Fatima Pires Piloto está desesperada com o tormento do marido, que sofre de cirrose hepática, provocada por gordura no fígado. Foi diagnosticado em fevereiro de 2022 e deveria ser evacuado porque a doença não tem tratamento em Cabo Verde. Mas o processo vem se arrastando, sem qualquer perspectiva. Enquanto isso, Nelson Piloto enfrenta dores frequentes e lancinantes, acompanhados de vômitos com sangue, para desespero da esposa, que se diz impotente.
Doença normalmente associada ao consumo do álcool, Fátima Piloto nega categoricamente que seja o caso do marido, que não consome qualquer bebida alcoólica. Acredita que tenha sido provocado por gordura no fígado, porque também o marido não é adepto de medicamentos. “O meu marido sempre foi uma pessoa saudável. Tem 46 anos e trabalha há 22 anos como vigilante da Silmac. Nunca ficou doente. Foi só em fevereiro de 2022 que começou a queixar-se de mal-estar, dores e fadiga. Fomos aos hospital e foi diagnosticado com cirrose hepática. Trata-se de uma doença crónica que prejudica o funcionamento do fígado e todo o seu organismo acaba por ser afectado.”
De imediato, explica, foi feito a Junta Médica para a evacuação para o exterior. “Fomos chamados pelo INPS, onde fomos informados de que deveríamos solicitar o seu passaporte e outros documentos. Mas desde então estamos à espera. Deslocamo-nos com frequência ao instituto para saber do andamento do processo, mas a resposta que nos dão é que não houve uma solicitação de urgência, o que deverá ser feita por sua médica-assistente. No entanto, quando procuramos esta para esclarecer, alega que a responsabilidade é do INPS. Enquanto isso, assistimos, impotentes, ao sofrimento do meu marido.”
Outras complicações
Para complicar ainda mais o quadro, segundo a entrevistada, Nelson Piloto desenvolveu outras doenças, designadamente diabetes e problema de plaquetas. “Neste momento, o meu marido tem uma ferida nas pernas, que inclusive o levou a ser hospitalizado em julho de 2023. Não sabemos porque arrastar esta situação por tanto tempo, sendo que o seu estado de saúde tem estado a deteriorar perante os nossos olhos. Infelizmente, o meu marido é uma pessoa que não fala nada”, lamenta a esposa. Segundo Fátima, o marido prefere sofrer calado, mas não consegue dormir por causa das dores.
Sem nenhuma resposta, Fátima Piloto acredita que pode ser uma vingança contra ela, que sempre confronta os médicos. “Não quero ver o meu marido padecer sem fazer nada. Se isso acontecer, vou responsabilizar alguém. Penso que o meu marido não está a receber a atenção merecida”, considera. Conta que recentemente foram a outro médico por causa dos novos problemas de saúde e este fez-lhe um relatório. “Foi-lhe concedido três meses em casa, com possibilidade de renovação caso não houvesse melhora no seu estado. Mas estivemos dois à espera de um novo relatório, inclusive fomos contactados pelo INPS, que nos advertiu para o risco dele perder o seguro.”
Inconformada, Fátima Piloto acrescenta que procurou novamente o médico do seu cônjuge, mas este não ficou muito satisfeito com a sua abordagem, o que o leva a suspeitar de retaliação no despacho do processo de evacuação. “Não estou preocupada em agradar as pessoas. Quero apenas que o meu marido receba o tratamento adequado. Sempre foi um homem trabalhador e honesto, mas hoje já não consegue fazer nada. Tem estado a apoiar em justificações de faltas para não perder o emprego porque ainda está longe da reforma. Não merece tanto sofrimento, depois de tanto trabalhar”, exprime.
A fonte admite que, com esta denúncia pública, espera pressionar as autoridades de saúde e o INPS no sentido de agilizarem o processo e acabar com o sofrimento do seu marido. Para isso, inclusive abre mão de acompanha-lo. “Quero que o meu marido seja evacuado com a máxima urgência para que possa receber os tratamentos. Ele tem uma irmã que vive em Portugal e que se prontificou em recebe-lo e apoia-lo”, revela a esposa, acentuando que abra mão de acompanhar o marido na viagem, desde que receba o melhor tratamento. Como diz, é difícil testemunhar seu sofrimento sem nada poder fazer.