Um grupo de 25 jovens-rapazes acolhidos pelas Aldeias SOS de São Vicente vai ser capacitado pelo Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG). A formação, que tem como palco o Centro Social SOS no Mindelo, começa às 14h30 desta segunda-feira, tem duração de três dias e visa quebrar o ciclo de paternidade não assumida no país, segundo a presidente do instituto, Rosana Almeida, que testemunhará a abertura desta acção.
A capacitação, diz a presidente do ICIEG, insere-se no seu plano de actividade contra masculinidades tóxicas como estratégia para dar luta à violência baseada no género em Cabo Verde. Neste sentido, vão ser beneficiados 25 jovens-rapazes, incluindo alguns pais de crianças de e na rua acolhidos pelas aldeias. “Vão estar juntos no intuito de quebrar o ciclo de paternidades não assumidas e construir uma sociedade onde a paternidade e maternidade corresponsáveis passem a ser vistas como uma obrigação com impacto na vida das crianças e da própria família”, detalha.
O formador e coordenador de luta contra VBG, Adalberto Varela, explica que o objetivo desta capacitação, junto das Aldeias SOS, é ajudar a mudar a mentalidade dos jovens, que às vezes limitam-se a registar os filhos, mas não cuidam, e de outros que sequer reconhecem as crianças. “Queremos também prevenir a VBG. Entendemos que quanto mais conhecimento sobre causas que levam a violência, tendencialmente esta diminui. Ao trabalharmos com os jovens, acreditamos que a aceitação da violência é menor. Foi neste sentido que o ICIEG e as Aldeias SOS se tornaram parceiras e temos estado a trabalhar a questão da igualdade de género e também a promoção de novas masculinidades”, assegura.
As novas masculinidades, segundo Varela, ocorrem quando os jovens deixam de ver a mulher como um ser inferior. “Passam a ver a mulher como um ser igual e que partilha dos mesmos direitos de acesso e de oportunidades para poder realizar o seu máximo potencial”. Aliás, com este propósito, a formação contempla não só os jovens acolhidos pelo Centro, mas também alguns pais. “Queremos aproximar estas duas gerações para verem como a relação pode ser saudável. Isto porque o entendimento da sociedade sobre ser homem, na prática, colocam um peso enorme nas costas das pessoas e, muitas vezes, elas não conseguem corresponder a esta exigência. E acaba por afectar as relações.”
O formador cita, como exemplo, as afirmações culturalmente aceites de que “homem não chora” ou então de que “homem não abraça homem”. São conceitos incutidos nas pessoas que precisam ser esbatidos, declara. “Temos de mostrar às pessoas que os homens também têm sentimentos. Todos somos seres emocionais mais do que racional. É isso que vamos tratar nesta formação. Vamos tentar mudar estes conceitos errados, que prejudicam os relacionamentos e levam os homens a tratar mal as mulheres, muitas vezes resultando em violência baseada no género.”
Durante a estada da equipa do ICIEG em São Vicente, a presidente terá ainda encontros estratégicos com diferentes parceiros em prol da igualdade. Destaca-se a assinatura de um protocolo com a Enapor, empresa que decidiu apoiar a instituição na protecção das vítimas da VBG, recebendo em troca formação para os seus quadros. A ICIEG fará ainda entrega de equipamentos informáticos aos técnicos dos centros de atendimento ás vítimas das ilhas de São Vicente e de Santo Antão para além de manter encontros com a Polícia Nacional e com a Associação Akredita na Bo, que trabalha com mulheres em situação de risco e que apresentam grande índice de vulnerabilidades.