A Polícia Judiciária, acompanhada de um juiz e de um Procurador da República, cumpriu ontem um mandado de busca e apreensão ao escritório e residência do jurista Dith Mar Lima, que culminou com a constituição do advogado no décimo arguido da operação “Epicentro”, realizada pela PJ a 8 de junho, na zona do Campim, em S. Vicente. Durante oito horas, os inspectores da PJ procuraram por documentos e drogas que, conforme o próprio Dith Mar Lima, possam provar a sua suposta ligação ao “grupo de Campim”, sob investigação por suspeita de tráfico, lavagem de capitais e associação criminosa.
“Esta operação visa pura e simplesmente eliminar-me enquanto um dos principais advogados do caso, devido a forma aguerrida como tenho estado a intervir no processo”, considera Dith Mar Lima, em conversa com o jornal Mindelinsite. Conta que primeiro vasculharam o seu escritório sito na Rua Argélia e depois a sua residência na zona de Alto S. Nicolau à procura de eventuais documentos comprometedores e estupefacientes. Adianta que recolheram alguma papelada legal relacionada com a defesa dos arguidos da operação Epicentro e que lhe apreenderam dois telemóveis e duas viaturas.
“Um dos carros foi-me oferecido em 2015 por herdeiros ligados a um processo de homicídio-suicídio ocorrido em Santo Antão, envolvendo um casal. Os herdeiros, que vieram da Hungria, gostaram do meu trabalho e ofereceram-me o carro. E a PJ sabe disso. O segundo carro foi comprado por mim em finais de 2022”, revela o jurista, que se mostra tranquilo.
Segundo Dith Mar Lima, foi informado pela PJ de que é suspeito de cometer o crime de lavagem de capitais, mas não foi ainda interrogado na condição de arguido. Na sua perspectiva, o verdadeiro objectivo da Judiciária é bloquear a sua intervenção no processo enquanto defensor acérrimo dos arguidos e conhecedor do processo. Relembra que 9 pessoas foram detidas inicialmente na operação, 4 ficaram sob prisão preventiva e as restantes sujeitas a outras medidas de coação. O jurista sublinha que o mandado de busca e apreensão ao seu escritório e residência surge numa altura em que estava a preparar o recurso à medida de prisão preventiva aplicada a três dos seus constituintes.
Constituído arguido, Dith Mar Lima vai agora solicitar a sua defesa a outros colegas envolvidos no caso. Acrescenta que a Ordem dos Advogados foi informada da busca e apreensão pela própria Procuradoria da República.
A denúncia do jurista foi prontamente refutada por uma fonte da Judiciária. Abordada pelo Mindelinsite, nega categoricamente que a operação tenha sido desencadeada para aniquilar a intervenção de Dith Mar Lima no processo, enquanto defensor de alguns dos arguidos. Sublinha que a PJ é uma instituição séria, que age nos meandros da legalidade e com firmeza nos casos que investiga. A referida fonte salienta, aliás, que as buscas a escritórios de advogados são exigentes, tendo o Ministério Público e a PJ agido no estrito respeito da lei. “Neste caso, a lei obriga a que a busca e apreensão seja presidida por um juiz, o que acabou por acontecer.”
Desencadeada à noite, a operação Epicentro visou derrubar um dos circuitos mais relevantes de comercialização de estupefacientes na ilha de S. Vicente, conforme informou a Judiciária em comunicado. O bairro foi cercado por inspectores da PJ, agentes da Polícia Nacional e militares armados e culminou com a detenção de vários suspeitos e apreensão de drogas, viaturas, motociclos e diversos objectos supostamente roubados, resultantes de buscas em várias residências. A operação, que começou por volta das 21 horas do dia 7, se estendeu para a zona de Chã Tiliza e encosta de Jôn d’Ebra, tendo terminado às 4 horas da madrugada do dia 8 de junho.
Desde esta data que a PJ não tinha feito outras intervenções ligadas ao caso, até que ontem levou a cabo a busca e apreensão ao escritório e residência do jurista Dith Mar Lima, advogado da maioria dos arguidos. Na sequência, o próprio jurista acabou por ser constituído arguido pela Polícia Judiciária, por suspeita de lavagem de capitais.
Kimzé Brito