Beneficiárias da bolsa de troca comunitária do Centro Social SOS do Mindelo – um subprograma do Reforço Familiar das Aldeias Infantis através do qual as famílias solicitam materiais para a melhoria habitacional e em troca oferecem serviços, bens, produtos ou devolução em parcelas do valor recebido – estão satisfeitas com o resultado. Ponderam, aliás, voltar a solicitar apoio para continuarem a investir na melhoria das suas condições de vida. “É um grande apoio para as famílias.”
Cátia Barbosa conta que aderiu ao programa através da Associação Solidária Intaenta de Fonte Filipe, zona onde reside. Era o seu sonho construir mais um cômodo na casa herdada da família, junto com mais duas irmãs, para se acomodar como mais conforto com os dois filhos menores, um menino e uma menina. “Recebi então uma caixa e comecei a erguer as paredes para construir um quarto no terraço da nossa residência. Da associação recebi os prumos e as chapas para a cobertura. Como na altura estava a trabalhar, não consegui trocar, então mensalmente entregava uma quantia em dinheiro.”
Diz esta mãe que o impacto foi imediato, pelo que está motivada para recorrer a esta associação à procura de mais financiamento. “Foi muito bom porque estabeleceram um prazo para liquidar o investimento de forma tranquila. Agora quero construir uma proteção para a escada, mas, por causa do horário do meu trabalho, ainda não tive oportunidade de ir lá na associação para requerer um novo investimento”, revela Cátia, que trabalha como cuidadora de um idoso em Pedra Rolada.
Determinada, esta jovem-mãe solteira já começou a adquirir alguns materiais – porta, janela, sanita, lavatório e mosaicos – para construir uma pequena casa-de-banho e um quarto para os dois filhos. “Neste momento, dormimos os três no meu quarto. Mas estamos melhor acomodados agora e com privacidade. Antes dormíamos em um quarto no rés-do-chão da casa e muito apertados. E espero continuar a melhorar as nossas condições de vida, com apoio da associação.”
Já para Romina Rodrigues, moradora na Ribeira Bote, mãe de uma menina e cuidadora junto com a mãe de outras três crianças filhos de uma irmã falecida, diz que o apoio do Centro mudou a vida da família. “Fomos contemplados através da Associação Recreativa e Comunitária d’Soncente, que muito tem ajudado a nossa família. Começaram a falar com a minha mãe, mas, como ela é analfabeta, assumi a dianteira. E estamos muito satisfeitos com esta ajuda, que melhorou a nossa qualidade de vida. As crianças participam de atividades nas férias, o que também é uma grande ajuda porque trabalho.”
Os sobrinhos crescidos também não ficaram de fora. Segundo Romina, o de 20 anos, que há muito procurava emprego, participou de duas formações, e atualmente trabalha na ilha do Sal. “É menos uma preocupação. A minha filha de sete anos fica na casa da mulher que me criou. Quando a minha irmã ainda estava viva, era ela quem cuidava da minha filha. Após a sua morte, não sentia segurança em ela ficar na nossa casa porque minha mãe tem um pequeno negócio e a porta está sempre aberta.”
Relativamente a “bolsa de troca”, como não conseguia oferecer nenhum serviço por causa do emprego – uma das regras para aderir a esta plataforma -, Romina explica que a associação disponibilizou à família os materiais para construir mais um cômodo na casa. “Todos os meses, durante um ano, descontei cinco mil escudos do meu salário. Concluí os pagamentos em outubro. Estou agradecida e satisfeita com o resultado. E gostaria de repetir a experiência porque foi extremamente positiva.”
A par dos materiais de construção, informa Romina, a família recebeu a quantia de 35 mil escudos para abrir um pequeno negócio. Mas, como a mãe tem uma pequena venda em casa há muitos anos, optaram por investir em um negócio sazonal, durante as semanas de mandinga em 2024. “Foi lucrativo. Consegui quase que duplicar o investimento. E, após o enterro do carnaval, paguei todo o valor recebido. Na altura, aconselharam-me a reinvestir o valor para reforçar o negócio. Mas recusei porque tenho o meu trabalho e a minha mãe tem problemas de saúde, que não lhe permite manter os dois. “
Com o valor remanescente, de acordo com esta beneficiária, abasteceram a casa com alguns produtos em falta e fizeram pequenos reparos. “Por isso digo que este apoio foi fundamental para a minha família, inclusive estou a equacionar voltar a pedir um novo empréstimo de 35 contos no próximo mandinga. Só não fiz o pedido ainda porque mudaram o meu horário de trabalho para o período da tarde e não sei se conseguirei estar disponível nos domingos dos desfiles”, indica.
O programa Reforço é gerido pelas Aldeias SOS, através do Centro Social SOS do Mindelo. É financiado pelo Governo Alemão e por Hermann Gmeiner Fonds e beneficia 800 crianças de 200 famílias, pertencentes a quatro comunidades da cidade do Mindelo: Ribeirinha, Fonte Filipe, Ribeira Bote e Monte Sossego. Visa, essencialmente, a proteção integral das crianças através também de um trabalho com as suas famílias a nível da capacitação, tanto em termos de cuidados parentais como de autonomia financeira, e é desenvolvido com forte parceria das associações de base comunitária.