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Opinião

Sodade des nha terra S. Nicolau (Primeira parte)

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“Três semanas de angustia, humilhação e sofrimento que passei na ilha do Sal. Não desejo isso a ninguém. Foram três semanas de taxi vem taxi vai às agencias de viagem na esperança de encontrar um lugar e obrigada a voltar para Italia ‘sem pode ba spia nha mae‘  de 88 anos na S. Nicolau’. Na minha vida já passei por muitas dificuldades e situações dramáticas, mas nunca tinha sido submetida a um tratamento tão desumano.”

Por: Maria de Lourdes Jesus

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“Foi o meu país que me impediu, pela má organização dos transportes em Cabo Verde, de viajar à minha ilha para visitar os meus familiares e matar saudades da minha mãe querida. Foi um grande choque para mim, com feitos bastante graves na minha mente e no meu organismo. Sinto-me diferente, já não sou a mesma Maria de antes. É o que estou a viver depois que o meu país me obrigou a voltar para Itália. Era como se tivesse sido expulsa da minha terra. No voo de retorno a barriga cortava-me de dor, sem ninguém ao meu lado para me consolar. Chorava com a cara tapada para que ninguém me perguntasse o motivo do choro desesperado. Tinha vergonha de dizer a verdade.”

O que acabamos de ler é um grito de raiva e de dor de Maria Oliveira Alves, mas também de muitas outras pessoas que não conseguiram chegar à própria ilha por causa do problema de transporte em Cabo Verde. A raia, a indignação e a injustiça sofrida por Maria não são apenas uma válvula de escape, mas sobretudo uma mensagem dirigida ao Governo de Cabo Verde.

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“Queria antes de mais que o Governo soubesse que cheguei em Italia, a minha vida mudou. Já não sou a mesma pessoa. Nos primeiros dias não conseguia dormir e continua a não dormir normalmente. Sinto-me estranha. Como muito pouco porque o meu estômago não quer comida. Estou ainda revoltada e com o coração partido pela tratamento que a minha terra me reservou. Fiquei muito magoada e profundamente ofendida porque até agora nenhum elemento do Governo deu a cara para pedir, ao menos, as desculpas pelo que fizeram a mim e a outros nossos patrícios. Esta historia acontece todos os anos e ainda não tomaram providencias para por fim a esta vergonha nacional.

Queria também lembrar ao Governo e, sobretudo ao responsável de transporte que se estão bem sentados a ganhar um bom salário, é graças também ao suor dos cabo-verdianos. Aquele salário tem de ser merecido, porque não caiu do céu. É fruto de muito sacrifício, daqueles que trabalham em Cabo Verde e na imigração. Ao mesmo se o Governo dava conta do recado, ainda valia a pena.

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Uma última observação é dirigida aos funcionais das repartições, inclusive das agências de viagens. Devem ser preparados, através de formações, para apreender a relacional com o público e com educação. Por fim queria também fazer uma chamada de atenção às gentes da minha ilha. Sinto muita vergonha quando vejo que pessoas de S. Nicolau ficam sempre caladinhos e nunca tomam posição para defender os seus direitos, mesmo quando estão a ser prejudicados. Nunca vi. Nem um burro aceita ser maltratado sem protestar.”

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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