João Henrique Delgado Cruz
Hoje São Vicente tem 78.137 habitantes, 1771 barracas, segundo o último censo publicado pelo INE. O número de barracas em São Vicente é maior que a soma das barracas de todas as outras ilhas. A ilha onde nasceu a Claridade em 1936 não tem uma Universidade Pública (tem migalhas). A ilha pioneira do futebol em Cabo Verde não tem um estádio (tem migalhas).
A maioria dos quadros qualificados de São Vicente estão a trabalhar em Santiago e muitos adquirem apartamentos em Palmarejo e Cidadela.
Jovens fugindo da precariedade do trabalho agrícola em Santo Antão e São Nicolau migram para São Vicente a procura de qualificação e trabalho.
É só passear pelos bairros periféricos de Mindelo para se ter uma ideia da forma como sobrevivem numa ilha “assimilada” por uma política centralizadora e sufocante de 50 anos.
Canalona é a nossa Cidadela!
Apesar de tudo, o PIB de São Vicente, em termos absolutos, representa 18,4% do PIB total de Cabo Verde, ficando em segundo lugar após Santiago.
Dizem que é uma ilha de festa!
Acho que há muito pouca festa para tanta resiliência.
Sim, Mindelo tem poucas festas, mas com uma qualidade em sintonia com os desígnios da ilha, destacando o Carnaval, o festival da Baía das Gatas e o Fim de Ano.
Antes de alimentarem mitos, perguntem aos gestores das seis empresas sediadas em São Vicente que respondem por cerca de 97% das exportações de Cabo Verde.
Uma contribuição decisiva para contrabalançar a deficitária balança comercial de Cabo Verde.
Uma ilha que nasceu e cresceu no trabalho duro, tendo o Porto Grante como o epicentro, nunca pode ser conotada com a falta de vontade de trabalhar!
Alegria, tradição, criatividade e urbanidade não faltam!
Em linguística, assimilação é um fenómeno fonético em que um fonema transmite algumas das suas características sonoras a um fonema vizinho tornando-o igual ou com propriedades semelhantes a si próprio.
Acontece muito em Cabo Verde devido a interferências da Língua Cabo-verdiana na Língua Portuguesa. É muito usual em palavras como “leberdade”, “indipendência”…
Perdoem-me esta analogia, mas São Vicente está como o segundo “i” da palavra INDIPENDÊNCIA!
Por estas e por outras, o 5 de julho provoca-me uma sensação agridoce!
Salve!