O desânimo é o sentimento mais presente neste último dia do ano em São Vicente, normalmente marcado por uma grande movimentação nas ruas de morada, abraços, música de boas festas e votos de bom “pite na Baía”. Mesmo com a tolerância de ponto decretada pelo Governo, as lojas estão a meio gás. Como apurou este jornal, alguns convívios particulares e familiares estão a ser cancelados e o dinheiro das cotas devolvido às pessoas. As rabidantes nas praças e ruas queixam-se de pouca venda. Os mindelenses justificam que não têm motivo comprar roupa e sapatos porque vão ficar em casa. Este está a ser, sem sombras de dúvidas, um final de ano atípico, aliás, à semelhança do ocorrido em 2020.
No Mercado da Ribeirinha em São Vicente, que nesta época festiva costuma receber uma grande quantidade de vendedeiras ambulantes de roupas, sapatos e acessórios, a procura é muito reduzida, segundo Joana, uma antiga rabidante deste espaço. Nem mesmo esta sexta-feira, dia de venda de produtos frescos de Santo Antão, não se vê grandes movimentações. “Infelizmente, a procura por alimentos, roupas, calçados e acessórios está a ser muito baixa. As pessoas alegam falta de dinheiro, mas também dizem que não têm por que se embelezarem para ficarem em casa. Nesta altura, o que importa é entrar no novo ano com vida e saúde. De resto, é só continuar a lutar pela nossa sobrevivência”, diz.
Pensamento similar tem Jussara Santos, 21 anos. Segundo esta jovem, normalmente num dia como hoje estaria em uma azafama a preparar a sua roupa, a fazer as unhas e cabelo para a festa logo mais. Antes, afirma, fazia questão de assistir aos fogos-de-artifício na Avenida Marginal e ouvir uma ou duas músicas na Rua de Lisboa. “Este ano vou ficar em casa. Costumava sair com minhas amigas a dar boas-festas, depois íamos à Marginal ver os fogos e fazíamos uma breve paragem na rua de Lisboa para assistir um pouco do espectáculo. De seguida, iriamos para uma festa de malta até amanhecer. É triste.”
Infelizmente, nem festa na Rua de Lisboa, nem os particulares, seja em casa de familiares ou grandes eventos. Os últimos números da Covid-19 em São Vicente obrigaram ao cancelamento destas actividades e os organizadores tiveram de devolver os montantes pagos, arcando com “enormes prejuízos”. A exigência de testes negativos para participar nos eventos, dizem, revelou um número elevado de casos activos, o que acabou por determinar o cancelamento de algumas festas bem concorridas na cidade do Mindelo.
E tudo indica que este poderá ser o destino de outros convívios, pois nem os mais “pequenos” estão a ser poupados. Por exemplo, na Ribeira Bote, a festa de “Casinha” foi cancelada e o dinheiro das entradas devolvido aos convidados. O medo de um possível alastramento dos contágios assim o determinou. “É melhor assim. Seria pior se, após as festas, as pessoas testassem positivo. O importante agora é vida e saúde”.
De acordo com o boletim epidemiológico diário, os laboratórios de virologia analisaram ontem um recorde de 3.017 amostras, diagnosticando 791 infeções, que se traduz numa taxa de positividade de 26,2 por cento. Do total de novos infectados, 125 foram confirmados em São Vicente. Mas há também muitos cépticos que questionam estes números que, afirmam, apenas vieram dar sustentação â medida do Governo de proibir a realização de eventos nesta passagem de ano.