Sou um adepto ferrenho da cultura popular cabo-verdiana em todas as suas vertentes. Tenho para mim, que o Carnaval de São Vicente é o seu expoente máximo. Esse evento que arrasta multidões e que atualmente atingiu patamares elevados, é motivo de orgulho de tud kriol e, para o turista que o tem consumido, uma manifestação popular de elevado nível cultural que vale a pena vivenciar.
Por: Elson Santos
Volvidos 9 anos sem poder apreciar “loucamente” o Carnaval de Soncent, eis que o meu irmão Jorge, emigrante em terras lusas, resolveu dar um pulo à terra amada para também brincar o Carnaval, depos dun data de temp ausente do torrão natal.
Confesso que foi com enorme entusiasmo que pisei a cidade do Mindelo, a terra que me viu nascer, para ser preciso, minutos antes do início do esplendoroso desfile dos grupos carnavalescos concorrentes. Contudo, o que mais me impressiona e aprecio é o Enterro do Carnaval, seguido do desfile de Mandingas, oriundos dos diferentes bairros de S.Vicente. Do meu ponto de vista, esse desfile representa a maior manifestação cultural popular de Cabo Verde, pois é a que o maior número de pessoas envolve. Ê tonte gente kun pesoa t armá infrontá y desorienta. Com um toque de exagero, parce-m ma população de SV, dia de enterro d Carnaval, ta estod quase tud na rua. Kes ka tiver na desfile ta estod na varanda y janela de ses kaza t panhá boné.
A festa do Enterro do Carnaval merece ser mais valorizada e respeitada. Verdade seja dita, é primeira vez que participo no desfile de mandingas, pelo que não é demais dizer: “Foi sab pa kagá, energia radiante.
1 komessa ta kompanhá desfile lá na Fonte Meio. Kond 1 tv t entrá na Txã d’ Alecrim mi nh broda Sol, 1 amigo de infância q tava de féria, vindo de Angola, da dent de corda” (limite dos que participavam oficialmente do desfile). É pouco, diante do que sinti y oia. A sabura foi sol de pouca dura, já que uns minutim depos es xpulsá nôs, fora da corda que delimitava os mandingas. Senpre tem un satanás t kre kabá k animação.
A quase do final do desfile, em Chã de Alecrim, reparei que havia um grupo de animação constituído por umas tantas meninas e mulheres, “comandadas” por um homem, que dançava e cantarolava refrões bastantes sugestivas relacionadas com letras sobre kosa de não pode ser: “N oiá bo mãe t da rally”…”oh lê lê”… ê num bisikleta dun roda sô” oh lê lê… “Kalmex, kalmex na bo komplex”. “Bo durmi na sex nun kaminha de molaflex”, “A-rmá, a-rmá, a-rma bo maleta, já te na hora d’bo ba pa kaza di bo mãe”.
Maravilhástico. Sô kosa sab. As letras chamaram-me a minha atenção. Achei criativo o refrão. Un pegá nh telefone pa resgistá esse momento. Comecei a filmar o grupo para perceber a mensagem que queria transmitir. Mais a frente, insisti e fui entrevistar o senhor CHÁ. El dze-m k se nome ê Hamilton, mas konxid pa CHÁ. À primeira, negou conversar comigo, dizendo que eu pretendia ganhar dinheiro com a sua imagem e suas letras, ao passo que ele nada receberia em troca. Fiz-lhe mostrar que esta não era e nem poderia ser a minha intenção. Disse-me: “Enton, bo ta dame un sandes. N dze-l, ok”. No fim do desfile, ele voltou a cantarolar os mesmos refrões. Pensando em um projeto futuro a ser desenhado, pedi o móvel d’nh do broda Sol (D’meu já tinha descarregod ), para registar em áudio o que ele dizia.
Reparei que nôs amiga Katisa também o filmava. Disse para os meus botões: “ Uabá, agora ess registo de memória ta dá un filme. Ki-sá?
Resultado: estamos perante uma pura manifestação popular, xei de cultura de um povo, que precisa ser valorizod e respeitod. É isso que nos faz ser o que somos. Somos produtos da tradição oral. Um CHÁrnaval.