Os Bombeiros de São Vicente protagonizaram na tarde desta segunda-feira, 14 de abril, mais uma manifestação pelas ruas da cidade do Mindelo, com partida do quartel e término na Praça D. Luís para exigir da Câmara o cumprimento dos três memorandos, o último assinado na véspera do festival da Baía das Gatas de 2024. O coordenador local do Siacsa pediu, entre outros, o desbloqueio das promoções congeladas, denunciou o número insuficiente de bombeiros – apenas oito para os 30 previstos no Estatuto dos Bombeiros – e assédio por parte do Comandante da Corporação.
Edy Ganeto justifica esta forma de luta com os sucessivos incumprimentos por parte da CMSV das três atas de entendimento rubricada com o Siacsa, inclusive do assinado entre as partes em Agosto passado e que era de resolução imediata. “Reunimos, na altura, com o próprio presidente da Câmara Municipal e aceitamos as propostas que nos foram apresentadas e que seriam resolvidas de imediato, caso das promoções. Os bombeiros de S. Vicente estão com três promoções em atraso”, detalhou.
O dirigente sindical critica ainda o número insuficiente de soldados da paz, oito para uma população de 80 mil habitantes. “Ainda não oito, mas em breve reduziram para sete porque um dos elementos vai para reforma em breve. O Estatuto dos Bombeiros diz que em S. Vicente deveria ter no mínimo 30 elementos. Estamos muito longe deste número. Têm também pendente a questão da refeição quente a ser atribuída, sobretudo nos turnos da noite e que também constam do Estatuto. É mais uma violação.”

O problema, afirma, é que não há diálogo entre a CMSV e o sindicato. Edy Ganeto explica que foi entregue, em mãos, uma missiva em fevereiro a pedir um encontro para dar discutir as questões pendentes, mas não houve resposta. Em jeito de alerta, o Siacsa realizou há duas semanas uma conferência de imprensa onde reforçou as denúncias, também sem feedback. Pelo que promete continuar a lutar, com manifestações, greves e todas as formas de lutas previstas e respaldadas na lei.
A este rol de reivindicações e acusações, o sindicalista junta ainda o alegado assédio aos bombeiros por parte do Comandante da Corporação que, afirma, está a ser sistematicamente ignorados pelo presidente da CMSV, mas que é algo sério e pode escalar, por exemplo, para confrontos físicos. “Os bombeiros estão a ser humilhados e intimidados dentro do gabinete do Comandante, incluindo os delegados sindicais. Por exemplo, em caso de faltas injustificadas, têm horas no cais cortados.”
Assédio moral
Confrontado, Milton Lima, que desempenha funções de delegado sindical deste 2017, confirma que tem havido muitas tentativas de intimidação. “Não nos deixamos amedrontar porque estamos respaldados pela lei. Não sou um arruaceiro. Por mais que tentem, vou usar tudo aquilo que está previsto na legislação para defender os nossos interesses laborais. A nossa luta é diária e há muitas situações que se configuram assédio moral,” revela, citando como exemplo a exigência para receberem entidades religiosas, sendo Cabo Verde um país laico. “Temos de trazer estas situações para a rua para que a sociedade civil possa tirar ilações. Estamos a fazer turnos com apenas dois profissionais, o que é inaceitável. É preciso respeitar a lei e o Estado tem de dar exemplo,” acrescenta.

Indignados, Lima promete continuar a manifestar porque, defende, a profissão de bombeiros é sensível. “São três memorandos por cumprir desde 2022. Ultrapassou-se todos os prazos para resolver os pendentes. Em 2012 São Vicente tinha 23 bombeiros, como entender que em 2025 sejamos apenas oito, sendo que a cidade está a crescer, a ilha tem uma população maior e os prédios são maiores.”
A manifestação contou com a participação de bombeiros no ativo e na pré-reforma.