Lina Fortes está destroçada com a morte da filha, Yasmin Teixeira, de 24 anos, que estava prestes a concluir a licenciatura em Odontologia no Brasil, mas que por causa da pandemia da Covid-19 regressou à S. Vicente, frustrando os seus planos de vida. Foi ela que encontrou esta manhã o corpo da filha, no quarto, sem vida. “Não percebi que minha filha precisava de ajuda”, afirma em lágrimas.
Em uma declaração ao Mindelinsite, Lina Fortes garante que não imagina o que terá levado a filha a cometer este acto extremo de pôr termo a sua vida. “Yasmin costumava ter alguns comportamentos que não me agradava. Por exemplo, gostava de sair, ir para festas, e muitas vezes dormia fora de casa. Passa um ou dois dias sem aparecer aqui. Por causa disso, eu não estava contente e decidi deixar de falar com ela sobre isso para não pressionar porque vi que minha filha estava frustrada por ter vindo para Cabo Verde, antes de concluir a sua licenciatura”, disse emocionada.
Esta mãe mostra-se ainda mais triste porque, afirma, não percebeu nenhum sinal de que a filha poderia estar com depressão. “Só agora que vim a saber que falou com uma amiga, durante uma festa de carnaval no sábado, para tirarem uma fotografia porque talvez seria o último que ela iria fazer. Agora vejo isso como uma aviso, mas a amiga dela não esperava esta atitude extrema, tendo em conta que Yasmin era uma pessoa muito activa e dinâmica, que gostava de viver a sua vida.”
Para Lina Fortes, o facto de estar “descontente” com o comportamento da filha, que se preparava para viajar em breve para o Brasil para concluir a sua formação académica, possa a ter levado ao suicídio. “Não sei se algo também não estava bem no Brasil. Ela esperava concluir a sua formação quando iniciou a pandemia da Covid-19, ou seja, em 2020. Ela veio porque entendemos que não podia permanecer sozinha dentro de uma casa. Yasmin morava com alguns colegas brasileiros, que nem sempre estavam em casa. Queríamos que ela se sentisse em família. Mas, ao que parece, volvidos dois anos, ela estava frustrada porque sua vida estava parada.”
Lina Fortes admite, entretanto, que desde jovem Yasmin demandava alguma atenção, inclusive durante uma determinada altura esteve sob acompanhamento psicológico e era medicamentada para controlo. “Minha filha sofria de ansiedade desde muito jovem. Mas estavam bem, por isso ficamos surpreendidos com esta atitude extrema. Não esperávamos nada disso. Ela estava a levar a vida da forma que sempre gostou. Tentei falar com ela, mas Yasmin não me ouvia. Então, desde o mês de dezembro decidi deixar de a repreender e deixá-la à-vontade para não sufocá-la.”
Analisando agora o comportamento da filha, Lina Fortes acredita de que a filha sofria de depressão, derivado em parte da frustração de não conseguir concluir a sua licenciatura. “Ela chegou a lamentar um dia o facto de a Covid-19 a impedir de terminar a sua escola. E, a cada dia que passava, ficava mais ansiosa porque não conseguia ver isso a acontecer. Yasmin chegou a dizer-me que não estava a conseguir realizar os seus planos de vida”, desabafa desolada esta mãe, que lamenta não ter conseguido interpretar este pedido de ajuda da filha, ainda que feito indirectamente.
“Nunca abandonei a minha filha. Sempre estive atenta e apoiei a Yasmin. Decidi a deixar à-vontade para não a pressionar. Pensava que estava a fazer o melhor. E olha o que aconteceu. Talvez tenha errado com a minha filha”, lamenta. Yasmin Teixeira, 24 anos, deixa um filho de nove anos.