A médica Adelaide Miranda Lima Andrade acredita que formar cuidadores para a terceira idade pode impedir transtornos de idosos que são muitas vezes levados aos lares, contra as suas vontades e afastados da convivência com familiares. Em entrevista ao MindelInsite, Laidinha, como é conhecida pelos pacientes, assegura que um caso com um conhecido fez com que tivesse a ideia de unir o seu saber, através da clínica SAMEG, à Organização da Mulheres de Cabo Verde para promover uma serie de formações dirigidas a pessoas que trabalham com a terceira idade.
Uma experiência que para uns pode ser considerada normal, para outros torna-se traumatizante, devido a questões culturais do país, afirma. “É necessário porque a nossa cultura não é uma cultura de ter os nossos velhos nos lares. Os nossos velhos preferem ficar nos seus ambientes familiares, em casa, onde têm todo o seu carinho, em vez de os tirar do seus meios para coloca-los em lugares onde só há pessoas desconhecidas. É muito traumatizante. Foi isso que me levou a ter esta ideia de formação. Estive ausente durante um tempo e, quando regressei, perguntei por uma amiga e me disseram que ela estava num lar, mas muito deprimida. Não queria comer, sair da cama e nem estar no local”, conta.
Laidinha diz ter ficado preocupada com a situação e, por “algumas noites”, pensou numa solução para ajudar a pessoa. E numa conversa com outra amiga comum, explicou a sua ideia de apresentar à delegada em São Vicente da OMCV, Fátima Balbina, de formar alguns cuidadores. “A minha amiga antecipou-me e foi falar com a delegada da OMCV. Fátima Balbina teve então a iniciativa de me procurar, demonstrando interesse em ministrar a formação nesta ong. O que me deixou mais feliz foi que a pessoa que estava no lar de idosos foi tirada do lugar pelos filhos, está neste momento a ser tratada em casa por um cuidador e está feliz, dentro do seu ambiente”, comemora a entrevistada.
Esta defende no entanto que a mesma realidade do exterior não pode ser de igual forma aplicada em Cabo Verde, por questões culturais e pelos históricos existentes mesmo em países mais desenvolvidos, cujos os ambientes e as relações das pessoas com os seus entes da terceira idade são diferentes. “Lá fora, pela experiência que ouvimos nos noticiários, os idosos a certa altura são colocados em lares e chega a um certo ponto em que nem visita dos familiares recebem. Isso traumatiza os internos. Penso que é um acto de reciprocidade porque ao nascermos, cuidaram de nós e quando chegam a esta fase somos nós que devemos cuidar deles”, diz.
Outra inspiração para querer um tratamento mais diferenciado aos idosos, segundo Laidinha, é que na época do curso no Brasil ficou hospedada na cada dos pais de uma colega que se tornaram seus pais adotivos. “A minha ‘mãe adoptiva’, com 94 anos, vivia em sua casa, possuía cuidadores e ela era vaidosa. Cuidava do cabelo, da unha e gostava de maquiar ”, explica, enfatizando que naquele país quem vai para os lares são geralmente as pessoas que não possuem condições nas suas residências para permanecerem em casa. Lembra com emoção que a idosa faleceu em seu ambiente familiar e junto do marido, diferente se vivesse num lar.
A primeira capacitação, de acordo com a mesma, decorreu bem, com a satisfação de todas as partes e com especial menção à presença de homens, demonstrando mesma sensibilidade que as mulheres para estes cuidados. “Correu maravilhosamente bem. Os formandos estão a sair daqui contentes, satisfeitos com uma preparação para cuidar das pessoas. A maior parte deles já estavam a trabalhar e a cuidar das pessoas, mas sentiram que precisavam de mais conhecimento e vieram para melhorar as suas atividades”, frisa a médica.
O próximo módulo está previsto para Janeiro de 2022, com uma nova turma e SAMEG tem em mente empregar os formandos, já que dizem receber muitos pedidos deste tipo de serviço. “Se estiverem na retaguarda, com SAMEG e o apoio médico, psicólogos, fisioterapeutas, terão melhores condições em casa do que num lar”, garante.