A Adeco lançou hoje, no Mindelo, uma campanha nacional intitulada “Água: Qualidade e preço justo nos fontanários”. A acção ocorre no âmbito do Dia Mundial da Água, que este ano decorre sob o lema “Água para a paz”. António Pedro Silva justificou dizendo que a população que compra este líquido nos fontanários e sentinas está a pagar um valor quatro vezes superior a tarifa do escalão social.
É esta situação de injustiça que, segundo António Pedro Silva, o levou a propor à Adeco a realização de uma ação de âmbito nacional de acesso a água potável, em particular da redução do preço do líquido nas sentinas, fontanários e chafarizes. “A população está a pagar um custo directo cerca de quatro vezes o preço que a Câmara adquire a água na Electra. Este valor é ainda três vezes superior ao pago pelas pessoas com água a domicílio. É uma desigualdade enorme e uma injustiça inaceitável.”
Inconformado, este técnico do sector afirma que decidiu dar o seu contributo a bem da população e da paz social. “As Nações Unidas, ao falarem de água para a paz, estão a pensar nos casos da Etiópia e do Egipto, que se encontram à beira da guerra por causa do Nilo. Em Cabo Verde, o problema maior é o acesso a agua de qualidade e a preço justo para as populações mais desfavorecidas. É algo tão evidente que penso que é uma aberração as autoridades não agirem neste sentido”, pontuou.
Enquanto coordenador da campanha, António Pedro Silva entende que esta deve ser uma luta de todos. “Será uma campanha com a duração de seis meses e com várias atividades, desde formação e sensibilização das pessoas, tendo em conta que boa parte da população paga este valor absurdo. E isto sem contabilizar o tempo que perde à procura, nas filas e no transporte da água”, detalha, realçando que, pelos seus cálculos, as pessoas estão a pagar 3/4 mil escudos por tonelada. “E posso garantir que pagar 200 escudos por uma tonelada de água em S. Vicente ou na cidade da Praia é um exagero.”
Em jeito de exemplo, o responsável pela campanha a nível nacional diz que, neste momento, famílias com baixo consumo com água canalizada em casa pagam 300 escudos/m3. Já as com consumo mais alargado – entre 5 a 10 toneladas – cerca de 500 escudos. “Enquanto isso, temos pessoas a comprarem 5 litros de água por cinco escudos nas sentinas, o que significa que está a pagar mil escudos por tonelada. Se comprar uma vasilha de 25 litros por 20 escudos, está a pagar 800 escudos por metro cúbico. Sem consciente daquilo que verdadeiramente estão a pagar, entendem que o custo é reduzido.”
Por isso, diz, António Pedro Silva, a Adeco vai promover ações formativas e de informação visando pressionar e mudar as mentalidades e conscientizar as autoridades. “Vamos, se necessário, accionar as autoridades internacionais, mobilizar a população. Penso que todos os cidadãos têm a responsabilidade de lutar contra esta aberração. Tem faltado bom senso às autoridades, principalmente nos centros urbanos de S. Vicente, Praia e Sal, sobre o fornecimento a estas populações de uma água muito mais barata, É um direito porque a ajuda externa que Cabo Verde recebe é em nome desta mesma população”, acusa.
Este mostra-se particularmente agastado com o preço das garrafas de água de 33 dl, que custam à volta de 30 escudos e que representam um custo por tonelada entre 90 a 100 mil escudos. Isto, sendo as autoridades nacionais – governo e câmaras municipais – as grandes consumidoras de água engarrafada. Entretanto, diz, são elas que estão a explorar a população mais vulnerável, sobrecarregando-a com a compra a preço exorbitante nos fontanários, sentinas e chafarizes.
