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Grupos criticam demora no pagamento dos prémios Carnaval 2025: “Estamos com a corda no pescoço”

Prestes a completar um mês do desfile oficial do Carnaval de São Vicente, realizado no dia 4 de março – que este ano superou as expectativas e cumpriu o slogan “Maior espetáculo de Cabo Verde” – os grupos carnavalescos ainda não receberam os prémios colectivos e individuais e nem mesmo os valores arrecadados com a venda de bilhetes das bancadas. Atolados em dívidas, os presidente relatam constrangimentos para honrar os compromissos. “Estamos com a corda no pescoço”.

Os presidentes dos quatro grupos carnavalescos de São Vicente ouvidos pelo Mindelinsite – não foi possível o contacto com a responsável do Vindos do Oriente – são unânimes nas críticas devido a demora na liberação dos valores dos prémios. E estas são direcionadas sobretudo à Câmara Municipal de São Vicente. “Todos os grupos estão com dívidas. Temos compromissos que não podemos honrar. No nosso caso, o valor pode ser pouco, mas já dá para pagar algumas contas. Mas, infelizmente, ainda não recebemos nada, mas ouvi dizer que talvez esta semana entregam os prêmios individuais. Mas não tenho certeza de nada”, declarou a presidente do grupo carnavalesco Flores do Mindelo. 

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Ana Gomes aceita que era difícil receber, no imediato, os valores arrecadados com a venda dos bilhetes das bancadas. Ainda assim estranha tanta demora, sendo que já passou quase um mês do desfile. “Sabemos que tinham de fazer as contas, pagar o pessoal que trabalhou na montagem e desmontagem das bancadas. Esta é uma tarefa da CMSV, que tem a responsabilidade de pagar ainda a Electra, os guardas e depois os grupos. E já lá vai um mês. Estamos todos com a corda no pescoço”, desabafa a presidente, que se mostra agastada sobretudo pelas cobranças, sem possibilidade de pagar. 

“Quase todos os anos esta situação se repete. Os prémios são pagos muito tarde. Este ano superamos as expectativas. Tivemos pouco mais de um mês de trabalho, mas apresentamos um produto de alta qualidade. E se tivéssemos verba em tempo útil, poderíamos fazer muito mais. Mesmo assim é visível a evolução do Carnaval na ilha de São Vicente”, reforça. Ana Gomes lembra que esta é uma das questões que foi abordada no encontro com o Ministro da Cultura, pelo que se mostra esperançosa na liberação em tempo útil de verbas para poderem iniciar os trabalhos nos meses de setembro/outubro. 

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Para o presidente do Estrela do Mar, a demora no pagamento dos prémios descredibiliza os grupos carnavalescos e principalmente os presidentes ante os seus credores. “Recebemos chamadas diárias, somos pressionados e ameaçados por não honrar os nossos compromissos. No meu caso, sou abordado na rua e não estou aqui para este tipo de coisas. Precisamos que os pagamentos sejam feitos o mais breve possível”, confessa Júlio do Rosário, mostrando-se particularmente preocupado porquanto, diz, os contatos já foram feitos, mas não há previsão de pagamento. 

O mais grave, afirma, é que os prémios do Carnaval foram patrocinados por uma instituição financeira, pelo que não se entende porque ainda não receberam os valores. “Se tudo foi patrocinado, por quê ainda não pagaram? Se tivessem sido oferecidos por uma empresa privada que tinha de aguardar por questões do orçamento eu até entenderia. Mas foi um banco, o que significa que há dinheiro disponível. A dúvida é se o dinheiro foi disponibilizado, mas ainda não chegou aos grupos. Queremos saber o que está a acontecer. Nem mesmo o dinheiro das bancadas os grupos ainda não receberam.”

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Questionado sobre o montante resultante da venda dos bilhetes que o grupo poderá receber, Júlio do Rosário revela que, em 2024, cada um recebeu 460 mil escudos. A expectativa é de que este ano venha a receber em torno de 500 mil escudos, tendo em conta que a verba vai incluir também parte dos gastos da bancada VIP. “Em contato com o Staff Promo, que responde pela logística do Carnaval, Nuno Sérgio confirmou que todo o dossiê já foi entregue na CMSV. Estamos ansiosos a aguardar a sua liberação para poderemos liquidar as dívidas dos grupos. Não podemos funcionar desta forma.”

Também o presidente do Monte Sossego confirma que o grupo ainda não recebeu nenhum prémio e nem os valores provenientes das receitas das bancadas. Trata-se de uma situação que, diz António “Patcha” Duarte, cria constrangimentos às agremiações em função dos compromissos. “Estamos a depender dos valores da premiação para honrar alguns compromissos. Isso, de facto, cria muitas dificuldades. Desde o dia 6 de março estamos em contacto com a CMSV e com a Liga, mas ainda não temos nenhum retorno. E, se contabilizarmos no tempo, esta sexta-feira completa um mês do desfile.”

Vencedor do Carnaval 2025, o grupo Cruzeiros do Norte também não está imune às dificuldades decorrentes da demora na liberação dos prémios. Segundo Jailson Juff, apesar dos valores a receber não cobrirem a totalidade das dívidas, aliviam a pressão. “É uma situação que já se tornou recorrente e ainda não temos nenhum sinal. No nosso caso, vamos receber 600 contos referentes ao primeiro lugar, mais o prémio de Melhor Andor (250 contos), Melhor Carnavalesco (200 contos) e receitas da bancada. No total, acredito que devemos receber mais de dois mil contos. É um montante importante para o grupo.”

Estranha sobretudo o atraso no pagamento das receitas das bancadas que, afirma, são compradas com dinheiro vivo por forma a reduzir a burocracia e que deviam ser pagas imediatamente. “Pelo menos é isso que nos tinham dito, mas, até à data, nada. A desculpa é que ainda estão a fechar as contas. A situação está tão difícil que, neste momento, estamos aqui na Enapor para pedir mais tempo para entregar os atrelados porque não temos dinheiro para pagar os trabalhadores para desmontarem os andores. Depois de fazer e apresentar um grande trabalho, estamos a sofrer humilhações desnecessárias porque não temos condições de honrar os nossos compromissos.”

A lista completa dos prémios do Carnaval de São Vicente 2025 coloca o Cruzeiros do Norte no lugar cimeiro do pódio, seguido por Monte Sossego, Vindos do Oriente, Estrela do Mar e Flores do Mindelo. Foram ainda atribuídos prémios de Melhor Bateria e Melhor Carro Alegórico (Cruzeiros do Norte), Mestre-Sala e Porta-bandeira (Estrela do Mar), Rainha de Bateria (Monte Sossego), Segunda-dama (Vindos do Oriente) Primeira-dama (Cruzeiros do Norte), Rainha e Rei do Carnaval (Monte Sossego), (Flores do Mindelo) Melhor Carnavalesco e Melhor música (Cruzeiros do Norte).

Foi impossível o contacto com a Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente e nem com a Câmara Municipal de São Vicente para reagirem às criticas dos presidentes dos grupos.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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