O Porto Grande do Mindelo precisa ser expandido com alguma urgência, sob pena de enfrentar uma estagnação nos tráfegos de carga e passageiros a partir do ano 2030. A informação foi avançada esta manhã pelo Comandante José Fortes no terceiro seminário organizado pela Comissão Adhoc + São Vicente sobre o ordenamento da orla marítima da Cidade do Mindelo. Em conversa com o Mindelinsite, o representante da Enapor assegurou que o projecto de expansão física do porto se encontra em fase adiantada e que a empresa está neste momento à procura de financiamento dessa obra orçada em mais de 80 milhões de euros.
“Se a expansão não for feita de forma imediata, o Porto Grande pode registar uma estagnação, por isso estamos a falar de um investimento a curto prazo”, realça o assessor do gabinete do Conselho de Administração da Enapor. Segundo este ex-responsável do IMP, a intervenção visa construir uma “perna” para o interior da baía no prolongamento do formato em “F” do Porto Grande, aumentar a largura dos cais 1 e 2 para receber em melhores condições porta-contentores, criar um quebra-mar, que permitirá ao mesmo tempo a atracação de navios de granéis sólidos e líquidos. Os cais números 3 e 4 pasarão a ser destinados aos barcos de pesca para transbordo. Na mesma linha, o parque de contentores será aumentado. Esta obra, acrescenta José Fortes, está concebida para comportar o crescimento do tráfico no Porto Grande até 2047.
Questionado se a extensão do cais será direcionada para o lado da praia da Lajinha, este Comandante da marinha mercante nega essa ideia redondamente. A obra, assegura, vai dar continuidade ao sentido do enrocamento do cais internacional do Mindelo, ou seja, para o largo.
No seminário, que abordou o ordenamento da “zona portuária”, José Fortes lembrou que a Enapor tem estado a desenvolver planos e projectos que comportam a orla marítima do Porto Grande. Neste propósito, fez menção a um plano de ordenamento desenvolvido pelo gabinete de arquitectura César Freitas em 2016, mas que, diz, já se encontra desactualizado. Isto porque, lembra, já aconteceram obras na frente marítima, como a construção do hotel Sheraton na Lajinha, assim como a do hotel Ouril, iniciativas que, enfatiza, estão fora do âmbito de controlo da Enapor. Por outro lado, salienta que foi iniciada a obra do Terminal de Cruzeiros, que estará pronta dentro de meses. Mudanças que, segundo Fortes, obrigam a uma readaptação do plano elaborado pelo referido arquitecto, que, nas suas palavras, fez um bom trabalho.
“Um dos grandes problemas que enfrentamos nesta área da orla é a exiguidade da rede rodoviária. Esta questão tem de ser resolvida de forma profunda com o envolvimento de todos”, frisa José Fortes, que evitou, entretanto, falar sobre a eventual transladação das estruturas petrolíferas da Vivo Energy da Avenida Marginal, ideia esta há muito defendida por vários intervenientes por uma questão de estética, mas também de segurança. A libertação do espaço serviria para a implementação de projectos turísticos e imobiliários.
Cenários para o Porto Grande
O painel discutido esta manhã abordou o ordenamento da chamada zona portuária. Além de José Fortes, houve a intervenção do engenheiro Luís Nataniel, actual PCA da Sociedade de Desenvolvimento Turístico da Boa Vista e Maio, que apostou numa apresentação mais no sentido macro. O seu foco foi fundamentalmente as alternativas de expansão, desenvolvimento e interação do Porto com a cidade do Mindelo, no quadro da chamada economia azul.
Sucintamente, adianta que foram aventados três cenários para o futuro do Porto Grande do Mindelo. O primeiro prevê a manutenção da infraestrutura onde está, com a sua expansão física. O segundo aponta a deslocalização do porto para a área Sul da baía, junto as zonas do Lazareto e do Morro Branco, onde se situa o campo de treinamento militar das Forças Armadas. O terceiro aventa a possibilidade de construção do porto fora da baía do Mindelo, provavelmente na praia de Saragaça.
Cada uma das alternativas, diz, já foi alvo de estudos, que apresentam vantagens e constrangimentos próprios. “Temos de levar em linha de conta factores importantes, como o custo dos investimentos, as operações portuárias, áreas de expansão, interação com a cidade, impactos ambientais, custos dos transportes terrestres, etc.”, frisa Luís Nataniel. Ele próprio relembra que S. Vicente tem uma relação umbilical com o Porto Grande e que, retirar essa infraestrutura da baía, iria ter impactos negativos na própria competitividade do Porto Grande do Mindelo com os portos da sub-região africana.
Na conversa com o Mindelinsite, o Comandante José Fortes chegou a adiantar, em resposta a uma pergunta da nossa reportagem, que o projecto em cima da mesa contempla a expansão do Porto Grande a partir da sua estrutura existente. Aliás, enfatizou que o projecto de deslocalização para a zona do Lazareto deixou de fazer sentido porque essa faixa marítima já não está sob jurisdição da Enapor.
O painel foi mediado pelo Eng. Franklim Spencer, ex-PCA da Enapor, e que esteve envolvido na elaboração de projectos de transformação da orla marítima do Mindelo. Pontua que desde 1993 que a Enapor tem trabalhado com o Governo sobre o futuro da orla portuária de S. Vicente. A nível individual, acrescenta, a empresa elaborou um plano director de toda a baía do Mindelo, que vai da praia da Lajinha à zona litoral do Lazareto. Enfatiza que a chamada Entrada Norte do Porto Grande – acesso ao parque de contentores – é fruto desses projectos, tal como a construção do Terminal de Cruzeiros, obra em curso.