O estivador Manuel “Naiss” Delgado, de 54 anos, que no dia 19 de fevereiro sofreu um grave acidente de trabalho no cais de cabotagem do Porto Grande em São Vicente, faleceu após dez dias internado no Hospital Baptista de Sousa. O malogrado trabalhava no carregamento do navio Praia d’ Aguada junto com outros colegas, quando caiu de um atrelado, tendo sofrido um traumatismo craniano e quebrado duas costelas, que acabaram por perfurar os seus dois pulmões.
Em entrevista ao Mindelinsite, a filha Claudete Delgado conta que o pai era estivador no Porto Grande há cerca de 30 anos. No dia 19 de fevereiro, durante uma operação rotineira de descarga de sêmea de trigo, deu um passo em falso e caiu de uma altura considerável. “Recebemos a notícia através de um colega, que nos informou que o nosso pai tinha sofrido uma queda. A queda terá acontecido, segundo este colega, por volta das 13 horas. Fomos de imediato para o Banco de Urgência do HBS e, por volta das 21 horas, ainda estávamos à espera de receber alguma informação”.
Nesse tempo, segundo Claudete, foi solicitada uma TAC (Tomografia Computorizada) de urgência, mas que só foi realizada no dia 23, alegadamente porque o pai se encontrava “muito agitado”. “Tentamos obter informações sobre o estado do nosso pai, mas foi impossível. Às vezes nos diziam que o médico não se encontrava, outras vezes que estava no bloco. Nas conversas com a sua companheira, ele chegou a dizer que foi submetido a uma cirurgia. Mais tarde viemos a saber que, afinal, nosso pai não foi operado. Apenas introduziram-lhe um pequeno tubo nas costelas.”
Foi somente no dia 24 de fevereiro, cinco dias após o acidente que, diz a filha mais velha Cibelle Delgado, o médico reuniu a família para explicar que, no momento da queda, o pai sofreu um derrame cerebral e quebrou duas costelas, que lhe perfuraram os dois pulmões. “O médico explicou-noa que o nosso pai estava ligado aos aparelhos para poder respirar. No entanto, por causa do traumatismo na cabeça, que foi muito forte, o seu estado era complicado.”
As filhas não conseguem precisar a altura da queda, mas garantem que, segundo informações dos colegas, o pai estava em cima de um atrelado, o que significa que estava muito longe do chão. “Ao contrário do que as pessoas estão a falar, o meu pai nunca esteve em coma. Falava normalmente com a família. Foi só nos últimos dias – depois de mais de uma semana hospitalizado -, que o seu estado se agravou. Os médicos informaram-nos então que, por causa da pancada, o meu pai teve um AVC hemorrágico, que foi a causa da morte.”
O funeral foi realizado no final da tarde de sexta-feira e contou com a presença de vários estivadores, colegas dos muitos anos de trabalho na Enapor. Esta empresa, aliás, comprometeu-se, entretanto, a apoiar a família naquilo que for necessário, conforme a sua assessoria de comunicação.