Faleceu esta segunda-feira em Lisboa, onde se encontrava em tratamento, Maria Luisa Marques da Silva, sócia-gerente do histórico cinema Eden Park em São Vicente, vítima de doença. Dona Luísa, como era conhecida, tinha 84 anos.
Em uma curta publicação, David Leite escreve: “estou profundamente sentido com a partida de Maria Luísa Marques da Silva, uma amiga de longa data por quem tinha grande carinho e admiração desde os velhos tempos do Eden-Park. São Vicente despede-se, hoje, desta grande senhora que deixou a sua marca na gestão daquele que foi o maior cinema e sala de espectáculos de todo o país.”
Igualmente sentido, Luís de Sousa Lobo pede que Deus a receba e envia força e coragem aos familiares para suportar tanta tristeza e suportar tamanha perda. “Saberei guardar os muitos e bons momentos passados com uma Boa Amiga que muitos conselhos me deu, que me servirão para a vida toda”, diz.
Maria Luísa Marques da Silva era natural da Guiné-Bissau. Veio para Cabo Verde com 20 anos, com o marido José Marques da Silva, filho de César Marques, o fundador do cinema Éden Park em 1922. Ao lado do marido, D. Luísa assumiu a gestão e, após a morte deste, assegurou o funcionamento do cinema, que chegou a ser considerado um dos patrimónios mais importantes da ilha.
“De todas as ilhas acorriam pessoas para assistir aos vários espectáculos organizados no Eden Park, cuja actividade cultural não se limitava ao cinema: o teatro, o boxe, conferências, tudo o que era cultura recebia o Eden Park, sempre com a preocupação de servir Cabo Verde. Mais do que qualquer outra escola, teve sempre preocupação de servir as classes sociais mais modestas, levando-lhes a instrução e a cultura popular”, detalha Brito-Semedo, num artigo sobre a história do cinema em Cabo Verde.
Isto porque, afirma, o Eden Park, graças à passagem de grandes filmes, trouxe aos cabo-verdianos os exemplos da dignidade e da solidariedade humana e ainda a consciência da liberdade. Mais, dizia, “o cinema também desenvolveu o nosso sentido de revolta contra as traições, o racismo, as injustiças humanas, a esperança dum mundo melhor onde a justiça estaria acima de todos, e que seríamos capazes de criar uma elite que fosse o exemplo de dignidade e patriotismo para o nosso povo.”
O trabalho e dedicação de Maria Luísa Marques da Silva foram reconhecidos ainda em vida. Ela foi distinguida, em 2004, com o Prémio de Mérito Teatral pela Associação Artística e Cultural Mindelact “pelo seu contributo às artes e à cultura”. Aos familiares e amigos, um sentido pesar.
