Há muito que a questão da recolha de lixo em São Vicente tem sido alvo de críticas e de acusações de que a equipa camarária entregou o processo a privados, com equipamentos do município. No entanto, da Câmara Municipal nunca se ouviu nenhum pronunciamento. Confrontado por Mindelinsite, o autarca Augusto Neves reconheceu que a recolha de lixo na ilha aos fins-de-semana é neste momento da responsabilidade de uma empresa privada. E garante que o resultado está à vista porque São Vicente está mais limpa. Confirma igualmente que os equipamentos utilizados, no caso as viaturas, são do município, mas alega que eram velhos e tiveram de ser recuperados pela empresa.
Foi a primeira vez que o presidente da CMSV admitiu que a recolha de lixo na ilha é feita neste momento, aos finais de semana, por uma empresa privada. “Decidimos recorrer a uma empresa privada porque a Câmara estava a enfrentar grandes dificuldades para fazer a recolha aos fins-de-semana. Os funcionários que faziam este serviço estavam a brincar mais do que a trabalhar, faltavam ou ‘davam cachor’ ou seja, saltavam algumas banquetas. Havia um descontrolo total. Procurei então o responsável de uma empresa e acordamos fazer uma experiência”, confessa Augusto Neves.
Inicialmente, prossegue, a empresa aceitou fazer a recolha do lixo apenas nos domingos. O resultado foi positivo e a CMSV decidiu alargar também para os sábados. “Vou ser claro: neste momento, a recolha de lixo em SV, aos fins de semana, é feita pela empresa Valuca Construções. Como a empresa não tinha viaturas próprias, a CMSV cedeu duas viaturas velhas, uma vermelha e outra verde, que estavam paradas devido a avarias frequentes”, enfatizou, realçando que a CMSV entrou neste processo com boa fé, isto é visando apenas prestar um serviço com mais qualidade à ilha de São Vicente.
O edil não tem dúvidas de que as viaturas só estão operacionais porque o empresário em causa é mecânico de profissão. “Ele recebeu as viaturas, fez as reparações e está a garantir a recolha aos fins de semana. E está a fazer um bom trabalho. O que as pessoas não percebem é que estamos a poupar as viaturas mais novas, adquiridas com recurso ao Fundo do Ambiente. Trabalham somente de segunda a sexta-feira. É ainda uma oportunidade para os nossos colaboradores descansarem porque a empresa disponibiliza os seus próprios trabalhadores para fazer este serviço.”
Augusto Neves reconhece que os pequenos reparos nas viaturas são feitos por este empresário. No entanto, quando as avarias são de maior monta, a reparação é feita na oficina da CMSV. “É verdade que, quando os dois carros velhos sofrem avaria, a Câmara empresta ao empresário as viaturas suplentes por forma a não interromper a recolha”, informa o autarca, tendo em conta que, do seu ponto de vista, a quantidade diária de lixo recolhido na ilha não comporta interrupções.
“Temos cerca de 80 banquetas ou pontos de recolha em SV. Cada um tem dois ou três contentores de lixo. A recolha é feita por duas viaturas em simultâneo. Os carros saem às 6h da manhã, depois às 10, às 14 e às 18 horas. São quatro voltas diárias. Ainda temos a recolha no centro da cidade, nas clínicas, nas localidades no interior – São Pedro, Salamansa e Baía das Gatas e ainda porta-a-porta, que é um outro programa. Foi muito criticado, mas tem estado a funcionar”, descreve Neves.
Em três meses foram recolhidos mais de 48 mil metros cúbicos de lixo. No verão, altura em que normalmente aumenta a produção de lixo, foram recolhidos 57 mil metros cúbicos. No ano passado, no total, foram 210 mil metros cúbicos de lixo. “É muito lixo. Temos cinco mil metros cúbicos de lixo hospitalar, temos 10 mil das zonas rurais e 210 mil metros cúbicos da cidade. Por dia, são 576 metros cúbicos. São muitas volta de carro porque cada viatura leva no máximo 10 metros cúbicos.”