delgado foi em parte inspirada num post do activista social António Silva, que chamou atenção para o facto de a evolução anual aproximada do PIB per capita nos arquipélagos da Macaronésia nos últimos 50 anos indicar que Cabo Verde é o menos desenvolvido e com maior desigualdade entre as ilhas.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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