Pub.
Social
Tendência

Profissionais de saúde de S. Vicente aderem em número expressivo a greve nacional, apesar da “robusta” requisição civil 

Pub.

Os profissionais do sector da saúde de São Vicente aderiram em número significativo à sua primeira greve nacional, com duração de três dias, apesar da requisição civil decretada pela Governo. Empunhando cartazes com as suas reivindicações e vestidos de preto, estes profissionais concentraram-se em frende a Delegacia de Saúde onde explicaram as motivações para esta paralisação geral e seguiram numa marcha pacífica, que percorreu as principais artérias do Mindelo.

Em declarações à imprensa, o delegado sindical Tito Rodrigues afirmou que esta greve, a primeira de dimensão realizada pelos profissionais da saúde, constitui um marco importante na história destas classes e de Cabo Verde. “É algo que os sete sindicatos que convocaram esta greve tentaram por todas as formas evitar, mas não conseguiram. Fomos forçados pelo Governo e por vários motivos. Por exemplo, devido ao atraso na resposta às nossas reivindicações, mas também devido a uma postura que estimamos de altamente incorreta das autoridades”, justificou este médico. 

Publicidade

Este sustenta ainda, como argumento, que os sindicatos estão em negociações com o Governo desde novembro de 2023, mas foi só no inicio da semana passada que a tutela apresentou duas propostas de carreiras para discussão, no caso de médicos e de enfermeiros. Na sequência, as duas classes profissionais apresentaram a sua oposição em relação a determinados aspectos, mas não houve resposta. Para a sua surpresa, a tutela optou por tentar aproximar-se das ordens profissionais dos Médicos e dos Enfermeiros e recorreu à imprensa para anunciar progressos nas negociações. 

“Percebemos que se tratavam de manobras, sem seriedade, por parte do Ministério da Saúde. Por isso, rejeitamos voltar a negociar com a tutela. Entretanto, fomos forçados a fazer uma reunião de conciliação em sede da Direção-Geral do Trabalho, na véspera da greve, com a intenção de tentar nos demover e desmobilizar. Hoje temos aqui uma resposta clara da nossa determinação e vontade de exigir os nossos direitos e um melhor Sistema Nacional de Saúde”, assegura este delegado sindical

Publicidade

Requisição civil exagerada 

Para Tito Rodrigues, a requisição civil decretada pelo Governo foi exagerada e teve como único objectivo forçar mais pessoas a trabalhar, reduzindo assim o número de participantes na manifestação. E acabou por produzir algum efeito porque este admitiu não estar satisfeito com a moldura humana presente, porque sabe que poderiam estar muito mais pessoas presentes. “Nos moldes em que foi feita, a requisição civil acabou por obrigar mais profissionais a permanecerem nos postos de trabalho. Mesmo assim, acho que o momento é histórico pelo que agradeço a presença de todos. Estamos junto da população e garantimos que tudo o que é inadiável vai ser realizado”, prometeu, afirmando que não se opõem a requisição e vão cumprir na integra o que foi determinado.

Este dirigente sindical não deixa, no entanto, de questionar a justificação para se manter os centros de saúde com as portas abertas durante a greve, sendo que estes não funcionam nos fins-de-semana e não prestam um serviço inadiável. “Os centros de saúde estão abertos apenas para satisfazer egos de chefias e da tutela. Entendemos que a requisição civil não vai afectar de forma significativa a sua luta porque, mesmo os que estão a trabalhar, apoiam a greve. Existe uma grande solidariedade entre as classes profissionais. Temos aqui médicos, enfermeiros, ajudantes de serviços gerais e técnicos, em defesa de todas as classes, do bem-estar e da qualidade do Serviço Nacional de Saúde.”

Publicidade

Determinados a lutar

Não obstante os obstáculos, os profissionais de saúde promete manter os três dias de greve previstos. Mas continuam dispostos a dialogar com o Governo a qualquer momento. Para isso vão listar todas as suas reivindicações e elaborar um calendário para ser cumprido por forma a satisfazer os direitos dos profissionais da saúde e, paralelamente, atender as preocupações do SNS. 

Em jeito de exemplo, Tito Rodrigues cita o caso de funcionários do Hospital Baptista de Saúde a trabalhar com contratos verbais, em condições de grande precariedade. Destaca, igualmente, “remunerações vergonhosas” praticadas neste hospital central. São situações que, do seu ponto de vista, precisam de respostas, cuja solução foi prometida desde junho do ano ano passado. 

A greve dos profissionais da saúde de todo Cabo Verde arrancou às 8 horas desta quarta-feira e termina no sábado, 03 de agosto, à mesma hora. Afecta todos os departamentos e serviços de saúde em todas as ilhas e abrange todas as classes profissionais que exercem funções nas estruturas de saúde. Reivindicam, entre outras, a aprovação e implementação do PCFR (Plano de Carreiras, Funções e Remunerações) das carreiras médicas, de enfermagem e do Instituto Nacional de Saúde Pública, com efeitos retroativos a Janeiro de 2024. 

Após falhar o entendimento com os sindicatos em sede da DGT, o Governo requisitou mais de 300 profissionais para trabalhar durante estes três dias de greve. Mas a greve continua.

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo