Os bombeiros de São Vicente retomaram hoje, agora na rua, as reivindicações que constam do acordo assinado em sede da Direcção-Geral do Trabalho em dezembro passado e que nunca foi cumprido pela câmara da ilha. A situação é tão critica que os soldados da paz ponderam dar entrada no tribunal a uma queixa ainda este mês. Mas, a luta não vai parar, muito pelo contrário, se não houver nenhum sinal por parte da edilidade, vão entregar um pré-aviso de greve para vigorar durante o festival da Baía.
Inicialmente, os bombeiros de São Vicente de pretendiam fazer uma manifestação pelas principais ruas da cidade do Mindelo, apesar do número reduzido, ou seja, seis efetivos e cinco em pré-reforma. Mas esta pretensão sofreu um forte revés com o recrutamento de dois efectivos para a descarga de combustíveis no Porto Grande. O terceiro está no quartel de serviço, o quarto de férias e o quinto é filiado em um outro sindicato. O delegado sindical foi o único efectivo presente na concentração.
Ainda assim, os bombeiros não se desmobilizaram. Estiveram concentrados na porta do quartel, portando cartazes com as suas reivindicações e fizeram questão de expressar o seu descontentamento para com o seu empregador. João Pinto, mais conhecido por “Djunga”, era um dos mais inconformados. “Vou fazer 38 anos como bombeiro em breve, sem contar o serviço militar e de agente sanitário. São quase 44 anos de serviço prestado ao Estado de Cabo Verde. Estou há cerca de quatro anos em casa, ou seja, desde a pandemia da Covid-19, por ser do grupo de risco, à espera da reforma”, declarou à imprensa.
Lembra que trabalhou quase todos os dias sem descanso, pelo que não entende como a CMSV decide mandá-lo para casa, cortando-lhe os subsídios que auferiu ao longo dos anos de serviço. “Não aceito porque a CMSV tem muitos pendentes por resolver connosco. Estamos em uma situação pouco digna. Não tenho condições de fazer um tratamento fora e sei de colegas que estão a passar por dificuldades devido a compromissos bancários e outros. Tenho vergonha de estar sempre a reivindicar as mesmas coisas, mas até o meu último sopro vou estar aqui com os meus colegas porque tenho amor à classe.”
O delegado sindical, o único efectivo presente na concentração, terminou o turno de trabalho às 8 horas de hoje e juntou-se aos colegas na luta. Milton Lima justificou dizendo que a situação laboral nos bombeiros neste momento é muito precária. “Terminei às oito horas da manhã o meu turno e eu era o único bombeiro efectivo. Os demais eram todos voluntários. Somos seis efectivos a dividir por quatro turnos. A nível da matemática, todos podem ver que esta conta é complexa. A nossa carga de trabalho é exagerada”, diz, lembrando que os voluntários não têm qualquer compromisso com o serviço.
Por isso, este soldado da paz apela ao cumprimento da legislação, mais precisamente do Estatuto dos Bombeiros, que diz que o número mínimo não deve ser inferior a 30 efectivos. “Em situação de emergência temos optado por atender os casos mais graves e, só depois, avançar para outros. Estamos a trabalhar com os meios disponíveis. Ficou acordado a contratação de mais sete bombeiros logo após a posse da nova diretora dos RH da Câmara e mais cinco na sequência. Nada aconteceu ainda.”
Para o coordenador do sindicato Siacsa são vários os pontos do acordo e que estavam pendentes da entrada da nova directora dos RH, mas continuam por resolver. De entre estes destaca a entrada de mais efectivos, o desbloqueio das promoções congeladas desde 2012 e a aplicação do Plano de Cargos, Funções e Remunerações (PCFR), que vigora desde novembro, mas excluiu os bombeiros.
“Entendemos que já se ultrapassou o tempo para se cumprir o acordo, mas não há respostas. Isso cria uma revolta tanto para o sindicato como para os bombeiros. É uma falta de respeito. O Regulamento Interno e os Estatutos estão a ser violados e estes senhores precisam ser punidos. Alguém precisar assacar responsabilidades à CMSV”, afirma Heidi Ganeto, que voltou a reafirmar a intenção do Siacsa de dar entrada no tribunal, no final deste mês, a uma queixa contra a Câmara de São Vicente.
Paralelamente, este sindicalista garante que o Siacsa vai convocar novamente os bombeiros e agendar uma greve para os dias do Festival da Baía das Gatas, ou seja, 15 a 18 do mês de agosto.