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Mergulhadores rejeitam acusações do presidente da Biosfera, que acusam de querer afastar pescadores dos ilhéus: “Tommy se considera dono dos Ilhéus”

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Um grupo de mergulhadores de apneia de São Vicente procurou o Mindelinsite para rejeitar todas as acusações feitas ontem pelo presidente da associação ambiental Biosfera, que anunciou a suspensão das actividades desta organização ambiental no Ilhéu Raso por causa de ameaças às suas equipas. Criticam sobretudo os termos usados por Tommy Melo, que os apelidou de “grupos de caçadores armados” nas ilhas que consideram suas propriedades. Dizem que são trabalhadores em busca do sustento das suas famílias como qualquer outro. Para Casemiro Silva, o objectivo da Biosfera com as suas “falsas afirmações” foi causar impacto e chamar a atenção do Governo e das organizações internacionais.  

Casemiro Silva admite que foram fotografados na sua actividade, mas diz que também fotografaram a Biosfera a praticar a pesca, devolvendo assim as mesmas acusações feitas por esta organização ambiental. “Somos vítimas de perseguição e se houve ameaça foi de ambos os lados. Temos fotos da embarcação da Biosfera a perseguir botes de Salamansa com pessoal de mergulho. Mas não são apenas os mergulhadores de São Vicente que vão pescar no Ilhéu. Estão no local pescadores de São Nicolau, de Salamansa e de outras partes do país. Mas, ao falar, Tommy não especificou para que as pessoas pudessem entender e ver as diferenças. Colocaram todos os pescadores no mesmo saco. Falou em caçadores furtivos, não disse mergulhadores de apneia ou de garrafa. E existe uma grande diferença porque nós fazemos uma pesca selectiva, enquanto os mergulhadores de garrafa ´varrem´ ou melhor, limpam o fundo”, rebate.

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Mais contundente, Edmar Gomes visa directamente o presidente da Biosfera, Tommy Melo, que acusa de ser também ele pescador e praticar pesca comercial com mergulho. E, mais grave, diz, pratica pesca com barcos desta ong nos Ilhéus, para venda. “Eu, pessoalmente, já presenciei Tommy a fazer pesca de mergulho e a levar grupos de turistas para pesca na Reserva. Não sei se ainda ele pratica este tipo de pesca porque neste momento ele se apresenta mais como empresário. Mas também não admito ser chamado de caçador furtivo porque não somos mercenários. Somos trabalhadores como qualquer outro. Querem que fiquemos mal visto, mas os mergulhadores não são os vilões desta história.”

Regulamentação da pesca comercial com mergulho

Para este jovem praticante do mergulho em apneia, esta celeuma entre a associação ambiental e os caçadores ganhou outros contornos recentemente quando o Governo decidiu preparar a Legislação que regulamenta a pesca comercial com mergulho. É que, diz, apenas a Biosfera foi solicitada a dar um parecer. Apontou algumas espécies de pescado em vias de extinção, caso do Badejo, Bedion, Garoupa, etc., e fez as autoridades acreditarem que não existe em São Vicente pescadores de mergulho comercial. Isto quando, avança, só na ilha do Porto Grande existe em torno de 100 jovens a praticar este tipo de pesca.  “Somos cerca de 100 mergulhadores de apneia. Alguns fazem pesca em embarcações no complexo de Santa Luzia e Ilhéu Raso ou ainda na costa de São Vicente, quando o tempo permite. A maioria foi empurrada para esta pesca pelo desemprego. Estamos à procura do nosso sustento”, declara Anildo, realçando que, por causa do vento, às vezes ficam até uma semana sem fazer uma pesca, mesmo assim tem limites de captura.

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É que, a lei que regulamenta a pesca comercial com mergulho, que entrou em vigor a 21 de março de 2021, estabelece que um barco com 2/3 pescadores pode capturar até 20 quilos, quantidade que estes mergulhadores consideram que não paga sequer um dia de trabalho. “Quando saímos para uma pesca, os gastos superam os três mil escudos por dia, entre combustível, compra de iscas, aluguer de barco em regime de percentagem, de entre outros. Se o barco tiver acima de quatro pessoas, o limite diário é de 70 quilos. Mas, se estivermos parados por causa do estado do tempo, na retoma não podemos aumentar a captura para tentar compensar. E vendemos um quilo do pescado por valores irrisórios, entre os 150 e os 300 escudos, mas chega ao consumidor a preços exorbitantes, 600/700 escudos o quilo.”

Unir para ter voz

Para tentar minimizar os problemas, segundo Anildo, os mergulhadores decidiram então constituir uma associação. O processo ainda se encontra em fase de oficialização, mas já conseguiram encontrar-se com o presidente da Câmara de São Vicente, o Ministro da Economia Marítima e Direcção-Geral dos Recursos Marinhos para se dar a conhecer como classe e expor os problemas. “Fizemos questão de deixar claro que não mergulhamos com garrafas. Aliás, somos contra o uso deste instrumento porque permite descer a grandes profundidas e fazer uma pesca predatória. E os pescadores que usam garrafas muitas vezes ainda usam redes de malha. Somos contra e denunciamos esta situação porque, estes sim, têm um impacto negativo no ambiente. No nosso caso, ao contrário daquilo que disse a Biosfera, podemos ser aliados”, constata, citando as vezes em que recolheram aves marinhas feridas e foram levar às equipas da Biosfera.

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Edmar Gomes alega que outros colegas já encontraram tartarugas viradas no Ilhéu Branco, suspendem a pesca e vão ajudar estes animais. “Temos todas estas nossas acções registadas em vídeo. Outro dia encontramos quatro tartarugas nas proximidades do Djéu presas em rede. Portanto, podemos ser parceiros. Mas a Biosfera prefere fazer pressão ao Governo para afastar os mergulhadores das suas actividades, que gostam e tem impacto económico. E o mergulho existe há muito tempo, não entendo porque tanta birra agora.”

O grupo lembra ainda que, antes, a Biosfera tinha conflito com os pescadores de linha, mas desde que passaram a absorver os seus produtos entraram em acordo. Quanto ao abaixo-assinado entregue pela comunidade piscatória de Salamansa, garante que muitos rubricaram o documento sem saber do que se tratava. Só mais tarde é que perceberam que este era para afastar os mergulhadores desta zona de Reserva Integral. “É curioso que venham evocar esta questão da reserva, quando a Biosfera tem uma casa em Santa Luzia”.

Estes terminam dizendo que, a razão deste conflito, é que a Biosfera, e particularmente o seu presidente, consideram Santa Luzia e os Ilhéus propriedade particular. E a prova disso é que, recentemente, levou o jovem artista Djodje ao Ilhéu Raso para apadrinhar “sua terra e a sua ilha”, como se trata-se de uma propriedade privada.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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