Por: António Santos
Cabo Verde, à semelhança do Brasil, Índia, África do Sul e Arábia Saudita, não deveria ter assinado o texto final da Cimeira da Paz para a Ucrânia, mantendo-se coerente com os princípios do Movimento dos Países não Alinhados (do qual faz parte) de neutralidade face aos blocos liderados pelas duas superpotências (Estados Unidos e Rússia). Deveríamos, como muitos países fizeram, pressionar os organizadores da Conferência de Paz para a Ucrânia a convidar a Rússia a participar
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Mas, como os dirigentes do nosso país gostam de navegar em “águas ligeiramente turvas”, assistimos a declarações de princípio óbvias, que não levam a lado nenhum. Como por exemplo, a “tirada” do Primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva: “a guerra não é solução para nada, só provoca destruição e morte. Estamos empenhados e desejosos para que, de facto, se consiga alcançar a paz na Ucrânia”.
É claro que a opinião pública nacional e internacional estão plenamente de acordo com essa forma de pensar do chefe do Executivo cabo-verdiano que, fazendo jus aos seus pensamentos, deveria defender uma neutralidade de Cabo Verde sobre este tema e, em paralelo, desenvolver uma atividade diplomática junto dos Governos russo e ucraniano que permitissem criar pontes de diálogo conducentes à paz.
Todavia, esse não é o caminho idealizado por Ulisses Correia, que prefere alinhar descaradamente pelos EUA e pelos países europeus, “oferecendo” inclusivamente o país para servir de base operacional aos aviões norte-americanos.
Mas o “alinhamento” do Governo cabo-verdiano com os americanos e com os países europeus nas guerras estende-se ao médio Oriente, com o apoio “indisfarçado” de Ulisses Correia aos israelitas. Ainda não se ouviu uma palavra do nosso Primeiro-ministro sobre os massacres perpetrados pelos israelitas contra civis palestinianos. Será que, para Ulisses Correia, todos esses civis são perigosos militantes do Hamas?
Os recentes encontros oficiais com responsáveis dos EUA e da NATO indiciam que o Governo do MpD se está a preparar para facilitar a entrada da NATO, assim como dos militares norte-americanos, nas zonas estratégicas cabo-verdianas, designadamente instalações militares. Mandando “às urtigas” todos os princípios do Movimento dos Países Não Alinhados.
Todos sabemos que os EUA têm meses para sair do Níger e, por isso, é necessário, do ponto de vista norte-americano, acelerar a instalação da aviação da Guarda Nacional de New Hampshire, transformando assim todo o arquipélago numa grande base militar multifuncional (mar, ar, terra, comunicações, drones, espaço para interrogatório leia- se tortura, etc.) dos USA.