A IFH – Imobiliária Fundiária e Habitat garante que não existem danos estruturais nos edifícios em fase final de contrato na zona da Ribeira de Julião e cujas sapatas ficaram expostas após as chuvas torrenciais de 11 de agosto. Mesmo assim, informa que estão já em execução trabalhos de reforço das fundações, estabilização dos taludes e impermeabilização da envolvente. Para o presidente da Ordem dos Arquitetos, o sistema de construção utilizado pela IFH é seguro, mas o terreno onde o projeto foi implantado não é o melhor pelo que demanda, entre outros, a construção de um muro de contenção.
Em comunicado, a IFH explica que tem em fase final de construção 236 habitações na zona da Ribeira de Julho, das quais 77 destinam-se a alojamento estudantil. Esclarece ainda que, apesar dos edifícios terem sido implementados a mais de 50 metros da margem da ribeira mais próxima, respeitando os critérios de segurança e afastamento considerados adequados, verificou-se erosão causada pelas chuvas e pelo entupimentos dos canais de drenagem.
“As árvores arrastadas pelas chuvas obstruíram as duas passagens hidráulicas existentes, o que levou ao extravasamento do caudal de água para o lado onde se encontram os edifícios,” revela, realçando que a situação deixou exposta a base de alguns blocos. Entretanto, garante, após vistoria técnica conjunta da IFH , empreiteiro e fiscalização, confirmou que não existem danos estruturais nos edifícios e informa que já estão em execução trabalhos de reforço das fundações, estabilização de taludes e impermeabilização da envolvente.
Porque o “seguro morreu velho e o desconfiado ainda está vivo”, a Imobiliária Fundiária e Habitat informa ainda que, enquadrada no Programa Emergencial anunciado pelo Governo, estão previstos investimentos adicionais em sistemas de drenagem para mitigar riscos similares do futuro. Já relativamente à Urbanização Quinta de Sant’ Anna, de acordo com a IFH, registou-se sobretudo arrastamento localizado de pavês, quadra de alguns muros junto a canais de drenagem e levantamento de pavimento betuminoso em uma das ruas.
Informa ainda que as infraestruturas enterradas não foram afectadas e que, em articulação com o empreiteiro, as partes danificadas vão ser repostas, estando neste momento em curso a quantificação dos prejuízos e a programação das intervenções.
Muros de contenção
Em conversa com o presidente da Ordem dos Arquitetos, Job Amado explica que viu apenas fotos dos edifícios, não do terreno em si. Sobre a forma de construção, garante que o sistema é seguro, mas é preciso ter em conta o terreno onde o projecto foi implementado. “Penso que o terreno onde foram construídos os edifícios se calhar não é o melhor. Por isso, pelo que pude perceber, algumas sapatas ficaram sem base”, esclarece, indicando que o problema não está no sistema construtivo, mas no terreno onde foi construído.
Confrontando com as preocupações e críticas à decisão de construir na ribeira, alegadamente sem um estudo prévio aprofundado de solo, drenagem e comportamento hidrológico, Job Amado deixa claro que o edifício precisa de terreno para se sustentar. “É preciso fazer uma intervenção no terreno, criar a base necessária e, principalmente, erguer muros de contenção.”
Nas redes sociais, arquitetos têm analisado a situação. É o caso de Arley Dias, para quem o terreno foi apenas aterrado e as sapatas empregadas demonstram um dimensionamento insuficiente. “Para uma área com estas características, seria necessária uma fundação mais robusta, capaz de suportar os riscos geotécnicos e hidrológicos presentes. A ausência dessa atenção compromete não apenas a durabilidade da edificação, mas sobretudo a segurança dos seus ocupantes”, avalia.
Este conclui dizendo que projetar e construir em locais sensíveis, como margens de ribeiras, exige responsabilidade técnica. Não basta erguer a estrutura; é imprescindível assegurar que ela responda às condições do solo e do meio envolvente. E falhar nesse cuidado é ignorar princípios básicos da arquitetura e da engenharia, remata este arquiteto.