A API – Associazione Ponte Internazionale quer criar uma rede em Cabo Verde que apoie cabo-verdianos no exterior a retornar ao país com maior dignidade. Com sede na Itália, esta estrutura criada pela cabo-verdiana Ângela Spencer Teque, tem se apoiado na delegação da Organização das Mulheres em São Vicente para fazer chegar ajudas aos que mais necessitam e tem sido uma forma da própria emigrante “regressar para casa”.
“Depois de 43 anos, penso que é a hora de trazer o que aprendi na Itália e os meus valores para aplicar no meu país. Aprendi com visitas às comunidades, a respeitar as pessoas e independente conhecendo as dificuldades por que passam, precisamos de lhes dar maiores dignidades e respeito”, garante a presidente da Associazione Ponte Internazionale.
Angela Spencer Teque sublinha que, como ela, há muitos cabo-verdianos a quererem regressar ao país, porém por vergonha de não serem bem sucedidos e pelo abandono da família, não voltam. “Não imagina quantas pessoas querem regressar, mas têm vergonha porque sentem que não chegaram aos seus objetivos. E depois de ajudarem a família, os filhos, muitos fecham-nas a porta na cara”, lamenta.
Desta forma, a ideia é criar mecanismos dentro de Cabo Verde, para aproveitar a experiência daqueles que trabalharam uma vida inteira e dar-lhes novos desafios aqui no país e ainda criar redes com outras associações, para trabalhar com os jovens nos seus objetivos e desmistificar a ilusão da emigração.
Criada em 2016, a API teve no seu início uma visão social, diz Ângela, que foi também presidente da Organização da Mulheres de Cabo-Verdianas na Itália. O intuito é ligar nacionalidades diferentes, fazer chegar as ajudas de quem tem aos que necessitam, além de ser ponte dos cabo-verdianos emigrados ao país de origem. “Sendo presidente da OMCV-Itália, passei a conhecer muitos problemas sociais e enviava recorrentemente ajuda para Cabo Verde. Com a Ponte Internazionale passamos a abranger mais pessoas, com diferentes nacionalidades”.
Um trabalho social que no inicio se dedicava a apoio a espaços ligados a crianças mas que, ao longo do tempo e vendo as necessidades dos cabo-verdianos, Ângela explica que resolveram abranger mais pessoas “Temos enviado ajuda para diferentes associações em Cabo Verde, além da OMCV em São Vicente, como também Cantinho das Crianças em Santo Antão e em São Nicolau, o Jardim Manuel Monteiro na ‘vila’ [cidade] da Ribeira Brava e o jardim Amor de Deus. A princípio enviávamos ajudas só para os jardins e para as crianças, mas percebemos que em São Vicente existiam muitos idosos carenciados e a apostamos na OMCV por ser uma associação com grande credibilidade e que atinge as parte mais rurais do país e por conhecer as situações mais vulneráveis.”
Ciente desta realidade, têm enviado ao país roupas e fraldas de adultos, para suprir as necessidades, de acordo com as doações que têm recebido naquele país europeu.
Ângela Spencer conta que a associação não tem encontrado grandes barreiras para recolher e enviar as doações para Cabo Verde, pelo que aponta o processo nas alfândegas como simples e estimulador para que mais ajudas cheguem ao país. “Na Itália já tenho sinalizado as famílias que me ajudam. Tem as que compram bens alimentares e há outras que nos chamam para recolher roupas e diferentes doações, e tem uma agência que nos ajudam no transporte das doações. Nas alfândegas em Cabo Verde não temos pago para despachar doações para as associação e, por isso, temos tido alguma facilidade”, diz Spencer, para quem este facto ajuda com que sejam mais transparentes com quem ajuda.
A Ponte Internazionale é formada por oito membros e além de doações, trabalha com encontros e palestras na Itália. “Um dos objetivos da associação tem sido trabalhar o turismo sustentável em Cabo Verde. Antes da Covid-19 apresentamos um projeto para trazer turistas a São Nicolau e fomos uns dos 10 selecionados pela União Europeia. É um projeto válido porque precisamos de uma evolução. No caso de São Nicolau há nichos de montanha e, na Itália, há muita gente pronta para partir para Cabo Verde”.
Esta aposta tem como público pessoas que não querem ficar em hotéis quando viajam e por isso São Nicolau foi o espaço escolhido para acolher a sede operativa da Ponte Internazionale. “Há muita gente na reforma a querer uma vida calma e saudável, mas muitos querem aventuras e é isso que pretendemos oferecer-lhes através da associação”, reforça.
A emigrante defende que os mais experientes que regressaram ao país deveriam ser aproveitados para encontros entre gerações e transmitirem aos mais jovens saberes que aprenderam além-fronteiras, no processo também de desmistificar a emigração e mostrar-lhes que se pode prosperar no próprio país.