Arlinda Joaquina Brito, 47 anos, espera há mais de um ano por uma evacuação urgente para Portugal, para ser submetida a uma cirurgia. Foi diagnosticada com fibrilação auricular, que é um tipo de arritmia cardíaca em que os batimentos cardíacos são muito irregulares, por ter uma válvula apertada. Devido a esta condição, precisa colocar uma pacemaker. Inconformada com o agravar da situação, sem uma resposta concreta da Junta Médica, a filha, Sirlene Delgado, pede intervenção urgente de “quem de direito”.
Em conversa com Mindelinsite, a filha relata que há muito tempo acompanham, impotentes, o sofrimento da mãe. Quando os problemas cardíacos surgiram, ela chegou a iniciar os tratamentos, mas parou devido a vicissitudes da vida. Entretanto, em 2023, a sua situação deteriorou-se de tal forma que foi evacuada de Porto Novo – Santo Antão para São Vicente, para receber cuidados mais específicos.
“Foi atendido por um cardiologista, que confirmou que a minha mãe precisa ser evacuada com urgência para ser submetida a uma cirurgia. Não sei ao certo de que tipo, mas possivelmente para a implantação de dispositivos, como o pacemaker. O seu processo foi encaminhado para a Junta Médica. Alegadamente, o processo ficou pronto, mas até agora nada”, relata.
De acordo com Sirlene Delgado, com frequência procuram os serviços de saúde para saber para quando a evacuação, mas dizem estar à espera de uma resposta de Portugal. “Penso que isso se deve ao facto de a minha mãe não ser assegurada. Mas ela precisa do tratamento com urgência porque a sua situação deteriora dia após dia. Para se ter uma ideia, neste momento sequer consegue subir cinco degraus de escada. Qualquer esforço é demais para ela”, detalha.
O desespero dos filhos é ainda maior porque, diz, sempre que procuram os serviços de saúde são questionados pelos profissionais, que estanham a demora na conclusão do processo, já que a paciente foi indicada para evacuação urgente. “Quando questionamos o seu médico, este alega que já fez tudo ao seu alcance, mas que não pode interferir no processo. Este garante, no entanto, que enquanto isso vai continuar a ministrar os medicamentos para manter a saúde a mais estável possível.”
Para isso, todos os meses a paciente tem de se deslocar à ilha de São Vicente para controlo. Esta distância deixa a filha preocupada por causa dos riscos associados à doença, nomeadamente formação de coágulos, que podem ser arrastados pela corrente sanguínea e provocar um Acidente Vascular Cerebral. Por isso, Sirlene apela à intervenção de “quem de direito” para desbloquear o processo de evacuação para que a mãe possa ser submetida a cirurgia. “O verão é o período mais crítico para ela por causa do calor. Aliás, no ano passado ela teve uma crise e teve de ser evacuada para S. Vicente.”
Natural do Porto Novo, Arlinda Brito tem quatro filhos, sendo dois deles gêmeos com apenas dez anos. Os dois maiores saíram para buscar a sua vida e hoje residem em Santiago e São Vicente. Atualmente depende dos medicamentos para sobreviver e falhas na medicação podem levar a um desfecho fatal.
Sem se referir especificamente ao caso, o cardiologista que acompanha a paciente confirma que evacuações de cardiologia normalmente são de máxima urgência. Nestes casos, esclarece, depois de fazer o relatório, os doentes são encaminhados para a Junta Médica e fica completamente afastado do processo, limitando-se a continuar a fazer o seguimento dos mesmos nas consultas.