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Grupo de voluntários pede acesso a canil e que a CMSV suspenda captura de cães na rua

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A médico-veterinária Letícia Oliveira pediu hoje à Câmara de S. Vicente para cessar a captura de cães na rua e permitir o acesso dos cuidadores voluntários ao canil municipal, onde neste momento estão retidos 33 animais sem as mínimas condições de salubridade. Segundo esta cidadã brasileira, o espaço está superlotado pelo que, aumentar essa população e sem a devida triagem, só vai complicar a já difícil gestão do canil.

Aliás, Oliveira diz temer o fim dos animais se continuarem confinados nessas pequenas celas sem água, alimentos e acompanhamento médico. E, pelas informações que dispõe, os primeiros cães chegaram a ficar 4 dias privados de água, mantidos em espaços quentes.

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A campanha de captura de canídeos, conforme esta porta-voz de um grupo de cuidadores voluntários, desrespeita, inclusivamente, um acordo estabelecido com o vereador José Carlos numa reunião realizada no dia 25 de julho. O encontro, explica, teve por objectivo analisar a questão da captura dos cães e encontrar uma medida de médio e longo prazo para o problema, com o auxílio de algumas associações. Vários pontos foram acordados durante o encontro, sendo um deles, segundo essa fonte, o fim da apanha de cães na rua e a consequente introdução dos animais no canil.

Veterinária Letícia Oliveira, porta-voz grupo de voluntários

“Porém, menos de 24 horas após o diálogo, foram introduzidos mais 12 animais no canil, quebrando assim o acordo. Após tamanho desrespeito, foi solicitado ao vereador que se dirigisse ao canil. No seguimento, apareceu o Presidente da Câmara acompanhado do Vereador, que alegou não estar a descumprir nenhum acordo e tentou impedir que a associação Simabô recolhesse os cães doentes e não-castrados”, revela Letícia Oliveira. Nesse dia, acrescenta, as partes voltaram a dialogar e aceitaram continuar com as propostas anteriores. Estas incluíam ainda permitir que a associação Simabô recolhesse os animais doentes para tratamento, o cuidado aos cães sem dono, entrada de um veterinário no canil, a devolução aos donos dos animais documentados, desparasitação e atestado dos animais em bom estado de saúde…

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“No entanto, no dia 5 de agosto a Câmara trouxe mais dois cães da Baía das Gatas e um deles acabou por ser encontrado morto no canil na manhã seguinte”, acrescenta a veterinária. Segundo a mesma, no dia 6, funcionários da autarquia levaram mais 9 animais para o canil, onde chegaram em situação de sofrimento, angústia e com respiração alterada devido a forma como foram apanhados e por terem sido transportados numa viatura sem ventilação. Neste dia, salienta a mesma fonte, o grupo de cuidadores ficou a saber de um funcionário da CMSV de que as capturas de cães iriam continuar.

Algum tempo depois, prossegue a médica brasileira, o vereador José Carlos esteve no canil, conversou de dentro do carro com o guarda do local e deixou claro que os voluntários estavam proibidos de entrar no canil e que nenhum animal poderia sair do espaço. Uma medida que deixou o grupo indignado visto, que, segundo Letícia Oliveira, eles é que têm assumido a limpeza do espaço e a alimentação dos cães com a ajuda de empresas e da sociedade civil. Daí questionar o que irá acontecer aos cães se a edilidade não assume a sua responsabilidade e impede, por outro lado, os voluntários de trabalhar.

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Questionada se os animais podem morrer nas condições em que se encontram, Letícia Oliveira admite esse cenário. Adianta, aliás, que houve animais que acabaram por cair nos tanques da ETAR – Estação de Tratamento de Águas Residuais -, que fica na mesma área do canil. Informa que foram encontrados cerca de cinco cães mortos no esgoto e que outros quatro foram resgatados. Um dos animais, diz, foi retirado de uma tubulação de esgoto por um voluntário.

Depósito de água residual da ETAR situado ao lado do canil

Como veterinária, Letícia Oliveira diz estar preocupada com a situação dos cães de rua, mas fica ainda mais indignada com a falta de adoção de uma política pública capaz de solucionar o problema da população de canídeos. Critica ainda a insistência da CMSV em seguir uma prática que, na sua opinião, se mostra ineficaz e que choca a população mindelense.

“Pedimos que a Câmara Municipal nos permita continuar o trabalho que temos vindo a fazer, de desparasitação, castração, cuidados de saúde, procura de donos e/ou adotantes com estes animais que já foram recolhidos”, apela a porta-voz, para quem a solução da CMSV não é justa, sustentável, humanitária, nem agrada a sociedade.

Aquilo que os cuidadores propõem, como revela a veterinária, é devolver os cães às comunidades onde são cuidados, recolher os animais doentes para tratamento e castração, cuidar dos sem dono e coloca-los para adopção, devolver os animais aos legítimos donos e disponibilizar o serviço de um veterinário ao canil para fazer a leitura de chips e disponibilizar cuidados clínicos aos animais. O Mindelinsite tentou ouvir a reação da CMSV, mas a nossa reportagem foi informada pelo vereador José Carlos que se encontra na Baía das Gatas a preparar o festival. Contamos ouvir a sua versão dos factos numa próxima oportunidade.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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