Obviamente nem tudo é mau, obviamente há registos de boas obras, entretanto, há muito por fazer e que poderia ter sido feito. Governar, ter de fazer escolhas e decidir em qualquer esfera não é de todo fácil, mormente quando é sobre os destinos de uma coletividade. Fez o que pode ao longo destes muitos e longos anos, contudo, devemos questionar se tem condições para continuar? Na minha perspetiva, está provado que não.
Por: Nelson Faria
O calcetamento em algumas zonas da ilha, o trabalho dos serviços sociais, a valorização de eventos culturais e de entretenimento, a limpeza urbana, apenas urbana, porque há questões estruturais sobre o lixo na ilha por resolver, são as áreas de destaque onde se viu algo palpável ao longo dos dezasseis anos na CMSV, de resto, pouco ou nada.
Não nego, aliás é evidente que ele sente São Vicente, tal como todos, não duvido que quer o melhor, porém, não se vislumbra capacidade e condições para que a continuidade seja bem-sucedida para São Vicente. Longe se foi o tempo em que quis equiparar-se ao Dr. Onésimo Silveira, invocando a “República de Santiago”, quando convinha, pois, justificava-se pelo facto da cor partidária do centro ser diferente da sua na altura. Longe se foi o tempo em que reivindicava injustiças grosseiras da centralização/colonização que continuamos a assistir e, se calhar, a agudizar-se.
Confesso ter votado nele nessa altura, porque, enquanto cidadão eleitor, o meu voto vai na linha da minha consciência em cada ato eleitoral e não é dependente de filiação ou simpatia partidária, apesar da linha ideológica que sigo estar muito clara para mim. Dizia, mas, perdeu-se em defesa do partido, sobretudo após mudança do poder central, e na manipulação do eleitorado, com festas e festivais, mas, não só. Massificação de empregos precários, obras inacabadas de dois ou três mandatos, antenas nas zonas e instituições, entre tantas outras sobre a pobreza que é alimentada e explorada. Por isso, o seu futuro ficou preso no passado. Acho que o próprio deveria encarar este momento eleitoral como o de passagem de testemunho, pois, assim não saía por uma porta muito pequena.
Ainda no tocante a manipulação, a sensação maior dos últimos tempos foi a assunção de que basta “passa sáb”, meter a “droga” das festas e festivais que o povo fica dopado para períodos eleitorais. São Vicente se resume a festas e festivais? Claro que não. São Vicente, por mais que lhe queiram mal, felizmente há muitos mais que lhe querem bem, continua a ser uma ilha com potencialidades endógenas de desenvolvimento, com valor para partilhar, com qualidade de vida, com pessoas especiais, os que vão e voltam e os que cá estão. A ilha é especial!
Pelas potencialidades, marítimas, culturais, desportivas, turísticas, económicas (pequena indústria, pesca, agricultura, serviços), pelas pessoas e seus talentos, devemos almejar mais do que temos. A ambição de melhorar, progredir e alcançar o patamar de desenvolvimento e bem-estar deve estar no nosso horizonte, com festas e festivais incluídos.
Independentemente das agruras causadas pela centralização excessiva deste país, é tempo de assumirmos como donos do nosso destino. Sem receios, sem trelas partidárias, mesmo que necessários em processos eleitorais, sem a cristalização de um eterno candidato que nada mais tem a oferecer para o futuro desta ilha.
De certa forma, não me surpreende um partido que tem pessoas de valor eternizar o candidato apenas pela procura da continuidade do poder e não querer, de facto, o bem e o progresso da ilha, apesar de ter quadros, Sanvicentinos, capazes de dar novo rumo a ilha. Se calhar, a sua escolha é propositada para manutenção e continuidade da subjugação que assistimos em nome do partido. O que se vê nesta escolha é a vontade de continuidade da subalternização de São Vicente, com laivos ditatoriais de pseudo- democratas onde a oligarquia central dita o destino de todos. Todavia, perante a mumificação do candidato eterno, cabe aos sanvicentinos dizerem da sua justiça, se querem continuar nesta “mesmice”, se já perderam ambição de uma ilha e vida melhores, se já renderam às pretensões centrais, ou se pretendem fazer valer a sua dignidade, o seu valor, os seus talentos, as suas potencialidades.
Pelo contexto global, com repercussões a nível nacional, é tempo de vermos o futuro com olhos diferentes dos do passado, do local ao nacional, é tempo de outro preparo e outra capacidade para pensar e agir. Espero que não falte lucidez e bom senso nas escolhas dos eleitores, porque dos partidos…