Pub.
Pub.
CarnavalCultura
Tendência

Carnaval 2025: Agremiações oferecem espectáculos de elevada qualidade, com poesia, luz e “vibe” pelas sete ruas de morada 

Os cinco grupos oficiais do Carnaval de São Vicente – Vindos do Oriente, Flores do Mindelo, Estrela do Mar, Cruzeiros de Norte e Monte Sossego -proporcionaram um espetáculo de elevada qualidade ao público presente no centro da cidade, mas também nas ilhas e na diáspora, com muita poesia, arte, luz e brilho. As agremiações apresentaram uma diversidade de temas, trabalhados ao mínimo detalhe e com maestria, figurinos de luxo, coreografias elaboradas e música na ponta da língua, antevendo-se um trabalho duro para os jurados que, esta quarta-feira, vão premiar os melhores.  

O primeiro grupo, o Vindos do Oriente entrou na emblemática rua de Lisboa faltava ainda alguns minutos para as 19 horas. Apresentou um desfile grandioso, com três andores e dois tripés, cerca de mil figurantes e uma música cativante para contar a sua história “As filhas de Ísis, no berço da vida, lutas e conquistas”. Prestou homenagem a várias figuras femininas da cultura, do desporto, da música, para além da sua eterna presidente D. Lili e a vice – Cely Freitas. Ao longo de todo o percurso, VO foi muito aplaudido, numa clara demonstração de apoio após quatro anos de sentida ausência. 

Publicidade

Seguiu-se o Flores do Mindelo, cuja alegria e animação compensaram as dificuldades para concretizar na totalidade o enredo “Um sonho, um desejo, uma viagem da África para Amazónia”, da autoria da presidente Ana Soares, conforme admitiu o vice-presidente. “Não foi fácil colocar este carnaval na rua porque os materiais estão caríssimos e os patrocínios escasseiam. As empresas optam por apoiar os chamados grupos grandes, em detrimento dos com maiores dificuldades. Flores do Mindelo é um grupo discriminado, por isso fazer este carnaval que estamos a apresentar não é fácil”, declarou Nelson Gomes, que lamentou ainda a atribuição tardia dos apoios tanto da CMSV como do Ministério da Cultura, mesmo reconhecendo o esforço destes. “Por isso, ficamos satisfeitos com aquilo que conseguimos. Não foi possível concretizar o nosso projecto na totalidade, mas ficamos perto.”

 O Estrela do Mar foi o terceiro grupo, com o enredo “I Love Terra”, em defesa do ambiente, mais precisamente do verde pomar. Desfilou com 600 foliões, dois andores – um terceiro ficou retido no estaleiro – e um tripé. Para o presidente,  o grupo cumpriu o objetivo proposto, mas em meio a muitas dificuldades. “Tivemos apenas três semanas de estaleiro e fomos chantageados por uma costureira. Apresentamos este ano equipamento próprio, mas a costureira falhou connosco. Não nos entregou os figurinos, mesmo com a fatura paga. Ela decidiu priorizar outro grupo, apesar de termos entregue todos os materiais com dois meses de antecedência  Um dos andores ficou no estaleiro porque o espaço era exíguo. Tentamos manejar o carro, mas acabou por danificar. Sabemos que isso vai nos prejudicar, mas estamos a apresentar o nosso melhor. O esforço foi enorme”, detalhou o presidente Júlio do Rosário.

Publicidade

O Cruzeiros do Norte veio este ano para disputar o lugar cimeiro do pódio, após falhar o alvo no ano passado. E conseguiu cumprir o objectivo de fazer brilhar o “Farol do Atlântico brilhante de mil luzes”, do carnavalesco Fernando “Noia” Morais. “Conseguimos materializar o nosso enredo e vamos brigar pelo título. No ano passado sentimos que fomos injustiçados e isso nos deu mais força para trabalhar ainda mais para dar a esta ilha este espetáculo maravilhoso e merecido. Trouxemos 1.250 figurantes e quatro andores, que é algo que há muitos anos não se via no Carnaval de S. Vicente. Esta foi, aliás, a grande surpresa que preparamos para este desfile. Também trouxemos dois tripés,” explicou o presidente desta agremiação, Jailson Juff, que aproveitou para elogiar o trabalho de Noia.

Cada um dos quatro carros alegóricos, afirma este dirigente carnavalesco, conta uma história, deste a chegada dos portugueses em Cabo Verde no primeiro, passando pela vinda dos africanos, a miscigenação e termina apresentando a cultura nacional que hoje é exportada para o exterior.  

Publicidade

Monte Sossego foi o ultimo grémio a desfilar e fechou a noite com chave de ouro. O grupo apresentou um desfile grandioso para celebrar este que é o maior bairro da ilha de S. Vicente com o enredo “Terra d’ índio em festa” para celebrar os seus 40 anos de história. Desde a comissão de frente até a velha guarda, Montsu celebrou a iniciativa de um grupo de crianças que imaginou um bloco de Carnaval e equiparam-se de latas de leite usadas, formando uma bateria, e uma “padiola” usada em obras transformada em alegoria. A bateria de hoje ultrapassou os 250 integrantes, os andores atingiram os 16 metros e os 50 integrantes multiplicaram-se para 1.300. 

Em suma, mais um Carnaval que fica para a história pela qualidade dos artistas, criatividade e um talento indiscutível que se manifesta sobretudo em condições difíceis. 

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo