Foi inaugurado no final da tarde de segunda-feira, na zona de Chã de Alecrim em São Vicente, o Centro Santa Clara, que vai acolher jovens meninas com síndrome de down, curiosamente data que coincide como aniversário de um precursores deste projecto, o Frei Fidalgo. O espaço abre às portas com 16 meninas, que ao longo do dia vão receber formações em costura, culinária e outras atividades. O presidente da CMSV elogiou a obra e o trabalho nele feito pelos Irmãos Capuchinhos, enquanto que o Bispo da Diocese do Mindelo, Dom Ildo Fortes, augurou que o espaço seja um lugar de abraço, cuidado, amor, compaixão, paciência e bem.
Na sua intervenção, o superior dos Capuchinhos de Cabo Verde, frei Matias Silva, homenageou e enalteceu, a títulos póstumo, duas pessoas de Chã de Alecrim que inspiraram e iniciaram o projecto, há mais de 30 anos: Marcelina e Toy da Luz. “Acredito que estas pessoas estarão tão satisfeitas e felizes como nós estamos. E, tal como nós, olham para este centro com muito orgulho e muita satisfação”, afirmou recordando igualmente com gratidão vários outros parceiros, entre religiosos, associações e beneméritos que ajudaram a concretizar deste projecto inédito em Cabo Verde.
De acordo com o frei Matias Silva, o projecto Centro Santa Clara teve o seu inicio em 1994, com a intuição e iniciativa destas duas pessoas, sobejamente conhecidas e respeitadas por seu percurso de fé e engajamento social. “Foram D. Marcelina e o Sr. Toy da Luz que iniciaram, aqui em Chã de Alecrim, uma obra social para formação e preparação de jovens desprotegidos e vulneráveis, nomeadamente na formação de costura e culinária. Mas não estiveram sozinhos. Contaram como apoio das famílias e também de outras pessoas, como donas Elisas e Tanha, que muito ajudaram por solicitação dos mentores, que nesta altura contavam com a colaboração do padre Frederico Cheroni.”
Em 2011/2012, com o envolvimento dos Irmãos Capuchinho, a Casa Santa Clara transforma-se num centro de acolhimento, continuando entretanto com a vertente formativa para jovens com síndrome de down e outras limitações. Mas, em 2020, devido a pandemia da Covid-19, o centro fechou às portas por falta de espaço e de condições para o cumprimento do distanciamento e da higienização exigida. “Em agosto do mesmo ano, o então custódio dos Irmãos Capuchinhos de Cabo Verde, frei António Fidalgo de Barros, endereçava um pedido de ajuda para a realização de um sonho: a construção de uma estrutura, que proporcionasse as jovens portadoras do síndrome de down ou deficiências em geral, um acolhimento mais digno e mais humano. E esta feliz intuição é hoje realidade”, comemorou
Do lado da Câmara Municipal de São Vicente, o edil Augusto Neves agradeceu o convite para testemunhar a inauguração deste centro que, frisou, prepara as meninas com síndrome de down para a vida. “Este é um trabalho extraordinário e que me fascinou desde o inicio e, a partir do momento que pediram apoio da CMSV, estivemos prontos para ajuda, tendo em conta a amplitude desta obra. A Câmara de S. Vicente é muito grata por isso, porque este é um trabalho feito à comunidade. Talvez seja algo que devíamos fazer, mas não conseguimos resolver tudo porque temos as nossas dificuldades”, declarou Augusto Neves, que aproveitou para integrar esta inauguração, no programa comemorativo do Dia do Município de São Vicente, que se assinala a 22 de janeiro.
Igualmente agradecido, o Bispo da Diocese do Mindelo manifestou, em nome da igreja diocesana, a sua profunda gratidão pelo empenho dos capuchinhos em prol da obra e de todos os aspectos da caridade que fazem em São Vicente. Dom Ildo Fortes destacou, por outro lado, o mural pintado pelo artista Nilton Lima, na entrada do centro, pela mensagem de acolhimento e de alegria que passa para quem chega ao espaço, traduzida nas cores fortes e no movimento. “Este lar foi criado para proporcionar alegria. Alegria de viver, de ser acolhido, amado e valorizado. Que esta seja uma casa de paz e bem”.
Para além das autoridades e entidades presentes, houve ainda tempo para intervenção de um representante de uma associação parceira da Itália, que se deslocou propositadamente à São Vicente para participar deste ano, mas também de um pai de uma utente. Para edificar este centro, os Irmãos Capuchinhos contaram com parceria da Câmara de São Vicente, empresários e pessoas anónimas, e ainda de associações e grupos de jovens na Itália e nos Estados Unidos. Destaque para a oferta de uma viatura, por parte de um benemérito italiano, para o transporte das meninas para o centro, que pode ser acedido através de uma rampa de acesso para as utentes com necessidades especiais.