O Sindical Democratico dos Professores defende que a divulgação da lista dos professores do ensino básico do regime de monodocência, contemplados com o subsídio de redução de carga horária em plena greve nacional e horas antes da manifestação mostra a forma baixa e pouco leal do Governo para com esta classe. E, perante a ‘radicalização’, Nelson Cardoso responde com nova manifestação já em outubro e com o congelamento das notas no final do ano lectivo.
O secretário executivo regional do Sindicato Nacional dos Professores (Sindep) falava à imprensa, antes do arranque de mais uma manifestação na cidade do Mindelo, que reuniu um bom número de docentes. Nelson Cardoso aproveitou para convidar o ministro da Educação para testemunhar a participação, que deitou por terra a afirmação deste de fraca adesão dos docentes à esta luta, facto que o levou a desafiar os sindicatos a tirarem ilações.
‘Podemos o convidar para a manifestação mas, como não é o ministro dos professores, se calhar por isso fala assim. Mas vai ver as imagens e tirar as suas conclusões. Hoje tivemos em S. Vicente escolas que atingiram os 100 por cento de adesão. Mas ele não devia vangloriar, ainda que fosse apenas 1 por cento porque estamos a falar de uma classe com problemas que ele devia estar a resolver’.
Para este sindicalista, não restam dúvidas que, em S. Vicente, os professores responderam positivamente à greve. E a causa exige, pelo que a luta não vai parar. ‘Já no dia 4/5 de outubro, vamos fazer uma nova manifestação. E, se o governo quiser insistir em radicalizar-se, também nós iremos. Não haverá notas no final do ano e os professores terão todo o suporte dos sindicatos. Estamos juntos até fechar este dossier. Este é um compromisso que assumimos com a classe docente “, assegurou, aproveitando para criticar a publicação da lista sobre subsídio por não redução de carga horária.
Segundo Nelson Cardoso, a publicação desta lista mostra, mais uma vez, a forma baixa e pouco leal como o ministro e o governo lidam com os professores. Lembra que a lista deveria ter sido publicada em junho e só aconteceu esta sexta-feira devido à luta dos docentes. ‘E mesmo o publicando, significa que há três meses estão a dever dinheiro aos professores. Para não falar de 7/8 anos. Desde 2016 nunca houve publicação da lista de subsídios. Portanto, se o ministro tivesse consciência não deveria estar a vangloriar a publicação desta lista, que é um compromisso que tinha desde há muito tempo.’
Quanto ao Plano de Cargos, Funções e Remunerações que, de acordo com o ME, contempla os professores licenciados, mestres e doutores, Nelson Cardoso prefere ver para crer. Realça que esta foi uma das situações que os sindicatos rejeitaram assinar este documento que, afirma, lesa os professores de todas as formas. Por exemplo, pontua trava a evolução na carreira porque retira aos professores o direito à promoção, ou seja, a evoluir na vertical. ‘A ministra da Administração Pública veio dizer que os professores não evoluem na vertical porque não mudam de função. Ou seja, um professor que faça mestrado ou doutorado continua a exercer docência, o que é algo absurdo e mostra o desconhecimento do que é a docência e a educação em si’, lamenta.
Para justificar, este sindicalista busca o exemplo dos médicos que fazem a sua especialização e se tornam médicos-especialistas. Por isso não entende porque aos professores está a ser proibido fazerem a sua carreira normal. E mais, a proposta do PCFR, diz, não é tão clara porque cada progressão, que é chamada de evolução na horizontal, se traduz em um ganho de apenas de dois mil escudos, que sequer é automático. Ou seja, processa através da acumulação de 300 créditos e ainda está pendente da dotação orçamental. ‘Por isso digo que não está claro que o professor vai evoluir na carreira. E nenhum professor vai evoluir para ganhar dois mil escudos. Não vai fazer um mestrado ou doutoramento para ter uma melhoria salarial de dois mil escudos.’
Não obstante toda esta crispação, este dirigente garante que os sindicatos estão disponíveis para negociar. Relativamente aos processos contra os docentes que congelaram as notas no ano lectivo anterior, Nelson Cardoso deixa claro que não se deixam intimidar e nem vão amedrontar ninguém. ‘Os sindicatos quando tomam uma decisão é com toda a responsabilidade. Ainda a greve é permitida e o congelamento das notas vai ser no contexto da greve. Portanto, não haverá nenhum tipo de problema.’
Nelson Cardoso terminou dizendo que, pelos menos por enquanto, não existe nenhuma negociação agendada com o ministério, mas é algo que esperam.