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Quase lá: A agonia dos cabo-verdianos no Brasil e os voos que nunca decolam

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Arlindo Rocha

A realidade dos cabo-verdianos residentes no Brasil parece resumir-se a um ciclo vicioso de esperanças esvaziadas e promessas não cumpridas.

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A frase “Estamos sempre quase lá, mas nunca decolamos de verdade” não é uma metáfora poética; é um lamento coletivo, um retrato da negligência estrutural que mantém uma comunidade inteira refém de uma montanha-russa de expectativas alimentadas pela Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) e o atual Governo de Cabo Verde, capitaneado pelo Sr. Primeiro-ministro José Ulisses Correia e Silva.

Os voos entre Brasil e Cabo Verde foram suspensos desde 2019 e, desde então, não foram retomados. Para ludibriar os cabo-verdianos residentes no Brasil, em face a tantas críticas, a partir de 2023, deu-se início a uma sequência de anúncios grandiosos e subsequentes cancelamentos, o que expõe um padrão de desorganização e falta de transparência que beira o absurdo.

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Vejamos:

1. Em agosto de 2023, a TACV prometeu retomar voos para o Brasil e os EUA, gerando alvoroço entre famílias separadas pelo Atlântico. Resultado? Silêncio.

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2. Dias depois, veio a notícia de um voo Fortaleza-Cabo Verde com conexões para Lisboa e Paris. Resultado? Nada decolou.

3. Em outubro, a comunidade, já exausta, lançou uma petição exigindo ligações aéreas diretas. Resposta? Ignorada.

4. Em dezembro, um acordo com um grupo de viagens foi celebrado com estardalhaço. Resultado? Mais um capítulo vazio.

5. Em abril de 2024, a promessa reciclada: “Voos em junho!”. Conclusão? O mesmo desfecho: frustração.

Enquanto isso, os cabo-verdianos no Brasil enfrentam um isolamento logístico e afetivo. Sem voos diretos, o custo exorbitante de passagens (com escalas em Portugal) transforma viagens em sonhos inacessíveis.

Reencontrar familiares, resolver questões burocráticas ou até emergências tornaram provas de resistência, enquanto a TACV e o Governo cabo-verdiano parecem tratar o tema com uma desconcertante leveza.

A pergunta que ecoa é: até quando?

O que explica tanta incompetência institucional? Seria falta de prioridade política? Má gestão? Ou simples desprezo pela diáspora, historicamente vital para a economia cabo-verdiana, mas tratada como mero detalhe?

A petição ignorada e os comunicados vazios sugerem uma desconexão entre o poder público e a realidade de quem clama por dignidade básica: o direito de ir e vir.

O caso da TACV não é apenas sobre aviões que não decolam – é sobre direitos negados e esperanças soterradas.

Enquanto o governo cabo-verdiano não assumir responsabilidade e agir com transparência, a comunidade continuará gritando, como no desespero: SO-COR-RO…

Queremos RESPOSTAS, já!

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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