Sofreu uma lesão na zona lombar na sua juventude devido a uma briga com um colega. Conta que foi empurrado e embateu as costas num objecto duro, mas não deu nenhuma importância a esse caso. Mais tarde, António Fonseca começou a sentir fortes dores que lhe impediam de fazer a sua vida normal. Hoje sai pelas ruas vendendo frutas e legumes quando a saúde lhe permite.
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Na juventude costumava levar a vida no mar ou vendendo peixe pelas ruas da Cidade do Mindelo. “Sempre vivi à rasca, de um expediente aqui ou acolá, vendendo peixe, verduras ou fazendo outros serviços”, revela, em conversa com o Mindelinsite.
Segundo António, 52 anos, foi abandonado quando criança pela mãe e foi educado pela família de uma tia do lado paterno. Entretanto, a tia emigrou e mais tarde faleceu. Esse desfecho teve impacto na sua vida. Afirma que desde então passou a viver na rua, fazendo o possível para sobreviver.
Conta que chegou a trabalhar na construção civil, fez guarda a objectos de pescadores, enfim aproveitava cada oportunidade para conseguir arranjar o que comer. Isto quando não era atacado pelas dores nas costas e num pé.
“Até hoje sinto dores e tenho também um problema num pé que não me deixa andar. Dizem que é ácido úrico, mas penso que seja outra coisa”, diz. Segundo este “catador”, quando as dores surgem fica em repouso até passarem.
António Fonseca foi encontrado pela nossa reportagem nas traseiras do Mercado de Peixe com o seu carrinho de venda de legumes e frutas empacotados em bolsinhas de plástico. Recebeu as mercadorias no mercado de verduras da Praça Estrela para venda ambulante pelas zonas de Campim, Monte, Dji d’Sal, Monte Sossego, Chã d’Cemitério… Por cada bolsa vendida, ganha 20 escudos.
“Tem dias que tenho sorte e vendo tudo. Noutros dias restam algumas bolsas, que devolvo”, explica este vendedor, que, segundo conta, já tentou pedir ajuda à Câmara de S. Vicente, mas nunca foi contemplado com sequer uma cesta básica. “Sem nenhuma justificação!”, exclama.
Sem filho e família, António Fonseca diz enfrentar os desafios da vida à sua maneira. Conta que muitas vezes é criticado, quando não é acusado, por quem não sabe nada da sua luta diária. Como desabafa, “crioulo gosta de colocar o outro pra baixo em vez de ajudar”.